PARTIDO DA IMPRENSA GOPISTA

Campos Neto é o novo Moro: mídia liberal surta e mostra que Lula tem razão

Assertivo, Lula pautou a mídia liberal em 50 minutos de entrevista na CBN, da Globo. Expôs o conluio que tenta acossar o governo e os 60 milhões de brasileiros que o elegeram e, de quebra, lançou a candidatura à reeleição.

Lula, Campos Neto e Sergio Moro.Créditos: Ricardo Stuckert / Agência Senado
Escrito en OPINIÃO el

Há muito não se via Lula tão assertivo quanto na entrevista na manhã de quarta-feira (18) na CBN, emissora de rádio da rede Globo.

Em exatos 50 minutos, o presidente expôs os interesses do chamado "mercado" e da mídia liberal em torno da chamada "austeridade" e dos "gastos" no orçamento, desnudou o conluio em torno da chamada "terceira via", fez uma comparação certeira entre os "paladinos da justiça" Roberto Campos Neto e Sergio Moro, colocou a "taxa das blusinhas" no colo de Arthur Lira (PP-AL) e cobrou as entidades patronais dos subsídios sem contrapartida dados por Jair Bolsonaro.

De quebra, ainda enquadrou o "poste" de Malafaia, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), sobre o PL do Estupro, e lançou sua pré-candidatura à reeleição em 2026, para evitar a volta ao poder dos trogloditas fascistas que fizeram do Brasil uma Faixa de Gaza, segundo palavras do próprio presidente.

Ao expor o jogo político-midiático que tenta acuá-lo, Lula tirou o governo das cordas e deu subsídio e energia ao campo progressista e aos mais de 60,3 milhões de eleitores para enfrentar a inédita "extrema direita ativista pouco pragmática na política e muito pragmática nas mentiras".

É claro que a reação viria à galope.

Parte imprescindível no golpe contra Dilma Rousseff em 2016, no lawfare da Lava Jato que levou Lula à prisão em 2018 e do aval neoliberal (alô Paulo Guedes e Instituto Millenium) para o governo fascista de Jair Bolsonaro (PL) a partir de 2019, a mídia liberal e seus "colonistas" surtaram.

Porta-voz da burguesia escravista, desde os tempos em que a lei permitia a escravização de seres humanos, o Estadão usou e abusou da semiótica com uma foto de Lula com olhos vermelhos destacado ao lado da análise: "Ao atacar erro de Campos Neto, Lula aumenta nervosismo e escala crise que prejudicará governo".

Em meio a uma foto de um Lula raivoso ao lado de um sorridente e simpático Campos Neto, o texto do "jornalista" Álvaro Gabriel diz que "a verdade é que Lula está cada vez mais próximo de Dilma no discurso econômico", sem lembrar as pautas-bomba de Eduardo Cunha no Congresso e os achaques de Aécio Neves nas raízes do golpe.

"[Lula] Disse que está disposto a discutir todo o Orçamento, mas também alega que tem divergências conceituais sobre o que é gasto e o que é investimento – como se coubesse ao presidente da República definir esses conceitos", diz o jornal, que defende que saúde e educação são gastos e pagamento da dívidas aos banqueiros é investimento.

O clima de terror tomou toda a parte superior do site do Estadão, dando voz ao "mercado" para a política de juros: "maioria do mercado aposta no fim dos cortes da Selic e quer decisão unânime para conter ruídos", diz uma das chamadas sobre a reunião do Copom, realizada nesta quarta-feira (19).

Merval e sua trupe

No sistema Globo, que é dono da CBN, coube a Merval Pereira colocar sua horda para o embate. 

Aliás, a principal fala de Lula - "É por isso que digo: não venham me pedir para fazer ajuste em cima das pessoas mais humildes desse país" -, soou como uma resposta à ironia de Merval no artigo publicado um pouco mais cedo n'O Globo, dizendo que o "confronto" com os setores neoliberais "se dá por uma posição anacrônica da esquerda petista, que não se conforma com a necessidade de contenção de gastos para equilibrar as contas públicas".

"Fazer reajuste 'em cima dos pobres', não, dirá Lula, ecoando esse raciocínio que constrange quem quer preparar o país para um desenvolvimento sustentado de longo prazo justamente para ajudar os mais pobres", escreveu o "imortal" para, em seguida, revelar a verdadeira intenção por trás do discurso dos neoliberais.

"Claro que os ricos e a classe média abastada também se beneficiarão, mas um crescimento saudável e equilibrado deve ser o objetivo final de qualquer governo, de direita ou de esquerda."
 
