Sutton Hoo: relíquia de cemitério milenar tem mistério revelado
O vaso de origem bizantina era um dos artefatos mais enigmáticos descobertos no sítio, que data dos séculos 6 e 7
Entre os séculos 6 e 7, os cemitérios medievais de Sutton Hoo, nas proximidades da cidade de Woodbridge, no leste da Inglaterra, receberam sepultamentos anglo-saxões repletos de simbolismo e relíquias funerárias pertencentes à elite guerreira local — provavelmente ligada à realeza da região da Ânglia Oriental — em uma época de transição cultural e religiosa.
O local do sítio foi descoberto em 1938 por Basil Brown, arqueólogo contratado por Edith Pretty, proprietária das terras, e revelou túmulos em montículos de terra (os barrows), entre os quais se destacava uma impressionante câmara funerária dentro de um navio de cerca de 27 metros de comprimento.
A escavação subsequente revelou itens diversos postos ali durante os enterros funerários, como capacetes ornamentados, escudos, espadas cerimoniais, acessórios de vestuário cravejados de pedras preciosas, moedas de ouro merovíngias, uma lira anglo-saxã e até uma placa de prata com origem no Império Bizantino.
O balde de Bromeswell
Entre os artefatos mais enigmáticos descobertos no sítio estava um vaso fragmentado de origem bizantina, que viria a ser conhecido como o "balde de Bromeswell" — nome derivado da vila vizinha ao local da escavação. Identificado por arqueólogos já em 1986, o objeto continha cenas finamente gravadas em relevo que retratavam figuras humanas caçando animais, além de inscrições em grego.

Créditos: National Trust
Durante quase quatro décadas, estudiosos tentaram interpretar seu uso. Inicialmente, algumas hipóteses sugeriam que se tratasse de um recipiente cerimonial, talvez usado para vinho ou água em contextos religiosos. Mas foi só em 2024 que as escavações em Sutton Hoo, conduzidas em parceria com o National Trust, o FAS Heritage e o programa de arqueologia britânico Time Team, anunciaram a descoberta da base original do vaso, que havia permanecido enterrada por quase 1.500 anos.
A redescoberta permitiu uma reconstituição quase completa do objeto, e a análise do seu interior revelou resíduos de ossos incinerados — de humanos e animais —, o que indicava que o artefato era, na verdade, uma urna funerária de origem bizantina, provavelmente adaptada aos modos de cremação dos anglo-saxões.
Fragmentos de um crânio humano foram identificados ao lado de um osso de tornozelo, que os pesquisadores acreditam pertencer a uma figura de destaque social — possivelmente até um monarca da Ânglia Oriental, apesar de a identidade permanecer desconhecida.
Agora, com sua função finalmente decifrada, o balde de Bromeswell deve ser exibido ao público em uma nova mostra em Sutton Hoo; mas sua base recém-descoberta e outras partes menores vão permanecer sob análise técnica.