Nas duas últimas colunas (aqui e aqui) eu tratei de um tema essencial para a esquerda, caso ela pretenda ser relevante no cenário político e cultural do país pelos próximos anos e décadas: por que a direita mobiliza hoje em dia muito mais do que a esquerda?
Os motivos que apontei para isso estar acontecendo foram, em resumo:
Te podría interesar
1) a direita de hoje milita como os nossos pais militavam nos anos de 1980;
2): a extrema direita não trabalha a mil por hora apenas em tempos de campanha eleitoral, ela está o tempo todo ativa;
Te podría interesar
3) A direita tem um discurso vibrante e está apaixonada por suas ideias;
4) A direita montou um gigantesco apparatus para disputar a sociedade;
5) A direita usa “novos” métodos de localização, captação e ativação de apoiadores já testados e comprovadamente eficientes nas sociedades de massas.
Chamei a essas questões de “operacionais”, funcionais, porque acredito que a esquerda tem condições de resolvê-las, ou de melhorar a sua posição frente a elas, a tempo da disputa de 2026.
Para a minha surpresa – e mostrando a atualidade do tema - vários leitores da coluna opinaram sobre o assunto. Entre eles, gente da mídia, da academia, deputado federal, militante “da base”, advogado, sindicalista. Sou grato a todos e concordando ou não com eles, considerarei as suas reflexões nas próximas colunas. A seguir, faço uma síntese de alguns desses comentários.
“Este é um debate constante entre vários companheiros do PT, inclusive colegas da bancada federal. Sabemos que os desafios são grandes para o governo e para o PT. Temos a responsabilidade de dar sustentação ao presidente Lula mas também sabemos que o partido tem um compromisso que vai além desse mandato e que implica em enfrentar de forma eficiente a direita, disputar com ela a sociedade” - Alencar Santana, deputado federal por SP e Vice-líder do Governo Lula.
“Gostei muito do artigo. Faço apenas uma sugestão: considerar Willem Reich, autor do livro A Sociedade de Massas e o Fascismo e Hannah Arendt e seu livro Origens do Totalitarismo.” - Luiz Gonzaga Belluzzo – economista e acadêmico.
“[...] O que me intriga é que sabemos disso [o que precisa ser feito para mobilizar] mas não fazemos nada ...Acredito que muitos, e pode ser em graus diferentes, irão concordar com você ... Por que conseguimos enxergar claramente [o problema], e nada fazemos pra voltar a conversar com a base? Por que ficamos imobilizados? - Márcia Amélia Barbosa, militante de base do PT.
“Essa questão da “propaganda” na política sempre foi ponto central, a famosa agitprop (1. agitação e propaganda políticas, normalmente expressas pela arte, a literatura, a música etc. 2. trabalho(s) artístico(s) enquanto veículo(s) dessa propaganda). O próprio Hitler falava que era fundamental que os nazistas aprendessem com a agitação e mobilização realizada pelos comunistas da época.” - Isane Pereira, sindicalista e doutor em sociologia.
“Seus textos são úteis e necessários no processo de reorganização da esquerda brasileira, uma vez que muitos de nós cometemos o erro de subestimar o potencial e a capacidade de mobilização popular e o crescimento da extrema-direita mundial.” - Nelson Novais – sindicalista aposentado.
“[...] Concordo muito com várias coisas que você colocou. E ainda acho que hoje temos uma esquerda que não entendeu direito como está o seu espaço [na comunicação com os cidadãos]. - Daniela C. - publicitária.
Houve também quem considerou a manifestação de bolsonaristas e afins algo normal, que faz parte da democracia:
“São centenas de milhares no Brasil, metade dos eleitores, que de uma forma ou de outra (ridículos ou não, gado ou não), querem se manifestar, aparecem nas mídias sociais de sua forma e jeito e estão sendo desprezados pelas análises. Na sua maioria não são pobres. [Eles] São frutos da sociedade que os criou culturalmente com a história da meritocracia, melhor da turma, melhor no emprego, melhor patrão, melhor aluno, melhor filho, melhor pai e mãe. Eles são frutos dessa tendência que foram criados, ou seja, os outros são apenas os outros.” - Guilherme Santos - advogado.
Como este assunto é grande e complexo, a coluna continua aberta a sugestões e comentários sobre por que a direita mobiliza hoje muito mais do que a esquerda.
Até a próxima coluna.