OPINIÃO

Para prender um general - Por Normando Rodrigues

Entre o dever profissional e a vassalagem interesseira ao presidente lobisomem, o general Paulo Sergio escolheu o crime de traição à pátria

General Paulo Sérgio.Créditos: Isac Nóbrega/PR
Escrito en OPINIÃO el

Entre o dever profissional e a vassalagem interesseira ao presidente lobisomem, o general Paulo Sergio escolheu o crime de traição à pátria.
 
A escolha do general não era difícil como prega o “Estadão”. No entanto, uma vez que na AMAN só se ensina a “matar gente” (disse o  licantropo, em junho de 2017), e não a pensar, é importante esclarecer as palavras “interesseira”, “dever” e “crime”, do parágrafo inicial.

Interesseira 
 
O alinhamento interesseiro dos militares ao fascismo deixa um caminhão de indícios e provas. Selecionemos:

- sob o governo fascista o gasto anual em aposentadorias e pensões militares subiu a R$ 146,2 mil por reformado ou herdeiros, valor mais de 6 vezes superior à média do aposentado e pensionista do INSS;

- cerca de 7 mil militares ocupam cargos no governo federal e estatais, geralmente em funções para as quais não têm preparo algum; a CGU apurou que em ao menos 558 casos estão em situação ilícita, com lesão aos cofres públicos e à moralidade administrativa;

- manter o assalto é o objetivo estratégico pelo qual os milicos estão dispostos à reeleição e formação de uma sólida base parlamentar de apoio; o deputado federal Capitão Augusto (PL/SP) estima em 250 o número de militares pré-candidatos, isso só em SP.
 
Um partido armado 
 
Desmoralizados por um regime sanguinário e corrupto, os milicos voltaram aos quartéis em 1985, mas nunca deixaram de ser um “partido armado”.
 
O retorno aos fazeres profissionais, mesmo sem responsabilização dos assassinos e torturadores de uniforme, gerou ressentimentos em viúvas da Ditadura e suas vivandeiras, ressentimento que o lobisomem soube capitalizar. Mas não somente ele.
 
Sob a liderança golpista do general Villas Bôas, o ressentido partido armado voltou a flexionar seus músculos contra as instituições e foi decisivo no golpe de estado de 2016, na prisão de Lula e na formação do governo fascista em 2018. 
 
Dever 
 
A Constituição não respalda nem a existência nem a “intervenção” de um partido armado e subordina os militares aos 3 poderes políticos: o executivo, ora fascistizado; o legislativo, cujo chefe é o presidente do Senado; e o judiciário, liderado pelo ministro-presidente do STF.
 
O dever dos camuflados é descrito no artigo 142: “As Forças Armadas (...) destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
 
Os fardados, portanto, existem para obedecer ao poder civil e isso precisa ser GRITADO no mesmo volume das ameaças antidemocráticas. O ministro da defesa não está no mesmo nível hierárquico do STF, ou do TSE que agride. Ele é SUBORDINADO aos tribunais e não tem competência funcional para discutir a realização das eleições.
 
E, ainda que nada disso fosse verdadeiro, as forças armadas deveriam ser afastadas do pleito por assumida parcialidade, na medida em que hoje são evidentemente um partido político, têm lado.
 
Crime 
 
A mesma Constituição define em seu artigo 5°, inciso 44, o crime inafiançável e imprescritível da “ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático”, ação que os milicos realizam, general Paulo Sergio à frente, quando investem contra a justiça eleitoral e as urnas eletrônicas.
 
Investida antes de tudo mentirosa e farsesca, digna dos criadores dos “Protocolos dos Sábios de Sião” ou do “Plano Cohen” e que, tal como nestes dois outros artifícios, pode ter consequências gravíssimas. E é, também e essencialmente, uma investida criminosa que não pode permanecer impune.
 
Contudo, o crime é tantas vezes cometido, tão amplamente divulgado, e a leniência das instituições e atores sociais tão irresponsavelmente generosa, que ingressamos num cenário de normalização do delito, a ponto de a ameaça fardada às eleições ser mancheteada na Bloomberg e no Washington Post e permanecer assunto menor por aqui.
 
Inimigos do Brasil 
 
No domingo à noite o sociólogo Celso Rocha de Barros publicou na Folha a recordação de que há 40 anos os milicos tentaram roubar a eleição de Leonel Brizola ao governo do RJ, via contratação da corrupta Proconsult para contar os votos, em manobra que precedeu e inspira a proposta de um “teste de integridade” feita pelo general Paulo Sergio.
 
Ao general, os parlamentares que o ouviam deveriam ter apontado que os militares brasileiros não passaram no maior teste de integridade da história do Brasil, a pandemia de Covid-19, por eles enfrentada com incompetência, negacionismo e corrupção.
 
Celso bem resumiu o evento de 1982 e as falas do atual ministro da defesa: “é tudo bandidagem, é tudo roubalheira.” E a pergunta-título de seu texto, “militares são inimigos de meio Brasil?”, merece a resposta “sim!”
 
Segundo o Ibope, em 1964 os militares declararam-se inimigos de 70% do Brasil, percentual correspondente à popularidade do presidente João Goulart à época do golpe.
 
Agora, novamente inimigos da maioria, tramam roubar a eleição em favor da fome e da miséria do povo, movidos pelos ideais maiores de seus próprios bolsos.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum