Opinião

Cadê a esperança? – Por Justino Pereira

Lula, o melhor vendedor de sonhos do Brasil, ainda não achou a “pegada” certa no seu discurso

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Jornalista e profissional de marketing político, tema sobre o qual fez mestrado. Foi coordenador de Publicidade da Prefeitura de São Paulo, secretário de Comunicação de Guarulhos e um dos hosts do podcast “Consultório Eleitoral do Dr. Campanha,” no ar por dois anos na Rádio Brasil Atual FM (os episódios apresentados podem ser ouvidos no Spotify). Autor do capítulo “Cinco coisas que você precisa saber para mobilizar seus apoiadores, desde a pré-campanha até o Dia D” do manual “Marketing Político no Brasil” editado pelo Clube Associativo dos Profissionais do Marketing Político (CAMP), principal associação do gênero do país. Foi também consultor associado da De Vengoechea & Associates, empresa norte-americana voltada ao mercado eleitoral latino.
Cadê a esperança? – Por Justino Pereira
Reprodução de Vídeo/YouTube Agência Gov

Há 70 mil anos um pequeno grupo de humanos, poucas centenas - os únicos que havia no planeta - deixou a África. A pé, passando por grandes sofrimentos, aqueles poucos de nós levaram 30 mil anos para chegar à Europa e 50 mil anos para vir até às Américas. Estão na América do Sul faz só 20 mil anos. A maioria deles morreu pelo caminho e num certo momento da jornada a raça esteve muito perto da extinção (o que decerto teria poupado o planeta de muitos aborrecimentos), tão duras eram as condições da viagem. Mas sobreviveram e hoje somam mais de 8 bilhões de pessoas.

Aqueles pioneiros da chamada Grande Migração não se atiraram a jornada fantástica porque estavam à toa, sem fazer nada. O fizeram por duas razões. Uma, material, concreta, e outra, simbólica, subjetiva: a) foram empurrados por secas, escassez de alimentos e outras calamidades, como a tradicional disputa fratricida pelos recursos escassos. E, talvez o motivo mais importante, b) porque tinham a esperança de que em algum lugar mais à frente estaria lhes esperando uma vida melhor, com menos sofrimentos e mais fartura.

Lembrei disso ao ler sobre as últimas pesquisas de avaliação do governo federal e cenários das eleições presidenciais de 2026, quando Lula convidará os brasileiros a seguirem com ele por mais um trecho da caminhada. As pesquisas apontam que, mesmo após a catástrofe do governo de Bolsonaro, o presidente precisará apresentar às pessoas necessárias pra vencer motivos muito fortes, materiais e simbólicos, para convencê-las a continuar com ele.

Voltando ao paralelo com as origens humanas, creio que o motivo material, concreto, o presidente terá com certa facilidade para apresentar à nação (com a ressalva: Donald Trump pode vir a causar turbulências maiores do que já causou na economia mundial). Todos podemos ver que a vida dos brasileiros está muito melhor do que esteve durante a aventura bolsonarista. Os números socioeconômicos mostram isso.

A melhora material na vida das pessoas, porém, não é bastante, nem suficiente, para garantir a vitória. O ser humano é um sonhador e, além de um presente melhor que o passado imediato, sempre quer ter a esperança de um futuro melhor. É por isso que se diz que o eleitor só é grato pelo que imagina que virá. O que ele já conquistou, conquistado está.

Mora aí a grande fraqueza da esquerda e do presidente para 2026. Lula, o melhor vendedor de sonhos do Brasil, ainda não achou a “pegada” certa no seu discurso. Muitas pessoas, mesmo eleitores renitentes seus, ainda não conseguem ver o sonho, a esperança, que lhes eram tão claros nas disputas de 2002, 2006 e mesmo em 2010, tendo Dilma como continuadora do lulismo.

Essas pessoas, somadas às do centro político eleitoral, sempre pragmático, formam a maioria sensata do eleitorado. Elas, como este, ainda precisam ser conquistadas, se emocionar com a visão de um futuro melhor.

Isso ainda está longe de acontecer e é a tarefa principal dos próximos doze meses para a esquerda e o governo: fazer renascer a esperança necessária para reeleger Lula no ano que vem.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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