SAÍDA PELA DIREITA

A estratégia da defesa de Bolsonaro: 'rifar' militares próximos do ex-presidente

Em entrevista, advogado diz que beneficiados pela trama golpista seriam integrantes de "uma junta que seria criada após a ação do Plano Punhal Verde e Amarelo"

Jair Bolsonaro, em cerimônia à época em que era presidenteCréditos: Isac Nóbrega/PR
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O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, estabeleceu as linhas gerais da estratégia de defesa do seu cliente em entrevista ao programa Estúdio i, da Globo News, realizada nesta sexta-feira (29). A ideia é dizer que o planejamento do golpe não teria como objetivo beneficiar o então ocupante do Palácio do Planalto, mas sim os próprios militares que articularam e projetaram a ruptura institucional.

"Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do Plano Punhal Verde e Amarelo, e nessa junta não estava incluído o presidente Bolsonaro", disse o advogado.

Sobre as evidências levantadas pela investigação da Polícia Federal que demonstram o conhecimento de Bolsonaro sobre a trama golpista, bueno busca minimizar o fato. "É crível que as pessoas o abordassem com todo tipo de proposta. Mas é fato que ele não aderiu. Quando acaba a eleição, ele se recolhe no Alvorada e passa a ser muito pressionado por vários apoiadores. Mas ele jamais cogitou dar golpe de Estado", argumentou Bueno.

A respeito dos depoimentos dos comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Baptista Junior, que relataram ter sido apresentada a eles uma minuta golpista, editada pelo ex-presidente, o advogado negou o teor do documento. "Eles conversaram, assim como os ministros, diversas vezes com o presidente, mas nunca foi tratado de algum movimento golpista", apontou.

Barco à deriva

Do ponto de vista político, Bolsonaro e seu círculo próximo nunca tiveram pudores em abandonar aqueles que consideraram ser um peso.

Um caso emblemático e hoje quase esquecido é o do coronel do Exército Jean Lawand Junior, um dos primeiros militares a ter que responder sobre a trama golpista na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro. Na ocasião, diferentemente de Mauro Cid, por exemplo, depôs de terno e não de farda como outros, o que já indicava um abandono não só por parte do bolsonarismo, mas pela sua própria corporação

O militar foi questionado, naquele junho de 2023, sobre mensagens trocadas com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, como “Convença o 01 a salvar esse país!”, referindo-se ao ex-presidente, e “Cid, pelo amor de Deus, o homem [Bolsonaro] tem que dar a ordem. Se a cúpula do EB [Exército Brasileiro] não está com ele, da divisão para baixo está. Assessore e dê-lhe coragem”.

Um conteúdo, principalmente analisado dentro do contexto em que foi escrito, bastante óbvio, mas Lawand alegou que, na verdade, pedia uma “palavra de apaziguamento” de Bolsonaro. Foi taxado de mentiroso por parlamentares bolsonaristas naquela sessão, sem a defesa de ninguém.

Agora, no entanto, a estratégia, que é jurídica, mas também é política, implica um risco maior. A defesa de Bolsonaro joga no colo de auxiliares importantes do ex-presidente a responsabilidade por um planejamento de golpe. 

Outra hipótese é já ter havido uma articulação para não rifar todo o entorno de Bolsonaro, mas sim algumas figuras. A citação nominal do advogado, por exemplo, ao general Mario Fernandes, é um indicativo significativo. Seria ele um bode expiatório que suportaria sua responsabilidade e a de outros envolvidos? Se sim, por vontade própria ou à revelia?

Como a maioria dos indiciados ainda não deu declarações públicas, é possível formular algumas hipóteses, mas o que se sabe é que o planejamento golpista já não é negado sequer pelo advogado do ex-presidente. E militares de alta patente serão rifados. Se cairão atirando ou calados, é a dúvida que fica no ar.