Do Jornal Empoderado
Motoboy é esfaqueado no Rio Grande do Sul por um homem branco e a Brigada Militar, que deveria proteger a vítima, dá voz de prisão para o trabalhador negro. A vítima foi levada para delegacia por resistência à prisão e a versão inicial do caso é a de que foi uma briga e não uma tentativa de homicídio. Continuaremos acompanhando o caso.
Te podría interesar
LEIA TAMBÉM: Homem negro sofre tentativa de homicídio, mas ao denunciar, é preso no lugar do agressor branco
A população indignada grita e pede que parem com aquilo, pois seria um ato racista, porém a a abordagem violenta continua. Enquanto isso, o agressor anda tranquilamente e até entra em sua casa.
Te podría interesar
Veja o vídeo da abordagem violenta aqui.
A história se repete
Esse caso da população gritando por piedade a uma vítima, lembra o caso histórico de Chaguinhas, que foi morto por enforcamento. Enquanto seu carrasco tentou enforcá-lo sem sucesso, a população gritava “L-I-B-E-R-D-A-D-E” (para a vítima). Por isso, hoje, o bairro se chama Liberdade. Mas diferente do motoboy, Chaguinhas foi enforcado e assassinado.
Conversamos com Renato Levin-Borges (Judz), que filmou a cena toda e se apresenta em suas redes sociais como: “Professor de filosofia, doutor, pesquiso extrema direita, gremista estoico, antifascista, vegano, músico. Fazendo o melhor pra prejudicar a burrice.”
“Bom, a minha percepção foi, primeiro, que foi um caso muito evidente de racismo. Um racismo estrutural da violência policial, que aparece de modo muito evidente ali.
A polícia chegar e nem considerar que o agressor que estava com a faca na mão, que era um homem branco, deveria ser a primeira pessoa a ser abordada. Inclusive, a vítima não tinha nenhuma arma na mão, ela tinha um celular, mas ele era preto.
Não ter considerado é um exemplo que faz refletir e que é uma prova triste de quando se fala de racismo estrutural. Que a gente está tratando da formação de subjetividade, de afetos, que a gente nem reflete.
Não é uma coisa, às vezes, nem construída e, às vezes, é reforçada intelectualmente, mas é muito mais profundo que isso.
Acho que foi muito importante o engajamento das pessoas e o engajamento de pessoas brancas como eu. Não para se vangloriar por isso, não digo isso como um mérito, mas sim como, acredito, um dever ético básico de todo mundo que se considera ou se declara antirracista.
Foi a gente se engajar porque se não fosse, possivelmente o desfecho seria outro e eu até tenho minhas dúvidas se o agressor seria levado para a delegacia. E tenho minhas dúvidas também, né? Se a vítima estaria viva agora.
Então, assim, há muita coisa para refletir, mas muita coisa que a gente já sabe. Que comprova, infelizmente, em relação ao racismo.”
Observação: E em São Paulo a bancada militar e evangélica preocupada com o desfile da Escola de Samba Vai-Vai que representou uma parte da corporação da Polícia Militar como monstros.
O que precisa urgente é o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, discutir algo que falo a tempos: uma CPI da Abordagem Policial.
Pois o que inicia com uma simples abordagem muitas vezes vira um encarceramento em massa ou um genocídio da população negra e periférica. E pode ter certeza que até para o trabalhador que veste farda vai ser um momento para discutirmos melhores condições de trabalho para eles (as).
Falamos com a vereador Karen Santos (PSOL/RS):
“O nosso mandato recebeu esta notícia logo no início da tarde. Entramos em contato com o Everton. A gente estava acompanhando as pessoas que estavam acompanhando ele na delegacia de polícia, onde ele foi fazer o boletim de ocorrência.
Nos colocamos a disposição para ir na delegacia especializada de crimes de racismo, que só abre infelizmente na segunda-feira.
Sugiro ir também para o Everton, que já está acompanhado de um advogado criminalista, de acionar o deputado Matheus Gomes, para que ele peça essa pauta na Comissão de Direitos Humanos, na Assembleia Legislativa.
São esses os movimentos que a gente se colocou a fazer nesse momento. Acessar o jurídico do Everton, caso ele queira levar para o Ministério Público, fazer a denúncia na delegacia especializada e também a denúncia na Assembleia Legislativa através da lei da Comissão de Direitos Humanos.”