CAMPO IDEOLÓGICO

Por que a direita engaja e mobiliza hoje muito mais do que a esquerda? (Parte 1)

Afinal, o que está acontecendo com os corações e mentes de uma fatia tão grande de brasileiros e brasileiras?

Créditos: Juca Varella/Agência Brasil
Escrito en OPINIÃO el

É fácil ver, pois está em todo lugar. Na divisa entre São Paulo e Minas Gerais quase todas as gigantescas plantações de soja, milho ou café tem espetada ao lado de suas cercas uma gigantesca bandeira do Brasil, esse símbolo maior da direita alt-right na sua vertente bolsonarista. Nas academias de fitness da Grande São Paulo é fácil encontrar jovens da classe média se exercitando enquanto vestem camisas da Seleção Brasileira. E no interior pobre do Nordeste casas humildes e sem acabamento externo ainda ostentam bandeiras do Brasil esfarrapadas, dos tempos de glória do Capitão.

Muitos “M”, poucas estrelas vermelhas

Na sua versão pós-bolsonarista a extrema direita obteve nas eleições para prefeito de São Paulo, em 2024, uma votação estridente e seu representante quase chegou ao segundo turno, catapultado por eleitores que, nos Jardins, no Tatuapé ou em Cidade Tiradentes, foram às urnas usando bonés com o “M”.

Mais impressionante ainda, essa propaganda eleitoral não foi um brinde dado pelo candidato Pablo Marçal (PRTB). Seus apoiadores as compraram de camelôs nas ruas da capital paulista ou em sites que os comercializavam a merchandising a preço salgado, cerca de R$ 100.

Em contraste, eram poucos os bonés com a estrela do PT, o sol do PSOL ou a foice e o martelo do PC do B vistos nas ruas naquele dia de primeiro turno, de festa da democracia, como se dizia nos anos 1980.

Cinco motivos de por que a direita prospera e a esquerda murcha

Afinal, o que está acontecendo com os corações e mentes de uma fatia tão grande de brasileiros e brasileiras? Formulando melhor a questão para os fins de nossa coluna: o que tem e fazem os candidatos e partidos que pregam abertamente o ódio, o egoísmo e a vingança social, para serem tão bem-sucedidos nas ruas, nas redes e, por consequência, nas eleições pelo mundo afora (o mais vistoso deles tomou posse outra vez na presidência dos EUA, abrindo uma era de aguda incerteza no planeta)?

Antes de entrar nesses cinco motivos, me permita fazer uma rápida propaganda do meu romance “História da Terceira Guerra Mundial”, que narra a trajetória de três jovens (A Hacker, Chico e Elon Mars) e suas peripécias durante a Terceira Guerra Mundial, num futuro próximo. Trata-se de uma ficção político-científica que se passa num mundo onde a guerra é lutada também por clones, drones e bots e Marte e Lua já estão colonizados. Os EUA são governados pelo clone D-Trump_50 (não vou dar mais spoilers) e o Brasil não é mais o mesmo. “História da Terceira Guerra Mundial” está à venda na Amazon/Kindle, basta clicar aqui. Voltemos ao nosso assunto.

Não faltam cientistas políticos e analistas sociais explicando os motivos do sucesso da onda conservadora alt-right. As explicações vão – entre tantas outras - desde fatores socioeconômicos (a grande parcela pobre e jovem da população mundial que foi abandonada pelo sistema, ressentida e sem futuro, resolveu botar fogo no circo), passando por tentativas de ajustes de conta com o passado (conservadores norte-americanos que ainda não engoliram a derrota do Sul na guerra civil de 1865 e o fim da escravidão). Fala-se também do ressentimento dos bilionários (Paul Krugman em seu último artigo para o New York Times). Por fim se aponta também, é claro, os efeitos devastadores das fake news inundando redes as cabeças e corações dos humanos (o caso recente das fake News do Pix, profissionalmente trabalhadas, é apenas mais uma demonstração dessa força destruidora).

Esses motivos são todos, digamos, estruturais. Vou apontar a seguir alguns daqueles que eu chamo de motivos funcionais, operacionais (e por isso sanáveis, que ajudam a explicar a melhor performance que os candidatos de direita vêm obtendo nas eleições.

Motivo número 1:  a direita de hoje milita como os nossos pais

Quem não viveu a época (final dos anos 1970 e início dos anos 1980) com certeza ouviu falar do tempo em que barbudinhos e moças da esquerda passavam suas noites em reuniões preparatórias e seus fins de semana indo de casa em casa na periferia das grandes cidades se aproximando do povo e divulgando o seu credo político, que era baseado em (para simplificar) Igualdade (luta por emprego e contra a carestia, Educação e Saúde para todos), Fraternidade (chamavam-se de “companheiros” ou “camaradas”) e Liberdade (pelo fim da Ditadura Militar e voto direto para Presidente). Hoje esse contato direto – seja nas ruas ou nas redes sociais – entre a esquerda e o povo secou e se restringe, quase que só, aos períodos eleitorais ou a contatos protocolares entre assessores parlamentares e pessoas demandantes de coisas bem concretas (asfalto, esgoto etc.).

A direita porém está muito ativa na divulgação do seu credo, sete dias por semana, 24 horas por dia. Seus militantes conversam com a população face a face (nos cultos evangélicos, por exemplo, mas não só) e nas redes sociais, praticando os seus “Funis do Voto” (a versão política dos “Funis de Venda” do marketing comercial).

Motivo número 2: a direita alt-right não trabalha só em tempos de campanha eleitoral

Os militantes da direita alt-right estão todos os dias, com chuva ou com sol, nas ruas e nas redes, falando a verdade ou (boa parte das vezes) mentindo, tentando convencer a você, cidadão ou cidadã comum, não viciado em política, que Lula é ladrão, que o PT é comunista, que o Pix será taxado, que os gays vão dominar seus filhos, que... E por aí vai. Eles não param, não dão trégua. E aos poucos estão conseguindo minar muitas das vontades mais resistentes (foi assim durante a ascensão nazista na Alemanha dos anos 1920-1930).

Você, porém, cidadão “do povo”, provavelmente só será abordado por gente da esquerda nas campanhas eleitorais a cada dois anos, ou em tempos de grande comoção política (como quando prenderam Lula, em 7 de abril de 2018). Do contrário, esqueça. A menos que você faça parte de um grupo de WhatsApp frequentado por militantes da esquerda, você passará meses, talvez anos, sem ver um vermelhinho pela frente.

Continua na próxima coluna a lista de cinco motivos de por que a direita prospera e a esquerda murcha.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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