Publicações de perfis bolsonaristas nas redes sociais têm afirmado que o juiz Edinaldo César Santos Júnior, que foi encontrado em seu apartamento em Aracaju (SE) no último dia 1º de junho, incluiu José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico e irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no inquérito de investigação de uma suposta fraude no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A informação é comprovadamente falsa e já foi verfiicada por diversas agências de checagem.
A principal postagem falsa compartilhada é do perfil do deputado estadual de Santa Catarina, Alex Brasil (PL-SC), em que diz "o magistrado, que teria solicitado a inclusão de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula, no inquérito que apura desvios bilionários em descontos ilegais de aposentadorias, morreu em circunstâncias misteriosas, sem sinais claros de violência, segundo a polícia. Este caso soma-se a uma série de episódios nebulosos que parecem proteger figuras ligadas ao governo petista, enquanto a impunidade reina."
Veja:
"Este é o juiz encontrado morto em seu apartamento, após incluir irmão de Lula em inquérito de investigação do INSS. Seria mais uma coincidência?", dizem outras publicações bolsonaristas no Instagram, que exibem uma foto de Edinaldo.
Fake news
Juiz estadual em Sergipe e com 49 anos, Edinaldo atuava como magistrado auxiliar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Já o inquérito do INSS tramita na Justiça Federal. O magistrado começou a atuar no Tribunal de Justiça de Sergipe (TJ-SE), na esfera estadual, em 2013. Em 2022, ele se tornou juiz auxiliar da presidência do CNJ.
Questionado pela agência de checagem da Reuters, o TJ-SE já declarou que "as ações envolvendo o INSS são de competência da Justiça Federal" e que "não há registro, no âmbito do TJSE, de que o juiz Edinaldo César Santos Júnior tenha atuado em processos relacionados à investigação de fraudes no INSS."
Já o CNJ declarou que Edinaldo “não atuava em nenhum processo envolvendo Frei Chico” e “não tinha participação em nenhum inquérito a respeito do INSS ou relacionado ao irmão do presidente Lula”. A Polícia Federal (PF), responsável pela apuração do esquema de descontos indevidos, informou à imprensa que “não se manifesta sobre investigações em andamento”.
O veredicto da agência foi o seguinte:
"O juiz Edinaldo César Santos Júnior, encontrado morto em Aracaju, não atuou no inquérito que apura débitos irregulares em benefícios do INSS nem incluiu o irmão de Lula na investigação"
Frei Chico atua como diretor vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). Esta é uma das entidades que a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU) estão investigando por suspeita de débitos não autorizados em benefícios do INSS.
Contudo, até o momento, não há informações públicas de que Frei Chico esteja sob investigação nesse caso. Inclusive, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou em entrevista ao ICL Notícias no final de abril que “o irmão do presidente Lula não é alvo da operação, não é investigado na operação”.
A checagem do Estadão Verifica também concluiu que as postagens são falsas. "O “inquérito mãe” da Operação Sem Desconto, que apura possíveis irregularidades em descontos feitos por entidades associativas, está sob responsabilidade da 15.ª Vara Criminal Federal em Brasília. Mais uma vez, sem relação com o trabalho de Edinaldo no CNJ. Os conteúdos que circulam nas redes sociais retomam teorias da conspiração que associam a morte de autoridades a interesses de Lula ou do Partido dos Trabalhadores."
'Falso escândalo'
Outra agência de checagem, a Boatos.Org, declarou ainda nesta segunda (9) que apesar de as mensagens se apoiarem em um fato real, no caso a morte do juiz, a ligação em questão não passa de uma fake news. "Na checagem, as perguntas que precisam ser respondidas são: 1) O juiz morto investigava o irmão de Lula no caso INSS? 2) Qual era o papel do juiz Edinaldo César Santos Júnior? 3) Há evidências de que sua morte esteja relacionada à investigação de fraudes no INSS?" e completa: "Não há registros de que o magistrado estivesse envolvido em qualquer processo relativo a esse caso."
"Não há evidências de que sua morte tenha qualquer relação com o caso citado nas redes. Trata-se de mais uma tentativa de criar um falso escândalo político a partir de uma tragédia pessoal"
