OPINIÃO

Paris 2024. O brasileiro médio sofre de coitadismo e complexo de Mutley

Olimpíada não é Pan e Brasil está fazendo um bom papel

A ansiedade por medalhas impede ver o bom trabalho do Brasil.Créditos: Divulgação COI
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O brasileiro médio acompanha esportes olímpicos -  exceção ao futebol - de maneira sazonal: Jogos Pan-americanos e Olimpíadas. Não é uma crítica. A cobertura da mídia é essencialmente voltada ao futebol. Também não é uma crítica. É o que dá audiência, é reflexo da paixão nacional.

Então, chega o Pan. E o brasileiro se comporta como o Mutley, da Corrida Maluca. "Medalha, medalha, medalha".  E ele é plenamente recompensado.

No ano seguinte, vem a Olimpíada. E lá está o nosso Brasilino em frente ao sofá. Acorda seis da manhã para ver Porto Rico x Sudão do Sul no basquete. Mas ele quer medalhas. Brasileiras.

E elas não vêm. Pelo menos na voracidade e velocidade exigidas. Não tem um rodízio gaúcho, é uma refeição frugal.

O Brasil luta pelo décimo lugar. Precisa de nove ou dez ouros. Se conseguir sete, como nas duas últimas Olimpíadas, fantástico. Se conseguir cinco, está bom. Entre os 20, primeiro da América Latina.

E há a luta para bater o recorde de 22 medalhas no total. Olho nela.

Mas, voltemos ao nosso herói. As medalhas não chegam e ele reage como. Com coitadismo e, como dizer, um certo autor racismo.

1) Nào ganhamos porque somos latinos. Não temos frieza na hora de decidir. Alô Pelé, alô Senna, alô Eder, alô Guga....

Se Rebeca Andrade em vez de 15,100 fizesse 14,800 - também excelente - no salto, o Brasil teria ficado em quarto, sem medalha. E as ginastas seriam criticadas.

2) Nossos atletas são heróis sem apoio nenhum. O governo só apoia o futebol.

Nada disso. Não existe mais. O tempo de Aída Santos, que precisou pedir sapatilha emprestada para competir, já passou. Ainda bem.

O atleta brasileiro recebe muito incentivo: Bolsa Atleta, Bolsa Pódio, é contratado pelo Exército e Marinha e recebe ótimos prêmios. Rayssa Leal ganhou 140 mil pelo bronze. Merecido.

A delegação do Brasil é enorme. É uma delegação "horizontal", com muitos esportes. Tem a contratação de treinadores estrangeiros. E tem atletas naturalizados como o cubano Leal, do vôlei.

É covardia comparar o investimento brasileiro com o de outros países da América Latina. Ou mesmo europeus. Portugal vive de naturalizar atletas de Cabo Verde e Cuba.

Sem coitadismo e sem a necessidade quase orgânica de consumir medalhas como quem consome arroz e feijão, é possível apreciar a bela Olimpíada que o Brasil está fazendo.