Jovem morre após passar mal e não ser internada; família denuncia negligência médica
Parentes de Letícia Monteiro de Souza, de 19 anos, relataram que ela chegou à UPA de Peruíbe vomitando sangue
Uma denúncia de negligência médica está sendo apurada pela prefeitura de Peruíbe, no litoral paulista. Letícia Monteiro de Souza, de 19 anos, morreu, na quinta (10), depois de permanecer mais de uma semana com sintomas de dengue.
Familiares da jovem relataram que Letícia deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município com o quadro agravado, incluindo vômitos de sangue. Porém, não foi internada e recebeu somente dipirona e paracetamol como tratamento.
Regilene Rodrigues, de 23 anos, irmã da vítima contou ao Santa Portal que a primeira ida à UPA foi no dia 3, quando Letícia foi levada pela mãe. Na ocasião, a médica receitou uma injeção, já que a jovem apresentava dor de cabeça, febre e cansaço. Entretanto, ela se negou a tomar o medicamento, alegando que não havia realizado nenhum exame e desconhecia o diagnóstico.
Ao longo dos dias, os sintomas se agravaram. Na madrugada de terça (8) para quarta-feira (9), a jovem começou a vomitar sangue, o que motivou a família a levá-la novamente à UPA.
“O médico solicitou exames de sangue e urina. Quando os resultados saíram, ele confirmou que era dengue, com plaquetas baixas. Mas, como observou manchinhas no corpo dela, disse que era a fase final da doença e que não havia motivo para preocupação”, contou Regilene.
Ainda segundo a irmã, a família questionou o médico, mostrando uma foto do primeiro vômito com sangue, com o objetivo de reforçar a gravidade do problema e pedir internação.
“O médico disse que era normal, que ela devia ter alguma estria ou veia rompida por esforço ao vomitar. Em nenhum momento considerou interná-la”, disse.
Ao retornar para casa, Letícia usou um inalador na tarde de quarta (9), pois já sentia falta de ar, além dos outros sintomas: dor de cabeça, febre, cansaço e sangramentos na urina e no vômito.
“Na quinta-feira, ela passou mal e disse à minha mãe que não ia aguentar. Foi levada novamente ao médico, vomitou sangue puro. Quando cheguei lá, recebi a notícia de que ela havia falecido”, lamentou Regilene.
“Se tivessem internado ela desde a madrugada de terça para quarta, ela estaria viva. Isso dói muito. Só quero justiça pela minha irmã. Quantos outros casos parecidos devem ter sido abafados?”, desabafou.
Ela contou, ainda, como foi a orientação médica final. “O último médico pediu para baixarmos um aplicativo, no qual devíamos colocar o peso e altura dela para calcular a quantidade de água, água de coco, isotônico, chás que ela deveria tomar. Minha tia chegou a baixar o aplicativo. Ele até fez um resumo de como funcionava. Mas, infelizmente, minha irmã perdeu a vida por negligência médica. Em nenhum momento quiseram interná-la. A gente insistiu, implorou, e nada foi feito”.

O que fiz a prefeitura
A prefeitura de Peruíbe divulgou uma nota em que alegou que, segundo o Serviço Municipal de Vigilância Epidemiológica, até o momento, não há confirmação de que a morte tenha sido provocada por dengue, pois não foi realizado o exame confirmatório.
Porém, o médico responsável pelo último atendimento foi afastado dos plantões, de forma preventiva, até o término da apuração.
Regilene confronta a versão. “Em nenhum momento eles tentaram descobrir a causa daquela febre alta. Agora, dizem que ela fez dois tipos de teste de dengue e que não deu positivo, mas todos os sintomas, os médicos e exames apontavam para dengue. E só receitaram dipirona e paracetamol”.
A Secretaria Municipal de Saúde disse, também, que a administração está monitorando o caso com rigor e instaurou procedimento administrativo para apurar os fatos.
A prefeitura espera o laudo do Serviço de Verificação de Óbito (SVO), além dos resultados dos exames laboratoriais para pesquisa de arboviroses, realizados com a amostra da jovem, encaminhada ao Instituto Adolfo Lutz.
Conforme Regilene, Letícia não tinha problemas crônicos de saúde e trabalhava como comerciante. O sonho da jovem era ingressar em uma faculdade.
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