Imagine um futuro tão absurdo que faria até mesmo os autores de ficção científica mais ousados jogarem seus teclados ao chão em desespero. Sim, estou falando de um mundo onde a Ku Klux Klan ascende ao poder global.
E o pior é que faz sentido. Em tempos como os nossos, em que governos totalitários brotam pelo mundo como ervas daninhas em solo fértil de fake news e populismo, essa hipótese não parece tão distante quanto gostaríamos.
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Se já vimos autocratas chegarem ao poder – pelo voto – com o carisma de um rinoceronte, por que não uma organização cujo apelo reside na mitologia supremacista? A linha entre distopia e manchete de jornal nunca foi tão tênue – e os brutamontes estão trabalhando em regime de horas extras.
Sinistro cenário
Exploremos, pois, esse sinistro cenário.
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Primeiramente, as Nações Unidas teriam de mudar de nome. Algo mais condizente com a nova gestão – talvez “Clube dos Amigos de Certa Cor” – substituiria aquele logotipo de oliveiras pela imagem de uma tocha flamejante.
A Nova Ordem Mundial traria uma série de reformas ousadas, a começar pelo calendário. O “Dia de Martin Luther King Jr.”, nos Estados Unidos, seria reconfigurado para o “Dia Nacional do Já Falamos Disso Demais”.
No Brasil, o Dia da Consciência Negra seria abreviado para “DND” (Dia de Nada a Declarar), comemorado com encenações patrióticas em Brasília.
A economia global também passaria por um renascimento sem precedentes, especialmente no setor têxtil. O mercado de lençóis brancos dispararia. O problema da hierarquia ficaria, no entanto, um pouco mais complicado – pois, quando todo mundo usa a mesma fantasia, fica difícil saber quem é o chefe e quem é o estagiário.
Quanto à educação, a proposta seria radical, uma reestruturação completa. Todos os níveis, do berçário à pós-graduação, usariam apenas um livro: o manual ilustrado da Idade Média.
A ciência, esse pequeno detalhe irritante, seria substituída por uma nova disciplina chamada “Verdade Patriótica”, na qual Copérnico seria retratado como um agitador esquerdista e Charles Darwin como um mercador de teorias malucas.
Cultura pop. Esqueça essa coisa de diversidade nos filmes de Hollywood. Num mundo Klan, toda a produção cinematográfica seria dominada por épicos históricos repletos de heróis corajosos e, claro, todos teriam a mesma aparência e os mesmos sobrenomes. Os vilões, nem é preciso dizer: qualquer um que não preenchesse os requisitos do tom de pele adequado seria escalado para esses papéis.
Mas, antes que percamos a cabeça nessa fantasia catastrófica, resta perguntar: como seria a resistência à nova ordem mundial?
Felizmente, é difícil manter uma ideologia tão estreita em um mundo tão vasto. A Humanidade, com seu talento inato para a insubordinação e a carnavalização, certamente encontraria uma maneira de transformar lençóis brancos em bandeiras de protesto. Porque, no fim das contas, a sátira e o humor sempre foram as armas mais eficazes contra Trumps, Musks e a estupidez organizada.