Cadê a esperança? – Por Justino Pereira
Lula, o melhor vendedor de sonhos do Brasil, ainda não achou a “pegada” certa no seu discurso
Há 70 mil anos um pequeno grupo de humanos, poucas centenas - os únicos que havia no planeta - deixou a África. A pé, passando por grandes sofrimentos, aqueles poucos de nós levaram 30 mil anos para chegar à Europa e 50 mil anos para vir até às Américas. Estão na América do Sul faz só 20 mil anos. A maioria deles morreu pelo caminho e num certo momento da jornada a raça esteve muito perto da extinção (o que decerto teria poupado o planeta de muitos aborrecimentos), tão duras eram as condições da viagem. Mas sobreviveram e hoje somam mais de 8 bilhões de pessoas.
Aqueles pioneiros da chamada Grande Migração não se atiraram a jornada fantástica porque estavam à toa, sem fazer nada. O fizeram por duas razões. Uma, material, concreta, e outra, simbólica, subjetiva: a) foram empurrados por secas, escassez de alimentos e outras calamidades, como a tradicional disputa fratricida pelos recursos escassos. E, talvez o motivo mais importante, b) porque tinham a esperança de que em algum lugar mais à frente estaria lhes esperando uma vida melhor, com menos sofrimentos e mais fartura.
Lembrei disso ao ler sobre as últimas pesquisas de avaliação do governo federal e cenários das eleições presidenciais de 2026, quando Lula convidará os brasileiros a seguirem com ele por mais um trecho da caminhada. As pesquisas apontam que, mesmo após a catástrofe do governo de Bolsonaro, o presidente precisará apresentar às pessoas necessárias pra vencer motivos muito fortes, materiais e simbólicos, para convencê-las a continuar com ele.
Voltando ao paralelo com as origens humanas, creio que o motivo material, concreto, o presidente terá com certa facilidade para apresentar à nação (com a ressalva: Donald Trump pode vir a causar turbulências maiores do que já causou na economia mundial). Todos podemos ver que a vida dos brasileiros está muito melhor do que esteve durante a aventura bolsonarista. Os números socioeconômicos mostram isso.
A melhora material na vida das pessoas, porém, não é bastante, nem suficiente, para garantir a vitória. O ser humano é um sonhador e, além de um presente melhor que o passado imediato, sempre quer ter a esperança de um futuro melhor. É por isso que se diz que o eleitor só é grato pelo que imagina que virá. O que ele já conquistou, conquistado está.
Mora aí a grande fraqueza da esquerda e do presidente para 2026. Lula, o melhor vendedor de sonhos do Brasil, ainda não achou a “pegada” certa no seu discurso. Muitas pessoas, mesmo eleitores renitentes seus, ainda não conseguem ver o sonho, a esperança, que lhes eram tão claros nas disputas de 2002, 2006 e mesmo em 2010, tendo Dilma como continuadora do lulismo.
Essas pessoas, somadas às do centro político eleitoral, sempre pragmático, formam a maioria sensata do eleitorado. Elas, como este, ainda precisam ser conquistadas, se emocionar com a visão de um futuro melhor.
Isso ainda está longe de acontecer e é a tarefa principal dos próximos doze meses para a esquerda e o governo: fazer renascer a esperança necessária para reeleger Lula no ano que vem.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.