Bastante nervoso, o advogado Celso Villardi, que faz a sustentação da defesa de Jair Bolsonaro (PL) no julgamento da quadrilha golpista no Supremo Tribunal Federal (STF), se enrolou e expôs um áudio retirado do WhatsApp do tenente coronel Mauro Cid em que implica o ex-ministro e deputado federal general Eduardo Pazuello (PL-RJ), o "véio da Havan" Luciano Hang e "empresários".
Em meio às 25 perguntas feitas a Cid, Villardi pediu autorização a Moraes para colocar "um áudio aqui do telefone dele que está nos autos".
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Na conversa com um general -- provavelmente o comandante do Exército, Freire Gomes --, Cid sinaliza que Bolsonaro parecia desistir da tentativa de golpe, mas era incitado por aliados a levar a intentona adiante, citando o "artigo 142" da Constituição, que no delírio bolsonarista daria aval para uma intervenção militar no país.
"Ô, general, bom dia. Ontem o presidente, eu senti que ele já praticamente, acho que desistiu de qualquer coisa, de qualquer ação mais contundente", diz Cid, relatando o medo de Bolsonaro de o governo Lula "botar os servidores tudo contra ele".
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"Ontem o general Pazuello esteve com ele dando sugestões, ideias de como ele podia, de alguma forma, tocar o artigo 142, alguma coisa assim", segue Cid no áudio, dizendo que Bolsonaro "não deu bola para que o general Pazuello estava levando para ele".
Cid conta ainda que Bolsonaro teria deixado o então ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, "mais tranquilo" sobre o prazo para entregar o relatório em que ele pressionava para constar fraude nas urnas eletrônicas, mesmo com o documento dizendo o contrário.
O militar também cita conversas com o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, sobre o "outro relatório", encomendado pela legenda ao Instituto Voto Livre (IVL), organização não governamental que deu subsídios para que o partido entrasse com ação contestando a eleição junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em seguida, fala de conversas com empresários, entre eles Luciano Hang; "o dono do Coco Bambu", Afrânio Barreira e Joseph Meyer Nigri, da Tecnisa, que chegaram a ser investigados por financiar os atos golpistas. Ele também faz referência à Centauro, varejista de materiais esportivos, de propriedade de Sebastião Bonfim.
"Na conversa que ele teve depois com os empresários, estava o Hang, estava aquele cara da Centauro, estava o Meyer Nigri, o cara do Coco Bambu também. O que falou, que o governo Lula vai cair de podre. Pessoal ficou um pouco de moral baixa porque os empresários estavam querendo pressionar o presidente, pressionar o MD [Ministério da Defesa] a fazer um relatório contundente, duro, para virar jogo, aqueles negócios", diz sobre a pressão dos empresários para a intentona golpista.
Diante do tropeço do advogado de Bolsonaro, Moraes dá uma indireta, perguntando a Villardi se ele iria "pedir aditamento da denúncia", sinalizando que poderia pedir o indiciamento dos nomes citados.
"Não", responde Villardi, meio sem graça. "Aditamento da denúncia em relação aos empresários e ao Pazuello?", rebate o ministro.
"Não, não, presidente, é que... Não, fiquei na dúvida. É que, na verdade, os empresários que foram aqui mencionados, eu não vi entrada no Palácio, por isso eu perguntei. E ele está falando de uma reunião. Então, eu queria saber se ele estava mentindo para contar uma história para um interlocutor, se é verdade", diz Villardi tentando sair pela tangente.
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Afrânio Barreira, "dono do Coco Bambu", reage e nega qualquer envolvimento
O empresário Afrânio Barreira Filho, proprietário do Coco Bambu, encaminhou uma resposta à Fórum, por meio de seus advogados, negando qualquer envolvimento em fatos relacionados à política, incluindo aí episódios relacionados à ação penal pela tentativa de golpe de Estado que está tramitando no Supremo Tribunal Federal.
"O Sr. Afrânio Barreira nega qualquer envolvimento em atos de natureza política, sejam públicos ou privados, durante ou após a campanha presidencial de 2022. Ressalta, ainda, que não conhece, nunca esteve com, nem jamais manteve qualquer contato com o Sr. Mauro Cid. O áudio apresentado na sessão de julgamento não menciona, em nenhum momento, o nome do Sr. Afrânio. Ademais, conforme foi informado na própria sessão de julgamento realizada ontem, a suposta reunião teria ocorrido em 8 de novembro de 2022, data em que o Sr. Afrânio encontrava-se fora do Brasil. Tal ausência do território nacional é comprovada pela apresentação, anexa a esta nota, do carimbo de entrada no passaporte do Sr. Afrânio, datado de 05/11/2022 no Reino Unido, bem como por comprovantes de hospedagem e registros fotográficos de seu acervo pessoal. Esses documentos demonstram, de forma clara e incontestável, que, durante todo o período mencionado no áudio, ele não se encontrava no Brasil, o que torna impossível sua participação em qualquer reunião em Brasília", diz um trecho da longa nota encaminha à redação da Fórum.