TABACO

Cigarro matou meu avô, meus pais e amigos; e você, quer morrer também?

Tabagismo é a principal causa de morte evitável no mundo, de acordo com a OMS; são cerca de oito milhões de óbitos por ano

O cigarro.Créditos: National Science Foundation/Reprodução
Escrito en OPINIÃO el

Meu avô paterno, o “Velho Gaúcho”, morreu antes mesmo de eu nascer, vítima de enfisema pulmonar. Meu pai contava que ele dormia no hospital fazendo o gesto de tragar um cigarro, desesperado pela abstinência de nicotina.

Eu tinha apenas 25 anos quando morreu minha mãe, vitima de um AVC, certamente por conta do consumo excessivo de tabaco. Ela estava com 55 anos de idade. Foi o maior golpe da minha vida.

Tempos depois, meu pai, outro fumante contumaz, foi acometido por um infarto e teve que ser submetido a uma dolorosa cirurgia de ponte de safena. Ele sobreviveu mais 15 anos, mas veio a morrer também em consequência de um enfisema, com uma falta de ar terrível que mal o permitia subir alguns degraus de escada. Ele estava com pouco mais de 70 anos.

A seguir, foi a vez da Ila Maria, minha professora primária e uma das pessoas que mais amei na vida. Fumava compulsivamente e declarava: “é um dos maiores prazeres que tenho e ninguém tem nada a ver com isso.”

Na época, expliquei que todos tinham a ver sim. Além dos que a amavam, tinham também a ver os que não conseguiriam leito de hospital no SUS, por estarem ocupados pelos milhões de fumantes como ela. Não adiantou. Fumou até morrer de maneira dolorosa, de câncer no pulmão.

Mortes e mais mortes

São incontáveis os casos. O último foi meu amigo e parceiro, o querido músico Roberto Biela, que também fumou até também ser devastado por um câncer de pulmão, com dores terríveis e as pernas imobilizadas, em função da coluna ser pressionada pelas metástases. Até um mês antes, com 63 anos, ainda tocava e cantava como ninguém.

Quando eu era garoto, no antigo ginásio Independência, em Santos, fumar era bacana. Grandes atores fumavam, os Beatles fumavam, era um sinal de vida adulta entre outras cretinices. Eu mesmo fumei até os 37 anos, quando minha filha mais velha, a Beatriz, pediu de aniversário que eu parasse. Foi o maior esforço da minha vida, sem dúvidas, mas consegui dar este presenta a ela.

O prazer do cigarro

O prazer do cigarro (sim, ele existe) foi substituído por inúmeros outros, entre eles sentir de fato o sabor dos alimentos, pedalar quilômetros por dia, respirar profundamente – inclusive para cantar –, não empestear os lugares e o corpo com o cheiro extremamente desagradável do tabaco etc.

Dizem que o ex-fumante é o pior chato. Talvez sim. Realmente é uma chatice ficar lembrando às pessoas que o tabaco é a maior causa de mortes evitáveis do planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), provocando o óbito de cerca de oito milhões de pessoas todos os anos.

Morrer é o de menos. Todos nós vamos. Morrer sem ar, no entanto, é uma perspectiva pavorosa. E tem mais. Todas as pessoas citadas acima tinham, de um jeito ou de outro, consciência política e social. Mas morreram, ironicamente, sustentando uma das indústrias mais poderosas, poluidoras e que devastam o meio ambiente do planeta.

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