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Osso duro de roer: coautor de "Elite da Tropa" é exonerado após operação no Catete

Erro enorme do coronel resultou na morte de um office boy e outras seis pessoas baleadas durante uma festa junina

O jovem Herus, morto na operação.Créditos: Arquivo Pessoal
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Conhecido por ser um dos autores do livro Elite da Tropa, que inspirou o premiado filme Tropa de Elite, o coronel André Luiz de Souza Batista foi exonerado neste domingo (8) do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar do Rio de Janeiro. A decisão do governador Cláudio Castro ocorre após uma operação policial durante uma festa junina no Morro Santo Amaro, no Catete, Zona Sul da capital, que terminou com a morte do office boy Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, durante a madrugada de sábado.

A ação também resultou na saída do coronel Aristheu Lopes, então comandante do Bope (Batalhão de Operações Especiais), que atuou ao lado de Batista na operação.

Além da trajetória na polícia, Batista se destacou nacionalmente no universo literário ao coescrever, ao lado do ex-capitão Rodrigo Pimentel e do antropólogo Luiz Eduardo Soares, o livro Elite da Tropa. Lançado em 2006, a obra reúne relatos inspirados em casos reais vividos por integrantes do Bope, revelando os bastidores da atuação policial nas áreas mais violentas do Rio de Janeiro. No ano seguinte, o livro daria origem ao filme Tropa de Elite, dirigido por José Padilha, que se tornaria um marco na representação da segurança pública brasileira no cinema.

Carreira sólida

Com formação em Direito pela PUC-Rio e mestrado em Gestão Empresarial pela FGV, Batista construiu uma carreira sólida na Polícia Militar. Já comandou o 9º BPM (Rocha Miranda), o Batalhão de Polícia de Choque e possui especialização em negociação com reféns, combate em áreas conflagradas e gerenciamento de crises — habilidades adquiridas durante o curso de operações especiais do Bope. Ele também atuou como um dos negociadores no sequestro do ônibus 174, em 2000, episódio emblemático que revelou falhas estruturais na segurança e mobilizou a opinião pública.

Nos últimos anos, além de sua atuação operacional, o coronel vinha se dedicando à produção de conhecimento e à realização de palestras sobre segurança, com base em sua experiência dentro da corporação.

Rodrigo Pimentel, hoje comentarista de segurança pública, lamentou a exoneração do ex-colega de batalhão:

— André é um profissional extremamente comprometido. Sempre teve muito cuidado com as operações. Não sei os detalhes do que ocorreu, mas considero um grande equívoco — afirmou.

A exoneração reacende discussões sobre a conduta policial em áreas urbanas e o uso da força em operações nas comunidades. Ao mesmo tempo, coloca novamente sob os holofotes uma das figuras mais conhecidas da segurança pública no Rio — cuja atuação ultrapassou os limites da corporação e alcançou o debate cultural e político do país.

Relembre o caso

Uma operação do Bope terminou em tragédia na madrugada deste sábado (7) no morro Santo Amaro, na Zona Sul do Rio do Janeiro.

Durante a invasão policial, o jovem Herus Guimarães Mendes da Conceição, de 24 anos, foi alvejado e outras cinco pessoas foram feridas, incluindo um adolescente.

Herus, que trabalhava como office boy e era pai de uma criança de dois anos, foi atingido no abdômen e não resistiu após ser levado ao Hospital Glória D’Or, na Glória. Ele chegou a passar por cirurgia, mas morreu em decorrência dos ferimentos.

A comunidade do Catete vivia uma noite festiva com apresentações de quadrilhas juninas quando o Bope entrou na região. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento dos disparos e a correria dos moradores, entre eles crianças, jovens e idosos.

“A gente só quer que alguém nos procure e diga quem autorizou aquilo. Secretário de Segurança, chefe do Bope, que alguém nos procure e explique. Quem autorizou? A vida do meu filho não volta, mas a gente precisa saber”, desabafou Fernando Guimarães, pai de Herus.

Com informações do Globo

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