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Legado de Dallagnol na Câmara foi ser humilhado por Dino, Glauber Braga e Boulos; relembre

Ex-procurador e agora ex-deputado, cassado por unanimidade pelo TSE, deixou "marca" em sua curta passagem pela casa legislativa

O ex-deputado Deltan Dallagnol, que foi cassado pelo TSE.Créditos: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Escrito en OPINIÃO el

Deltan Dallagnol encerrou mais um ciclo. Ex-procurador da Lava Jato, que deixou seu cargo no Ministério Público Federal (MPF) em 2021 para entrar na política, o agora ex-deputado teve seu mandato parlamentar cassado por unanimidade nesta terça-feira (16) pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

Em sua curta passagem pela Câmara, que durou pouco mais de 5 meses, Dallagnol já deixou uma "marca": a de ter sido humilhado várias vezes por outros deputados ou por membros do atual governo federal. 

Confira abaixo a lista do "legado" de Dallagnol na Câmara

- Desmoralizado por Glauber Braga 

No dia 1º de março, o então deputado novato Dallagnol foi ao plenário da Câmara para fazer críticas ao afastamento do juiz Marcelo Bretas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por irregularidades na condução dos processos.

“Hoje é o dia de chorar, junto com os filhos e a esposa do juiz Marcelo Bretas”, disse o ex-procurador da mencionada operação, demonstrando solidariedade ao ex-colega de Lava Jato.

Falou o que quis e ouviu o que não quis.

O colega Glauber Braga (PSOL-RJ) lembrou, no início de sua fala, que Dallagnol, como parlamentar, também pode e deve ser questionado.

“Chegou o momento, eu queria saber, deputado, o que o senhor quis dizer, ou que o senhor articulou, quando na mensagem trocada com Sergio Moro falou que tinha que consultar os americanos. O que o senhor estava dizendo?”, perguntou Braga.

Na sequência, o deputado ainda quis saber sobre uma das revelações da Vaza Jato, que mostrou conversas dele através do aplicativo de mensagens Telegram com o ex-juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba:

“Não dá para aceitar que o senhor Dallagnol se apresente como arauto da moralidade, quando ele disse em uma mensagem ao senhor Sergio Moro: ‘isso daí temos que consultar os americanos'”, lembrou. “Agora, o senhor está em um espaço da confrontação e o senhor vai ter que ouvir, pois as  ações danosas que o senhor tocou com operação Lava Jato que teve o sentido de fato de quebrar a economia brasileira, pra deixar o nosso país de joelhos, atendendo aos interesses dos EUA, precisam ser devidamente explicados”, alertou.

Assista

- Moído por Boulos

No dia 12 de abril foi a vez de Guilherme Boulos (PSOL-SP) "moer" Dallagnol. O parlamentar do PSOL havia dito que o ex-procurador da Lava Jato e Sergio Moro foram protagonistas de um conluio quando estavam envolvidos com a operação supostamente anticorrupção que destruiu o Brasil economicamente e levou Jair Bolsonaro ao poder, momento em que o antigo integrante do MPF o questionou sobre ser realmente aquilo um “conluio”, inclusive interrompendo o psolista.

Foi então que Boulos soltou o verbo e “moeu” o ex-procurador, que ouviu tudo com cara de poucos amigos e de quem não estava gostando nada.

“Me surpreende, inclusive, que o deputado Dallagnol insista no questionamento do conluio que ocorreu entre Ministério Público e Judiciário depois da Operação Spoofing, depois do que a Vaza Jato mostrou. Até horário de coletiva de imprensa eles combinavam juntos. Era tudo. Momento da sentença, quem ia ouvir, o promotor dava conselho pro juiz, o juiz dava conselho pro promotor... Pelo amor de Deus, se isso não é conluio, chamemos os linguistas e vamos redefinir o dicionário brasileiro... O deputado Dallagnol ele tá acostumado com o procedimento que ele fazia em Curitiba, porque ele era xerife... Ele mandava, desmandava, apresentava PowerPoint, falava o que queria, depois desfalava... Aqui, não! Aqui não, deputado Dallagnol! Aqui vai ter que seguir regra! Aqui tem que seguir regimento... Não fala na hora que quiser, do jeito que quiser... Eu fico me perguntando: por que tanto medo do Tacla Duran? Qual é o problema de ouvi-lo?”, disparou Boulos para um Dallagnol assustado. 

