O que revelam as 'ondas de lama' gigantes descobertas nas profundezas do Atlântico Sul

As ondas de lama, que medem um quilômetro de comprimento e mais de 100 metros de altura, se formaram no "ponto de aperto" da separação entre os continentes sul-americano e africano

Oceano.Créditos: Unsplash
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Sedimentos perfurados a um quilômetro de profundidade sob a superfície do oceano Atlântico Sul, cerca de 400 km a oeste de Guiné-Bissau, revelaram ondas gigantes de "lama" cuja formação data de centenas de milhares de anos atrás.

As perfurações, descritas em artigo publicado no periódico Global and Planetary Change, foram parte do Projeto de Perfuração do Mar Profundo, de 1975, e confirmam que "a superfície da Terra está dividida em blocos de placas tectônicas em constante movimento".

Mas não é a única descoberta (esta, na verdade, bastante antiga): os geólogos da Universidade Heriot-Watt, na Escócia, também encontraram evidências do último bloco a se separar entre África e América do Sul, cerca de 100 milhões de anos atrás, durante a deriva continental responsável por formar o Oceano Atlântico.

"Ao estudar mais detalhadamente esses núcleos [de perfurações no subsolo oceânico], os geólogos Débora Duarte e Uisdean Nicholson encontraram evidências de ondas enormes de lama nesta região", afirma a revista Live Science, "o último local a se separar [na deriva continental]".

As ondas de lama, que medem um quilômetro de comprimento e mais de 100 metros de altura, se formaram no "ponto de aperto" que definia o local da separação entre os continentes, "por causa da água densa e salgada que saía do portal recém-formado".

Locais do rifte continental em que ondas de lama se formaram no fundo do oceano, na costa africana, pela mistura de salinidades.
Crédito: D Duarte et al/Heriot-Watt University

Quer dizer, antes de o Atlântico ter formado a divisão entre América do Sul e África, os dois continentes eram conectados por bacias profundas, que se assemelhavam a grandes lagos, e o Atlântico Sul era formado por grandes depósitos de sal.

Foram esses depósitos de sal marinho que geraram a grande de salinidade entre os Atlânticos Norte e Sul; e, quando ambos se misturaram, "enormes correntes" de água se formaram, originando as ondas de lama hoje dispersas no fundo do oceano.

Os anos também contribuíram com a formação de ainda mais sedimentos a enterrar as "ondas de lama", diz o artigo.

Há 117 milhões de anos, além disso, foi essa abertura no Atlântico aquilo que iniciou o aquecimento do clima terrestre, diz a cientista Débora Duarte em comunicado.

Quando, ao fim do rifte entre os continentes sul-americano e africano, bacias inundaram a abertura e "salinizaram" os dois oceanos, que então se uniram em correntes, isso "tornou o sequestro de carbono menos eficiente", o que levou a um período de aquecimento entre 117 e 110 milhões de anos atrás.

O início desse aquecimento, no período Cretáceo, definiu a formação de florestas tropicais, o aumento do nível do mar e, consequentemente, a diversificação da vida na Terra. É claro que um período de resfriamento se seguiu depois.

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