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VÍDEO: pai de Endrick é vítima de racismo em jogo da Seleção no Pré-Olímpico

Torcedor venezuelano fez gestos imitando macacos; Conmebol tem um histórico de não punição à racistas nos estádios

Torcedor mostra foto de um gorila e faz gestos racistas imitando macaco.Créditos: Reprodução/Instagram/@endrick
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Douglas Ramos, o pai de Endrick, atacante da Seleção Brasileira e do Palmeiras, foi vítima de racismo por torcedores adversários, na última quinta-feira (9), na vitória do Brasil contra a Venezuela no torneio Pré-Olímpico, pelo placar de 2 a 1. Os racistas fizeram gestos imitando macacos.

O atleta publicou um vídeo dos ataques em seu perfil no Instagram, mas apagou na sequência. Ele também escreveu: "Desculpa, pai, por esse momento. Desculpa, padrinho, por esse momento. Infelizmente aconteceu com a minha família e amigos, mas Deus sabe de todas as coisas".

 

Mesmo com os atos racistas, a partida terminou com uma vitória da Seleção Brasileira por 2 a 1, com direito a assistência de Endrick para o gol de Guilherme Biro aos 43 minutos do segundo tempo. 

O quadrangular final é liderado pelo Paraguai, com quatro pontos, seguido de Brasil (três), Argentina (dois) e Venezuela (um). Caso vença o próximo duelo, contra a Argentina, o Brasil se classifica para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. Em caso de derrota, a seleção será eliminada pela primeira vez em 20 anos. O empate faria o Brasil depender de resultado favorável entre Venezuela e Paraguai.

Atos de solidariedade

O Palmeiras, clube em que atua o atacante, manifestou sua solidariedade aos familiares do atleta e se posicionou diante do caso: "Não toleramos qualquer forma de preconceito e esperamos que os responsáveis por este ato criminoso sejam devidamente identificados e punidos".

 

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) também prestou solidariedade à família de Endrick e reiterou seu compromisso contra o racismo: "A CBF foi a primeira entidade nacional de futebol do mundo a adotar no Regulamento Geral de Competições a possibilidade de punir esportivamente um clube em caso de racismo. A novidade foi incluída no RGC de 2023".

 

Por sua vez, a Conmebol não se pronunciou.

Conmebol e a conivência com o racismo

Embora tenha marcado a conta oficial da Conmebol na postagem, a entidade organizadora do futebol sul-americano tem um histórico de conivência com atos de racismo e extremismo nos estádios. Não houve qualquer pronunciamento da instituição a respeito do caso.

O atacante Rodrygo Goes, do Real Madrid, denunciou as ofensas raciais proferidas por torcedores argentinos nas redes sociais, em novembro do ano passado, após a derrota da Seleção Brasileira para a Argentina nas Eliminatórias da Copa do Mundo 2026. Os comentários de suas publicações foram preenchidos de emojis de macacos e bananas.

Em junho de 2023, o goleiro do Atlético Mineiro, Everson, foi vítima de xingamentos racistas durante o jogo contra o Libertad, do Paraguai, pela Copa Libertadores da América. Segundo ele, aquela não foi a primeira ocasião em que foi alvo de racistas.

 "Infelizmente isso ainda acontece, é escancarado, até em redes sociais e já aconteceu comigo. Infelizmente também é nas entrelinhas, as pessoas comentam, mas não usam a palavra [...] E hoje por conta, acho eu, de ter feito uma boa partida e ter sido peça fundamental, no final do jogo fui o atleta que mais xingaram e usaram esse ato de racismo mais uma vez", lamentou.

Ele também exigiu punição da Conmebol, sem esperanças: "Sabemos que infelizmente só virá uma nota da Conmebol e é buscar se manter firme, continuar trabalhando, com a esperança que um dia isso possa mudar. Mas sabemos que se não tiver medidas mais drásticas isso vai continuar", argumentou.

Em agosto, o Corinthians visitou o Newell's Old Boys, da Argentina, pela Sul-Americana. O empate em 0 a 0 ficou marcado por mais um episódio de racismo: torcedores argentinos fazem gestos imitando macacos e gritam "mono" (macaco, em espanhol) na direção da torcida corintiana.

Em 06 de junho deste ano, em partida da Copa Sul-Americana contra o Santos, torcedores do Newell's cometeram atos de racismo e o clube foi multado em US$ 100 mil. Na ocasião, uma mulher com criança de colo imitou um macaco e um homem mostrou uma banana no celular.

Este havia sido o segundo caso de racismo sofrido pelo Santos no torneio. Os atletas Ângelo e Marcos Leonardo foram chamados de "macacos" no Chile.

O Corinthians sofreu com o racismo na rodada anterior da "Sula", contra o Universitario. Na Neo Química Arena, em 11 de julho, o preparador físico Sebastian Avellino Vargas simulou gestos de macaco durante aquecimento dos reservas do Corinthians.

Uma semana depois, no jogo da volta, a torcida do Universitario foi registrada com uma corrente nazista, chamada de "Los Nazis", com estampa de suástica. Internautas reagiram ao acontecimento destacando que os latino-americanos se achavam arianos.

Três meses depois, foi a vez de torcedores palmeirenses acusarem jornalistas argentinos de arremessar uma banana em direção à eles, em partida válida pela Copa Libertadores, entre Palmeiras e Boca Juniors, da Argentina.