Nas últimas semanas, um fenômeno chamado de "chuva preta" repetiu-se por várias regiões do Brasil, e aqui em Santa Catarina não foi diferente. Esse fenômeno é resultado das partículas de fumaça que se acumulam na atmosfera e se misturam com a umidade do ar, formando nuvens carregadas de poluentes e tornando a chuva escura, às vezes preta, outras vezes marrom. Essas partículas provêm das queimadas criminosas, que acontecem sobretudo na Amazônia e no Pantanal. Embora as autoridades ainda estejam investigando, parece ser uma estratégia organizada que mistura negacionismo ambiental, sectarismo político de extrema-direita e pura ganância econômica.
Esse fenômeno é sintomático de um modo de produção que transforma tudo em mercadoria, visando não só o lucro, mas também convertendo as relações sociais em produtos. Aliás, o "povo da mercadoria" é como Davi Kopenawa, liderança indígena e xamã Yanomami, se refere ao homem branco.
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Outro pensador indígena, o recém-eleito para a Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak, em sua crônica "Antes o mundo não existia", expõe claramente o modo como nos relacionamos com o meio ambiente:
"Enquanto um homem olha para uma montanha e calcula quantos milhões de toneladas de cassiterita, bauxita, ouro ali podem existir, meu pai, meu avô, meus primos olham para aquela montanha e veem o seu humor, se ela está triste, feliz ou ameaçadora, e fazem cerimônias para a montanha, cantam para ela, cantam para o rio..."
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Na tradição do povo de Kopenawa, há uma profecia: a insistência em transformar a natureza em um mero ativo econômico e sua destruição contínua desencadearão um cataclismo em que o céu desaba sobre nossas cabeças.
O banho de carvão que desce em forma de chuva sobre nós talvez não seja apenas mais um aviso! Que, assim como tantos outros sinais, não passe despercebido aos ouvidos moucos, fechados tanto para as afirmações científicas quanto para os alertas ambientais e as crenças tradicionais. Que despertemos antes que o próprio céu desabe sobre nossas cabeças.