Após a entrevista em que Lula expôs "a guerra histórica entre setores dos meios de comunicação e do mercado sobre a questão da utilização dos recursos do orçamento", os colonistas da Globo saíram em defesa dos banqueiros.

Vera Magalhães disse que a declaração de Lula "pode unir Copom em torno de Campos Neto" que, segundo ela, é autônomo, mesmo tendo feito campanha para Bolsonaro e aceitado antecipadamente ser "ministro da Fazenda" na terceira via - senão o próprio candidato.

"O presidente não é fã da autonomia do BC, como se sabe. Mas o mandato do BC para perseguir o cumprimento da meta de juros é anterior a ela, e, no terceiro mandato, Lula já deveria ter entendido que é esta a missão precípua da autoridade monetária. Mas insiste em fazer narrativa política onde não cabe. Contribui, assim, apenas para manter o nervosismo do tal mercado ao qual tem tantas restrições", diz Vera, que ainda defendeu seu herói de capa preta dos tempos da Lava Jato.

"Existia uma possibilidade forte de alinhamento em torno da ideia de pausar a queda da taxa básica de juros para verificar fatores internos e externos de preocupação, a situação fiscal entre eles. A fala altamente agressiva de Lula à CBN, inclusive introduzindo uma comparação incabível com Sergio Moro, pode ser o fator decisivo para produzir esse alinhamento em torno de Campos Neto, em nome de certo espírito de corpo da instituição, e para não tornar a transição do comando do BC mais tensa".

O Globo e o Valor, ambos da família Marinho, ainda fizeram questão de fazer um "#FATO ou #FAKE na entrevista de Luiz Inácio Lula da Silva para CBN". A nota é um texto escancarado aos setores beneficiados pela desoneração de Bolsonaro e pega pequenos detalhes na fala de Lula para dizer que "não é bem assim".

Já a Folha deu espaço para Arthur Lira, presidente da Câmara e parte do conluio contra Lula, responder sobre a "autonomia" de Campos Neto à frente do Banco Central.

"Nunca trabalhei contra o meu país e nunca, de maneira nenhuma, a Câmara se posicionou [de modo] contrário aos interesses do Brasil nesse, naquele ou noutro governo. E hoje o dia já começa bastante animado. Não será por parte do presidente da Câmara, que nós atiçaremos mais um pouco as dúvidas, incertezas, agruras, versões, ilações que tanto mal tem feito ao nosso país", disse Lira, em indireta a Lula, no evento "CNN Talks - Crédito para o Brasil".

Segundo a Folha, Lira teria dito que "a autonomia do Banco Central, às vésperas do Copom, aumentou a credibilidade da nossa política monetária", em contraponto à dala de Lula.

Lula tem razão

Ainda n'O Globo, com mais parcimônia, Miriam Leitão diz que "Lula joga mais lenha na fogueira de uma reunião tensa do Copom". E indaga: "Mas Lula tem razão?"

"Campos Neto subiu taxa de juros em pleno período eleitoral, contrariando o governo passado que o indicou. Ele tem tido uma posição técnica, há sempre argumentos técnicos para justificar os votos dele no BC, mesmo quando se discorda da decisão. É bom lembrar que o Copom é um colegiado, ele nao decide juros sozinho. Mas autonomia do Banco Central não basta ter, é preciso demonstrar publicamente. Ele não deveria ter demonstrado ter um lado político porque o ambiente já está muito contaminado", diz Miriam.

A resposta, no entanto, poderia ser mais sucinta.

Bolsonaro, Lira, Campos Neto, Globo, Estadão e seus asseclas fazem o jogo do sistema financeiro neoliberal, que está na raiz da pobreza e da desigualdade social no Brasil e no mundo.

Ao denunciar o conluio que tenta acossar seu terceiro governo - o mesmo que atuou no desmonte do Estado pelo golpista Michel Temer (MDB) e pelo fascista Bolsonaro (PL) nos últimos 10 anos -,o presidente expõe que os setores golpistas seguem buscando uma terceira via e usam a estrutura para colocar a faca em seu pescoço permanentemente.

Lula acerta ao ir pra cima. E deve repetir a dose sempre que necessário e pautar o debate político, seja na mídia liberal, seja no uso necessário da rede de rádio e TV.

E é essa postura combativa de Lula que nutre os mais de 60 milhões de brasileiros que não se renderam ao fascismo e buscam conhecer melhor as entranhas do poder que fizeram com que um ser abjeto como Jair Bolsonaro chegasse ao poder.

Lula tem razão. Campos Neto é o novo Moro. E se o conluio não for revelado pode resultar em um novo fascista no poder em 2026. Seja de coturno ou de sapatênis.