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"Homem com H" — filme retrata Ney Matogrosso como ele realmente é: genial e subversivo

O longa-metragem dirigido por Esmir Filho e protagonizado por Jesuíta Barbosa mergulha nas facetas do icônico cantor

Escrito em Opinião el
Jornalista (USJ), mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e doutor em Ciências Socais (PUC-SP). Professor convidado do Cogeae/PUC e pesquisador do Núcleo Inanna de Pesquisas sobre Sexualidades, Feminismos, Gêneros e Diferenças (NIP-PUC-SP). É autor do livro “A construção da heternormatividade em personagens gays na televenovela” (Novas Edições Acadêmicas) e um dos autores de “O rosa, o azul e as mil cores do arco-íris: Gêneros, corpos e sexualidades na formação docente” (AnnaBlume).
"Homem com H" — filme retrata Ney Matogrosso como ele realmente é: genial e subversivo
"Homem com H" — filme retrata Ney Matogrosso como ele realmente é: genial e subversivo. Divulgação/ Paris Filmes

Em cartaz nos cinemas brasileiros, “Homem com H”, dirigido por Esmir Filho (Os Famosos e os Duendes da Morte) e protagonizado por Jesuíta Barbosa (Tatuagem), retrata o cantor Ney Matogrosso como ele realmente é: genial e subversivo.

Nos primeiros momentos do longa-metragem, acompanhamos os conflitos entre Ney e seu pai, Antônio (Rômulo Braga), que, com muita violência, quer que o filho se torne "macho". Ao atingir a maioridade, Ney vai embora de casa e serve por dois anos no serviço militar.

O conflito paterno e a questão das outras masculinidades possíveis dão o tom do filme de Esmir Filho, que a todo momento contrapõe as duas personas de Ney: o cantor que subverte a ordem das sexualidades no palco e aquele que, fora dos palcos, é reservado e tranquilo.

Em entrevista exclusiva à Fórum, Ney Matogrosso revelou que, desta vez, não foi doloroso se ver interpretado, pois Esmir Filho e Jesuíta Barbosa compreenderam que o Ney dos palcos é um personagem; fora dos holofotes, a história é outra. O longa-metragem constrói isso com maestria.

Jesuíta Barbosa: uma interpretação impactante

Além do roteiro e da direção impressionantes, outro destaque do filme é a atuação de Jesuíta Barbosa, que podemos afirmar, sem medo, ser, até o momento, sua maior entrega como ator.

O trabalho corporal apresentado por Jesuíta Barbosa é algo impactante e raro de se ver no cinema... em determinados momentos, simplesmente esquecemos que estamos diante de um ator; Ney Matogrosso parece estar ali, na tela, mas é Jesuíta que reproduz nos mínimos detalhes a construção corporal de Ney ao longo de sua carreira.

Cazuza e Ney Matogrosso

Lançado em 2004, o filme “Cazuza” cometeu uma das maiores violências já vistas em obra cinematográfica: a história de Ney e Cazuza (Jullio Reis) foi simplesmente excluída do roteiro. Detalhe: o último show de Cazuza foi dirigido por Ney.

Dessa maneira, “Homem com H” faz justiça ao retratar a linda história de amor e amizade que Ney e Cazuza mantiveram até o final da vida do jovem poeta, vítima do HIV/Aids.

Aliás, a maneira como o roteiro aborda esse momento e o impacto disso na comunidade LGBT dos anos 1980 e início dos 90 é triste, mas também profundamente poética.

Ney Matogrosso: gênio e subversivo

“Homem com H” consegue sintetizar tudo aquilo que Ney Matogrosso significou para a música e a cultura brasileira ao longo da segunda metade do século XX, mas também nos mostra que, até hoje, o cantor permanece como potência, genialidade e subversão.

Além disso, o filme de Esmir Filho também coloca em cena que Ney Matogrosso é, sem dúvida, um dos grandes artistas da música mundial, que construiu uma forma de ser e fazer música que influenciou e continuará a influenciar gerações.

No entanto, “Homem com H também” mostra que a forma de cantar de Ney Matogrosso e sua subversão da masculinidade ainda são únicas, e é por isso que ele está no hall das genialidades da arte — e assim permanecerá.

 

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