Convidado por Joice Hasselmann a assumir o Ministério das Relações Exteriores durante a formação do governo Jair Bolsonaro (PL) - "e ele aceitou!" -, William Waack conquistou o protagonismo ao ser o primeiro "colonista" do Partido da Imprensa Golpista, o PIG como diria ao saudoso Paulo Henrique Amorim, a incitar diretamente um golpe contra Lula 3.
Demitido da emissora da família Marinho após um ato explícito de racismo, vazado minutos antes de iniciar o apresentação do Jornal da Globo, Waack ganhou espaço na manchete do site do Estadão para abertamente pregar a derrubada de Lula após críticas diretas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que tem divulgado teorias da conspiração sobre o governo em reuniões a portas fechadas com representantes de setores da economia.
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"William Waack: 'Sem controlar imbróglio político, Lula perde autoridade para ditar rumos do País'", diz o jornal escravocrata fazendo a conclamação em letras garrafais em seu site.
No texto, ilustrado com uma foto de um Lula cabisbaixo, transmitindo uma semiótica de que estaria rendido, Waack destila uma ironia sórdida ao comparar o presidente "como uma espécie de Luís XIV (aquele rei francês de “o Estado sou eu”) da economia brasileira".
"Depois da decisão unânime do BC em manter inalterada a taxa Selic, Lula ficou sendo “os juros sou eu”, gracejou.
No texto, Waack relembra as nuances do golpe contra Dilma Rousseff (PT) em 2016, sem citar nominalmente o nome da ex-presidenta, para ameaçar Lula.
"Mas o que acontecerá quando ele tiver nomeado o próximo presidente do BC e a maioria dos diretores que tomam decisões sobre taxa de juros? Sem que a questão fiscal surja como “resolvida” (sobretudo em termos de projeção da dívida pública) o que sobra é a manifestada intenção de interferir por decreto na taxa de juros. Da última vez em que se tentou isso as consequências foram desastrosas", diz o texto.
De forma covarde, Waack esconde que foi Dilma quem pressionou o então presidente do BC, Alexandre Tombini, pela queda de juros, após sucessivos achaques da mídia liberal, do sistema financeiro e a imposição das pautas-bombas colocadas por Eduardo Cunha no Congresso para explodir as contas públicas.
O resultado todos conhecem. Um "impeachment" por pedaladas fiscais e o recrudescimento do fascismo, que resultou na eleição de Bolsonaro em 2018 após Michel Temer (MDB) destruir direitos trabalhistas e parte das políticas sociais, em especial na saúde e educação, formatadas desde o primeiro mandato de Lula, em 2003.
Em seu texto, o jornalista cita de forma cínica as chantagens do Congresso, capitaneados pelo bolsonarista Arthur Lira (PP-AL), dizendo que "Lula ainda não encontrou a rota para superar dois conhecidos problemas que o tornam impotente. Um deles é a alteração da relação de forças entre Legislativo e Executivo. O outro é o peso da questão das contas públicas".
"É bastante óbvio que o Congresso e o presidente têm visões distintas sobre como equilibrar as contas. Não importa se os motivos são republicanos, ou apenas visam a manutenção de interesses bem organizados, o Congresso está longe de assumir o combate às distorções tributárias que sucessivos governos (e os parlamentares) instituíram de mãos dadas", emenda, sem citar que foi Bolsonaro e Paulo Guedes quem mais provocou as "distorções tributárias" ao distribuir desonerações sem contrapartidas para cooptar setores produtivos para seu governo fascista.
Em um defesa da atuação politiqueira de Campos Neto, Waack busca colocar a faca no pescoço de Lula ao incitar um golpe e mandar um recado dos endinheirados de que LUla deve escolher um sucessor, que assume a Presidência do BC em 2025, com o mesmo o perfil "autônomo" do bolsonarista, que já teria até aceitado ser ministro da Fazenda em um fictício governo Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) - postulante à "terceira via" - em 2026.
No entanto, em entrevista à CBN na última terça-feira (18), Lula avisou que o sucessor de Campos Neto na Presidência do BC "tem que ser uma figura séria, responsável e imune aos nervosismos momentâneos do 'mercado'", em recado claro à Faria Lima.
"Ele tem que dirigir a política monetária desse país levando em conta que a gente precisa controlar a inflação e crescer", disse o presidente, desagradando os rentistas do sistema financeiro e seus porta-vozes, como Waack, na mídia liberal.
Por fim, o jornalista revela o servilismo aos endinheirados ao afirmar que "a percepção de milhares de agentes econômicos, que se reflete no preço de ativos (como o dólar) é a de que os problemas de fundo não estão sendo atacados pelo sistema político em geral, e pelo presidente da República em particular".
A verdade é que Waack nunca escondeu sua cumplicidade com os endinheirados. Tampouco a sinergia com Paulo Guedes, pela defesa do neoliberalismo, e com Bolsonaro, pelas atitudes racistas e preconceituosas, especialmente com a população mais marginalizada da sociedade.