No Paraná, um dos estados da Região Sul do país, prefeitos e deputados estaduais favorecem corporações do fumo alegando defesa dos pequenos produtores. Foi o que o Joio e o Trigo apurou em uma investigação recente. O Sul é a terceira região do país que mais produz tabaco, sendo que o resultado é destinado quase que totalmente para exportação.
Exemplo disso é que na Casa Familiar Rural (CFR) haverá alteração na grade curricular. A instituição, que oferta aos adolescentes o ensino médio com curso técnico integrado, terá fortes adaptações neste último. O curso de agroecologia agora será voltado às culturas de exportação e ao monocultivo. Antes, os alunos tinham aulas que ensinavam alternativas de trabalho no campo sem o uso de agrotóxicos, autonomia de pequenas propriedades.
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O novo plano de curso tem como base os números do agronegócio, visto que representou 26,6% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, totalizando quase R$ 2 trilhões no ano de 2020. A expansão dos lucros com a fumicultura também é um ponto de destaque, sendo que a última safra produziu 171,5 mil toneladas de folha de fumo e cerca de 29 mil famílias paranaenses plantam e entregam tabaco para transnacionais. As matrículas para o novo curso passam dos 40 alunos por turma, uma procura cinco vezes maior se comparada ao curso em extinção.
Motivação
Tudo isso motiva os atores políticos, que mantêm relação com as empresas tabagistas, até mesmo na arrecadação de impostos para o município. Outra forma de fomentar o diálogo comercial é com a inserção de investimento privado na instituição. Dada a escassez de recursos públicos, a CFR aceita auxílios financeiros e investimentos dessas outras empresas. Exemplo disso é que a Japan Tobacco International financiou, em 2018, um dos cinco espaços construídos na CFR.
O problema de tudo isso é que muitas das cidades tabagistas apresentam um desenvolvimento econômico muito reduzido. Dos 399 municípios paranaenses, São João do Triunfo, por exemplo, aparece na posição 383º no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), ou seja, entre as 20 cidades com os piores indicativos de renda, educação e longevidade. Muitas famílias que têm essa atividade como principal enfrentam dificuldades por gerações e gerações. E a juventude rural do local não tem muitas alternativas a não ser continuar o trabalho já começado pela família.