Opinião

Transformação digital e competitividade – Por Ana Beatriz Prudente Alckmin

A transformação digital não é mais uma opção: é uma condição indispensável para a sobrevivência e o sucesso no mercado atual

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Entusiasta da Economia Criativa e da Agrossustentabilidade, educadora do empreendedorismo sustentável com Design Thinking e membro do Comitê Permanente de Combate à Covid 19 da Faculdade de Educação da USP. É judia e cronista
Transformação digital e competitividade – Por Ana Beatriz Prudente Alckmin

A transformação digital é um processo profundo que vai muito além do simples uso da tecnologia. Ela representa uma mudança cultural, estrutural e estratégica que exige das organizações uma nova forma de pensar, agir e se relacionar com o mercado. Nesse novo contexto, o cliente ocupa o centro das estratégias, e a capacidade de adaptação se torna o principal diferencial competitivo. A transformação digital não se resume à adoção de ferramentas tecnológicas, mas envolve uma mudança de cultura e mentalidade. Empresas nativas digitais possuem vantagens claras em velocidade, flexibilidade e inovação, enquanto as organizações tradicionais enfrentam grandes desafios para se adaptar e permanecer competitivas.

Vivemos em um cenário no qual a velocidade de resposta ao mercado define o sucesso ou o fracasso de uma empresa. A lentidão, frequentemente causada por estruturas rígidas e processos obsoletos, é penalizada por consumidores que exigem soluções imediatas, personalizadas e eficientes. O comportamento do consumidor atual reflete esse senso de urgência: ele deseja tudo na hora, sob medida e sem esperar. Se um carro por aplicativo atrasa ou um pedido de delivery demora, a insatisfação é imediata. Isso ocorre porque, com a digitalização, o consumidor ganhou poder de escolha e deixou de ser limitado por barreiras geográficas ou restrições locais, podendo migrar para outras marcas com extrema facilidade. Essa autonomia redefine o papel das empresas, que precisam operar na lógica do tempo real e priorizar experiências centradas no usuário.

No centro dessa transformação está o conceito de cultura centrada no cliente. Isso significa ouvir ativamente o consumidor, entender sua jornada, mapear suas dores e se adaptar às suas demandas com agilidade, empatia e personalização. Ferramentas como o Net Promoter Score (NPS) ajudam a medir níveis de satisfação e lealdade, sendo fundamentais para orientar melhorias contínuas. A busca pela satisfação do cliente deixou de ser um diferencial e se tornou uma condição essencial para a sustentabilidade dos negócios.

Outra característica indispensável nas organizações digitais é a cultura de experimentação e aprendizado constante. O lançamento de produtos e serviços em versões mínimas viáveis (MVPs) permite testar hipóteses, obter feedbacks rápidos e fazer ajustes ágeis nas soluções. Para gerar inovação real, o MVP não precisa ser uma solução perfeita, mas deve ser funcional o suficiente para validar ideias, possibilitar o aprendizado e evoluir com base na interação com o mercado. Dessa forma, evita-se a realização de grandes investimentos baseados em suposições equivocadas, reduzindo riscos e aumentando a eficiência no desenvolvimento de soluções.

Além disso, a transformação digital exige que as empresas estejam inseridas em ecossistemas colaborativos, interagindo com parceiros, fornecedores, startups, plataformas e outras organizações para ampliar sua capacidade de entrega e inovação. O modelo isolado e autossuficiente do passado se tornou insustentável. Muitas empresas adotam práticas como outsourcing, parcerias estratégicas e inovação aberta para complementar recursos, acelerar projetos e manter a competitividade em mercados cada vez mais dinâmicos.

A inteligência artificial (IA) desempenha um papel central nesse novo cenário. Não se trata de temer que ela substitua empregos, mas de compreender que profissionais que sabem utilizar IA substituirão aqueles que não sabem. A IA permite processar grandes volumes de dados, identificar padrões, antecipar tendências, automatizar tarefas e criar soluções mais inteligentes e eficientes. No entanto, a tecnologia não elimina a importância do fator humano. A verdadeira geração de valor ocorre na combinação entre a análise racional dos dados e a sensibilidade humana. A capacidade de interpretar informações com empatia, entender contextos subjetivos e tomar decisões baseadas em critérios éticos e emocionais continuará sendo fundamental.

Nesse sentido, o profissional do futuro e do presente precisa integrar essas duas dimensões. Deve dominar ferramentas digitais e tecnologias emergentes, manter uma postura de aprendiz constante, estar disposto a desaprender e reaprender, e ser capaz de colaborar em ambientes multidisciplinares e dinâmicos. Seu valor não estará restrito apenas às competências técnicas, mas também à capacidade analítica, crítica, interpretativa, colaborativa e, sobretudo, humana.

A cultura organizacional também precisa se transformar. Modelos baseados em comando e controle tornam-se cada vez mais obsoletos diante da complexidade, da incerteza e da velocidade do mercado contemporâneo. É essencial criar ambientes nos quais os colaboradores tenham autonomia para tomar decisões, sejam valorizados emocional e financeiramente e participem ativamente da construção dos resultados e do propósito da organização. Empresas com um propósito claro, valores bem definidos e lideranças inspiradoras são mais capazes de inovar, atrair talentos, reter pessoas e responder rapidamente às demandas do mercado.

Paralelamente, uma gestão eficiente dos dados se torna indispensável. Vivemos em um mundo de abundância digital, no qual nunca houve tanta informação disponível. Contudo, essa abundância pode gerar paralisia decisória se os dados não forem tratados, organizados e transformados em conhecimento útil e aplicável. É necessário adotar práticas de gestão orientada por dados (Data-Driven Decision Making) e utilizar ferramentas de análise, inteligência de negócios (Business Intelligence) e big data para transformar informações em ações estratégicas eficazes. O futuro pertence a quem souber combinar a precisão da análise de dados com a inteligência emocional, sensibilidade e criatividade humanas.

Nas organizações digitais, os modelos de negócio também passam por profundas transformações. As empresas deixam de ser estruturas estáticas e passam a ser vistas como produtos em constante evolução, que precisam se adaptar rapidamente para sobreviver em ambientes voláteis, incertos, complexos e ambíguos (cenário VUCA). Metodologias ágeis, inovação aberta, design thinking e modelos escaláveis tornam-se essenciais para garantir flexibilidade, velocidade e capacidade de resposta às demandas dos clientes e às mudanças do mercado.

Por fim, estamos diante de uma transição clara entre dois mundos. De um lado, as empresas da velha economia, ainda presas a modelos rígidos, estruturas hierárquicas e resistência à mudança. De outro, as organizações da nova economia, que adotam a agilidade, a colaboração, a inovação contínua e o foco no cliente como pilares estratégicos. A escolha entre permanecer no passado ou evoluir para esse novo cenário depende da disposição para aprender, se adaptar, ousar e transformar. A transformação digital, portanto, não é mais uma opção: é uma condição indispensável para a sobrevivência e o sucesso no mercado atual.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

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