Ex-jogadores no jornalismo esportivo: uma análise da tendência atual

A presença maciça de ex-jogadores na cobertura esportiva é cúmplice de um jornalismo acrítico

Denílson deixou o Jogo Aberto.Créditos: Reprodução Twitter
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O ex-jogador Denílson, após anos de destaque no Jogo Aberto da Band, deixou a emissora para assumir um novo desafio, possivelmente na Globo.

Ele deve  apresentar um programa que substituirá o Boleiragem, anteriormente comandado pelos ex-jogadores Roger e Caio. Enquanto isso, a Band busca um substituto e cogita o ex-jogador Paulo Nunes, atualmente na Globo.

Na Record, a movimentação também é intensa. A emissora, que formou uma nova equipe para cobrir o Paulistão e o Campeonato Brasileiro, trouxe o ex-jogador Dodô, vindo da Globo. Para preencher a vaga deixada por Dodô, a Record contratou Fernando Prass, ex-jogador e até então comentarista da ESPN.

Essas mudanças no mercado esportivo destacam uma questão que divide opiniões: o papel dos ex-jogadores na mídia esportiva. A tendência não é exatamente nova; já na década de 1940, Leônidas da Silva, o "Diamante Negro", atuava como comentarista na Jovem Pan. No entanto, a escala em que isso ocorre hoje é sem precedentes. Luciano do Valle, nos anos 1980, inovou ao trazer Rivellino e Tostão para comentar jogos. Na época, houve resistência por parte das entidades representativas, gerando debates sobre equilíbrio no espaço midiático. Isso resultou, por exemplo, na prática de equilibrar a presença de ex-atletas com jornalistas experientes, como Rivellino ao lado de Juarez Soares.

Hoje, ex-jogadores ocupam funções diversificadas: comentam, apresentam e até atuam como repórteres em momentos decisivos, como finais de campeonatos. No entanto, o modelo atual desperta questionamentos sobre a perda de crítica jornalística e a prioridade ao entretenimento.

O problema não é a presença de ex-jogadores, mas a substituição da análise jornalística pela resenha. Enquanto jornalistas esportivos tradicionalmente mantêm uma distância profissional dos jogadores, ex-jogadores muitas vezes possuem vínculos pessoais que podem limitar a imparcialidade e a profundidade das análises. Como criticar um ex-companheiro? Como falar mal de um "parça"?

Em alguns casos, até jornalistas têm abandonado o rigor da profissão em prol de posturas mais performáticas, como apostas públicas feitas ao vivo em programas esportivos.

Outro dia, um jornalista mais velho desafiou um novato. "Se meu time vencer, você vem com um fraldão no próximo programa, Se o meu time perder, eu raspo a cabeça". 

Desliguei a televisão.

A reflexão que se impõe não é sobre restringir a presença de ex-jogadores, mas sobre resgatar a essência do jornalismo esportivo: a busca pela verdade, a análise crítica e a valorização da informação. Afinal, esporte é paixão, mas jornalismo é compromisso.

 

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