CPMI

Governo Lula monta comitê de crise para CPMI do 8 de Janeiro - por Mauro Lopes

Há preocupação na cúpula do governo com a guerra que irá inevitavelmente explodir na CPMI e com a possibilidade de uma deterioração acelerada do ambiente político do país

CPMI do 8 de Janeiro será instalada na primeira semana de maio.Créditos: Ag. Brasil
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O governo Lula não compartilha do otimismo demonstrado nos discursos dos parlamentares de sua base nos últimos dias com a instalação da CPMI do 8 de Janeiro no Congresso Nacional. A preocupação é tão grande que foi instalado um comitê de crise integrado por ministros e líderes governistas da Câmara e Senado.

Sintomaticamente, a primeira atividade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao retornar de seu giro por Portugal e Espanha, na última quinta-feira (27) foi exatamente a reunião com este comitê de crise. Estavam com Lula em seu gabinete na manhã de quinta os ministros Rui Costa, Flávio Dino, Márcio Macêdo, Alexandre Padilha, Paulo Pimenta, e mais o líder do Governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues, o líder do Governo no Senado, Jaques Wagner, e o líder do Governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães.

O governo não considera, como afirmam diversos deputados e senadores de esquerda, que a CPI será um “massacre” dos bolsonaristas. A perspectiva é de derrota da narrativa golpista, mas haverá disputa acirrada. Alguns ministros estão especialmente preocupados com a possibilidade de a comissão tornar-se um vetor de aceleração da degradação do ambiente político promovida pelo bolsonarismo. Avalia-se que não estão descartadas cenas de pugilato, de agressões verbais e físicas.

A indicação do senador Esperidião Amin para a CPMI acendeu um alerta extra no governo. Ele é o presidente da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Senado e, acreditam os articuladores do Planalto, quem vazou para a Folha de S.Paulo o pacote de mensagens de whatsapp enviadas a 13 órgãos ligados ao Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência) e ao então ministro do GSI, general G. Dias, nas vésperas do 8 de janeiro, com alertas sobre a possibilidade de ataques às sedes do Congresso, do STF e ao Palácio do Planalto -o que acabou acontecendo. O grupo de whatsapp era coordenado pela ABIN.

A notícia de tais mensagens não é nova, sabe-se delas desde meados de janeiro, mas o governo teme o estrago das imagens dos alertas projetados durante a CPMI possa causar. Mensagens foram enviadas ao celular do general G. Dias e ao Ministério da Justiça, que estavam no grupo. 

Em depoimento à PF, o general G. Dias afirmou só ter tomado conhecimento de mensagens da Abin quando reuniu as informações para responder a questionamentos da Comissão de Inteligência do Senado. O Ministério da Justiça nega ter sido notificado dos informes. Mas o assunto poderá ter destaque na CPMI, teme o governo.

Nesta sexta-feira, o ministro interino do GSI, Ricardo Cappelli, criticou o uso de um aplicativo de mensagens para encaminhamento de informes de inteligência. É de fato inusitado o uso do whatsapp para informes de inteligência, um tema de cobre a Abin de vergonha e ridículo -o sistema foi inaugurado e utilizado no governo Bolsonaro. Mas, apesar do caráter quase anedótico do recurso, ele poderá ser uma peça da narrativa bolsonarista na CPMI.

O governo e seus líderes parlamentares procuram estruturar uma bancada articulada e capaz de enfrentar e até desmoralizar o bolsonarismo na CPMI, com um relatório que aponte para a responsabilidade política e legal de Jair Bolsonaro, Augusto Heleno, Anderson Torres e dezenas de outros pela tentativa de golpe.