OPINIÃO

Paris 2024. O "crentismo" toma conta do esporte olímpico

Ao exaltar Deus e Jesus, atletas diminuem suas potencialidades e qualidades

Rayssa Leal fez pregação religiosa.Créditos: Reprodução Cazé TV
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Começou com uma postagem do Comitê Olímpico Brasileiro, antes do início dos jogos. "Time completo. Já estamos trajados para atrair muitas bençãos na abertura de Paris 2024. Vem Senhor, trazendo as dádivas das medalhas". Foi uma brincadeira com as críticas ao traje olímpico, com suas saias compridas, parecendo roupa de obreiras e não de atletas representando um país em que o sincretismo religioso é uma conquista de décadas, ameaçada agora? Por que não pedir medalhas a Ogum? Ou a Buda? Ou Nossa Senhora de Aparecida?

Brincadeira ou não, duas atletas já entraram na onda. Rayssa Leal usou a linguagem de libras para determinar que "Jesus é o caminho, a verdade e a vida". 

O crentismo ultrapassa as fronteiras do Brasil. Ao conseguir a medalha de bronze no judô, a brasileira Larissa Pimenta, que chorava de emoção, recebeu um incentivo da italiano Odette Giufridda, derrotada. "Levanta porque toda a glória você tem que dar a Ele". Larissa explicou que ela havia convertido a italiana. Disse que havia apresentado Jesus a ela, durante uma passagem da italiana pelo Brasil. E que as duas conversam bastante e tinham chegado à conclusão que tudo o que conquistassem seria toda honra e glória a Deus. Ou Jesus, não sei bem.

Eu sou uma pessoa sem religião, mas respeito todas. Não dou dinheiro a crente e não invado terreiros onde se pratica religião afro-brasileira. Meu ponto é que a religiosidade extrema dos evangélicos, serve como anulação do ser humano, de suas potencialidades e qualidades. O que adianta Rayssa Leal ter treinado por três anos, se Deus decidiu que ela não teria a prata como na última Olimpíada. Fica com o bronze e tudo bem. E o que levou Deus a decidir qual de suas servas venceria a luta pelo terceiro lugar. Será que foram pouco fervorosas e o título ficou com Hidayat Heydarov, do Azerbaijão? O Azerbaijão é predominantemente muçulmano. Deus perdeu para Alá?

O artigo 50 da Carta Olímpica afirma que "nenhum tipo de manifestação política, religiosa ou racial é permitida em quaisquer locais, instalações ou outras áreas olímpicas".