Veja

- Detonado por Flávio Dino

Durante audiência na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara em 3 de maio, o ministro Flávio Dino, da Justiça, foi para cima de Dallagnol após ataques do ex-procurador. 

Dallagnol, talvez acostumado a apresentações por lâminas de PowerPoint, fez 12 perguntas a Dino sobre temas diversos, como o Projeto de Lei 2630/2020, o PL das Fake News; prisão em segunda instância; foro privilegiado e, o assunto preferido dele, combate à corrupção.

Ao longo da fala frenética, o deputado paranaense desfiou uma série de desinformação sobre o PL das Fake News, acusou o governo Lula de ser "amigo de ditaduras" e que não há mais enfrentamento à corrupção.

Dino foi categórico e didático e, com fala pausada e serena, desmontou uma a uma as falácias do lavajatista.

Assista a um trecho

- Boulos e a segunda humilhação a Dallagnol no mesmo dia 

No mesmo dia, pouco depois da investida de Dino, Boulos fez uma fala sobre a operação de busca e apreensão da Polícia Federal contra Jair Bolsonaro, investigado por supostamente ter participado de um esquema de fraude em certificados de vacinação, e ao final do discurso aproveitou para fazer uma "dobradinha" com o ministro da Justiça na gozação ao agora ex-parlamentar paranaense. 

"Só para concluir, ministro Flávio. Apenas te fazer um pedido. Até para evitar ressentimentos, para que o deputado Deltan não te convide aqui diariamente, desbloqueie ele no Twitter. Aí ele não vai ficar aqui todos os dias ressentido, apresentando requerimento de convocação, power points, desbloqueia que resolve isso, ministro Flávio", disparou Boulos, arrancando risadas dos presentes e do próprio Dino. 

Confira a cena

- Desafiado por advogado (e não topou o desafio) 

Vídeos que mostram o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do Grupo Prerrogativas, detonando Deltan Dallagnol em audiência na Câmara, no dia 4 de maio, viralizaram nas redes sociais. 

Carvalho participou de uma sessão Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para discutir o tema imunidade parlamentar e, em dado momento, Dallagnol resolveu investir contra Grupo Prerrogativas por sua atuação crítica à Lava Jato.

Ex-procurador da operação, o deputado subiu o tom de voz e, exaltado, afirmou que a entidade de Carvalho, que reúne os mais renomados juristas do país, "fechou os olhos para a corrupção" que, segundo ele, teria sido praticada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dizendo ainda que o Prerrogativas pratica "garantismo para os amigos e punitivismo para os inimigos". 

Marco Aurélio de Carvalho, então, deu uma resposta contundente expondo os danos e prejuízos que a Lava Jato causou ao país. O advogado ainda convidou Dallagnol para um debate sobre a operação. 

"Existe um mandamento que vossa excelência deve conhecer do Direto americano, que vossa excelência tanto prestigia, chamado risco duplo, eu não posso ser penalizado duas vezes pelo mesmo crime. Como vossa excelência usou seu tempo, que foi partilhado gentilmente com um colega, para confrontar em algo que eu não disse, então agora eu posso dizer, sem nenhum problema: a Lava Jato deixou efeitos perversos e nefastos para o país", declarou Carvalho antes de expor números sobre os prejuízos causados pela operação. 

Acompanhe o embate

- Glauber Braga ataca novamente com 8 perguntas em 6 minutos

A última humilhação imposta a Dallagnol na Câmara se deu no dia 11 de maio e foi protagonizada, mais uma vez, por Glauber Braga. Em apenas alguns minutos, Braga expôs uma série de dúvidas que pairam sobre a conduta do ex-procurador. 

Em uma das perguntas, Glauber Braga interroga Deltan: "É verdade, senhor Dallagnol, que o senhor autorizou o pagamento de diárias e passagens pra sua equipe consideradas irregulares pelo Tribunal de Contas da União e que o senhor foi condenado a devolver R$ 2,8 milhões aos cofres públicos?". 

Em outra, o deputado do PSOL quer saber se é verdade se Dallagnol usou a sua posição no MPF pra faturar com palestras.

Confira