SELEÇÃO BRASILEIRA

A obviedade quase proibida que Dorival Júnior falou sobre Neymar

Crise na Seleção Brasileira é sem precedentes, não tem títulos e nem bom futebol; Além disso, o camisa 10 não é mais “menino”

Dorival Jr em sua apresentação na CBF.Créditos: Divulgação/CBF
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Apresentado nesta quinta-feira (11) como o novo técnico da Seleção Brasileira, Dorival Júnior exibiu um semblante alegre, afinal de contas, vive a realização de um sonho. Mas nem tudo são flores, e ele sabe. A Seleção vive uma crise sem precedentes, sem títulos e sem apresentar bom futebol ou bons resultados, e ainda terá seu principal jogador, o atacante Neymar, lesionado durante boa parte da temporada.

“O Brasil tem que aprender a jogar sem o Neymar, entendendo que o momento dele é de lesão, mas tem que entender que temos aí um dos três melhores jogadores do mundo no momento. Temos que aproveitar. O Neymar é um jogador muito importante”, afirmou o treinador.

É claro que Dorival aliviou para o craque no desenvolvimento da declaração. No entanto, a primeira parte da fala – “o Brasil precisa aprender a jogar sem Neymar” – toca no ponto central da crise da seleção.

É claro que Neymar é um excelente jogador, e um dos melhores na sua posição. Só uma pessoa com sérios problemas para entender o esporte bretão diria o contrário. O problema do atleta não está no seu potencial ou na sua qualidade, mas nas suas atitudes.

E não falo aqui da sua vida de popstar, de ostentação em mansões e jatinhos ou traições conjugais, mas de sua atitude enquanto atleta. Ele aparentemente não percebeu que a idade está chegando e que não é mais, e já faz algum tempo, o “menino Neymar” que em 2010 foi o pivô da demissão do mesmo Dorival Júnior no Santos.

Naquele momento da carreira, Neymar se acostumou a usar sua habilidade endiabrada como estratégia para que marcadores adversários fossem punidos pela arbitragem com cartões amarelos ou vermelhos. O craque fazia sua graça, pedalava, driblava ou fintava e, em seguida, oferecia as pernas para a entrada dos zagueirões que, irritados com a ousadia do jovem talento, chegavam com força e muitas vezes realmente acabavam punidos.

Acontece que isso não trazia grandes prejuízos ao atleta enquanto ele ainda era o “menino Neymar”. Mas a partir do momento que se tornou, pelo menos em termos etários, o “adulto Neymar”, as coisas começaram a se complicar. Não é preciso ser um médico do esporte, nem mesmo um atleta profissional, para saber que a recuperação de uma pancada ou lesão vai ficando mais lenta com o passar dos anos. Basta praticar o ludopédio, ainda que de forma amadora, para constatar.

Se quando “menino”, Neymar tomava uma pancada no tornozelo, por exemplo, a área atingida podia se descolar e logo retornava ao lugar de origem. No entanto, com o passar dos anos, e o acúmulo de pancadas, a mesma área pode simplesmente “não retornar ao lugar” e, em seguida, começar o inchaço e as dores de uma luxação ou torção.

Mesmo ponderando a entrada criminosa do colombiano Zuñiga em 2014, é fato que Neymar jamais conseguiu jogar uma Copa do Mundo inteira pela Seleção Brasileira. Em todas ele terminou machucado. E o auge da vergonha alheia foi em 2018, quando a qualquer contato ele se jogava e rolava por metros a fio nos gramados da Rússia.

E bem, como torcedor, valorizo muito a Copa América, as Olimpíadas e outras competições. Mas a Copa do Mundo é a Copa do Mundo, e vice-versa. Além disso, a Seleção Brasileira é uma espécie de refém do próprio sucesso no principal torneio de seleções do planeta. E nesse contexto, levando em conta o histórico de Neymar e a total descrença de que ele possa ter a humildade de mudar suas estratégias, a declaração de Dorival Júnior de que o Brasil precisa “aprender a jogar sem jogar Neymar” vem bem a calhar. Especialmente se ainda temos alguma pretensão de ganhar uma Copa do Mundo.

Mas entenda, torcedor: aprender a jogar sem Neymar não significa excluí-lo da seleção. Significa apenas montar um time que funcione a partir das quartas de final da Copa de 2026 quando ele, com certeza, já estiver lesionado.

Pelé, que era Pelé, precisou rever seu estilo para a Copa do Mundo de 1970 no México. Já com a idade avançada, o Rei do Futebol vinha sendo muito criticado naquele momento. É claro que não tinha a mesma explosão das copas de 1958 e 1962, quando era bem jovenzinho. O Rei então mudou. Deixou no passado suas características mais joviais e se tornou um verdadeiro maestro da Seleção de Saldanha-Zagallo, um cérebro que rodava a bola e buscava jogadas de ataque certeiras.

Nem precisamos dizer como terminou aquela Copa. Também é desnecessário dizer que as esperanças de que Neymar pare de se expor gratuitamente a pancadas e se torne um cérebro da equipe - mais focado em tocar a bola e fazer o time funcionar do que em anotar gols com o seu nome - estão muito distantes de se concretizar no mundo real. A não ser que Dorival faça algo de muito extraordinário.