OPINIÃO

Por que a direita mobiliza hoje muito mais do que a esquerda? (Parte 2)

Já vimos que a direita de hoje milita como os nossos pais militavam nos anos de 1980. Veja outras razões

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Na coluna passada comecei a questionar por que a direita de hoje mobiliza as pessoas muito mais e melhor do que a esquerda. Apontei dois primeiros motivos que chamei de “operacionais;” ou seja, referentes a problemas que estão no poder da própria esquerda, caso queira, reverter, consertar. (o motivo número 1 foi: a direita de hoje milita como os nossos pais militavam nos anos de 1980; e o número 2 foi: a extrema direita não trabalha a mil por hora  apenas em tempos de campanha eleitoral, ela está o tempo todo ativa). Vamos agora a mais três motivos.

Motivo número 3: A direita tem um discurso vibrante e está apaixonada por suas ideias nefastas

Numa entrevista dada à Folha de S. Paulo no distante ano de 2004, Chico Buarque, avaliando o primeiro mandato de Lula que recém começara, disse na ocasião com uma ponta de tristeza na voz que "Lula trouxe o acúmulo de esperanças de muito tempo para um tempo em que elas não podem mais se realizar." Às vezes penso que é assim que muitos dos militantes de esquerda com quem convivo – talvez a maioria deles - se sentem. Talvez, pensam eles, seja muito difícil mudar o mundo, e então se contentam com micro realizações, com pequenas conquistas que parecem pouco ou nada mudar, de fato. Já os militantes da direita radical, os Kim Patroca Kataguiri da vida, sempre que os vejo se manifestar me parecem bastante entusiasmados com as chances de tirar do papel a sua visão de mundo, a distopia final que vai resolver todos os problemas. E esse entusiasmo dos líderes contamina o “gado”, que está sempre gritando alto nas redes digitais. Eles parecem acreditar mais em poder mudar o mundo do que o povo da esquerda, que me parece estar conformado, um tanto cansado de suas próprias e generosas ideias.

Motivo número 4: A direita montou um gigantesco apparatus para disputar a sociedade

Apparatus é uma palavra que significa aparato, instrumento, sistema, dispositivo, estrutura, máquina, mecanismo. Pois foi isso que a direita montou para disputar corações e mentes.  Não pense que seus ativistas contam apenas com a força de vontade e o trabalho duro, não. Afinal, custa muito caro e é trabalhoso fazer política face to face na escala que eles fazem. Esses novos-ricos da direita, digamos assim, passaram os últimos 25 ou 30 anos construindo uma ampla “sociedade paralela,” composta por dezenas de milhares de espaços religiosos dedicados ao seu projeto político, por dezenas de milhares de caça-níqueis motivacionais na internet, por milhares de clubes de tiro – hoje em quase toda cidade brasileira tem um deles: em 2018 eram apenas 163 clubes, mas em 2023 já chegavam a 2.308. São locais físicos ou digitais onde os seus membros e aquelas pessoas que eles pretendem fisgar podem se encontrar, conviver, levantar fundos e lavar cérebros. Não vejo um apparatus da esquerda. Existirá?

Antes do quinto e último motivo da lista, um comercial. O meu romance “História da Terceira Guerra Mundial”, que dialoga com os 80 anos do fim da Segunda Grande Guerra, está à venda na Amazon/Kindle. Nele, eu imaginei como seria um terceiro conflito global. Para lê-lo, clique aqui: encurtador.com.br/tiv28 .

Motivo número 5: A direita usa métodos de localização, captação e ativação de apoiadores testados e eficientes

Existem no mercado de venda de produtos e serviços métodos e ferramentas muito testados, eficientes, usados para localizar, fidelizar e ativar as pessoas mais propensas a comprar esse ou aquele produto. Ou a agir a favor dessa ou daquela causa, ideia, projeto social ou partido. A direita radical alt-right, já faz tempo, descobriu essa obviedade. E usa a seu favor esse ferramental do marketing. Por que o mesmo não acontece com os líderes e seguidores da esquerda? Por que, salvo as honrosas exceções, o lado esquerdo do espectro político só busca essas ferramentas episodicamente, e em geral tarde demais, em cima da hora (correm desesperados a elas nos períodos eleitorais, que é quando um “funil do voto”, por exemplo, menos funciona)?

Como trabalhar para pôr fim a esses problemas “operacionais”?

Até a próxima coluna.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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