OPINIÃO

Ataques a escolas: o Senhor da Guerra não gosta de crianças

Assistimos, estarrecidos, o fato de muitos dos ataques serem produzidos e executados por crianças/adolescentes; Ainda que o tema do bullying seja relevante e faça parte da maioria dos relatos, é imprescindível que pensemos a questão do armamento

Bíblia e arma.Créditos: Pixabay/Wikimedia Commons
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Na coluna de hoje quero dialogar com uma canção da Legião Urbana. “A canção do Senhor da Guerra” foi composta, pasmem, em 1984, apesar de ser gravada apenas em 1992 (mesmo assim lá se vão 30 anos!). Diante das inúmeras tragédias anunciadas em escolas no Brasil e, hoje, na terrível expectativa de que algo pudesse acontecer em “comemoração” ao 20 de abril, data fatídica do “Massacre de Columbine”, em 1999, onde 12 alunos e 1 professor foram mortos e mais algumas pessoas feridas.

São tantas as coisas a se dizer sobre esse “fenômeno” que invade o Brasil que decidi separar os parágrafos deste texto em temas provocados por frases da canção de Renato Russo que, como tantas outras, são poéticas/proféticas em suas denúncias e razões. Não é à toa que poesia e profecia andam de mãos dadas. Então vamos lá...

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“Já são tantas as crianças com armas na mão”

Assistimos, estarrecidos, o fato de muitos dos ataques serem produzidos e executados por crianças/adolescentes. Ainda que o tema do bullying seja relevante e faça parte da maioria dos relatos, é imprescindível que pensemos a questão do armamento. O Brasil viveu 4 anos de INCENTIVO às armas e à violência e não vamos nos livrar disso da noite para o dia. Estamos mais violentos e, pior, violentos e armados! A proliferação de CAC’s como meio de “lavagem de armas” e facilitação dos projetos de violência mostra isso. Nossas crianças, ao invés de livros, bolas, bonecas, carrinhos ou mesmo computadores e videogames hoje têm armas nas mãos. Ou acesso a elas.

“Uma guerra sempre avança a tecnologia / Mesmo sendo guerra santa...”

O avanço do milicianismo evangélico no Brasil não é apenas um fenômeno das periferias onde os “traficantes de Cristo” existem. A Igreja evangélica brasileira (e falo como pastor e estudioso do tema) é, hoje, um celeiro de violência, intolerância, preconceito e morte. Sim! Morte! Não foram poucas as igrejas, desde a campanha de 2018, onde foram vistos grupos fazendo “sinal de arminha com a mão”. Fora isso, a tecnologia utilizada para a propagação das fake news, abundantes nos ambientes religiosos, colabora, e muito, para o cenário de distopia e violência que vivemos hoje.

“Existe alguém que está contando com você”

O que muitos não sabem, principalmente o “rebanho” (este nome não é à toa) evangélico – e por que não católicos conservadores também? – é que são massa de manobra nas mãos sangrentas e corruptas de líderes religiosos que se vendem para os sistemas de destruição. As crianças nas igrejas são alvo fácil dessa gente sem caráter e sem fé alguma, mas que abusa da crença para a instituição de seus impérios. Malafaia, Macedo, Linhares, os Valadões, Valandro e muitos outros têm as mãos sujas de sangue e o bolso cheio de dinheiro por conta de suas almas vendidas ao fascismo e a Mamon, divindade comparada ao dinheiro pelo próprio Jesus.

“Que belíssimas cenas de destruição”

Não nos enganemos, esse povo adora as cenas de destruição e caos. É um projeto muito bem arquitetado para que, da situação caótica, despertem os sentimentos mais abjetos de justiçamento, violência contra os “bandidos” (quase todos pobres e pretos) e uma outra vertente, que também é muito importante que falemos, que é o projeto de destruição da educação como processo público e pensante. Há muita gente pensando esses ataques. Não é uma coisa “do acaso”. Eles sabem o poder destrutivo dessas “belas cenas de destruição”. O Projeto é bem maior. É o fim de um Estado democrático, livre, laico e plural. Se pudessem, transformariam o país numa enorme “escola bíblica dominical”.

“E lembre-se sempre que Deus está do lado de quem vai vencer”

Os poderosos do mal já descobriram o aliado perfeito para suas maldades e perversidades: Deus! Não é à toa o discurso de que a família está sendo destruída pela Escola e uma “insistente insistência” numa possível guerra Escola versus Família. Isso mesmo: a Escola como a grande oponente da Família. “- Mas isso não cola muito”, dirão alguns. E é aí que Deus entra como aliado no discurso dos destruidores: “-Estão querendo acabar com a fé das crianças, ensinando ‘ideologia de gênero’, culto a ‘demônios’ (cultura e história africana), evolucionismo e outras coisas que a ‘Bíblia condena’...” E ai de quem se mete com “Deus”. Ele sempre vence no final...

“O senhor da guerra não gosta de crianças”

Por fim, a verdade nua e crua: as crianças são apenas joguetes nas mãos dos senhores da Guerra, ou do “grande Senhor dos Exércitos”. Aquilo que “ensina a criança o caminho que se deve andar” se transformou na mais trágica realidade: as crianças são educadas em casa e nas igrejas para o ódio, para o preconceito, para a intolerância e para a violência”, afinal são ensinadas desde cedo de que seu “Deus” odeia as outras religiões, odeia gays, lésbicas e transexuais, abomina a ciência e DESTRUIRÁ (Sim! Um Deus destruidor, aniquilador) todos estes numa câmara de tortura eterna que fará Hitler parecer um aprendiz.

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Um deus violento de uma igreja violenta repleta de gente violenta não produzirá, JAMAIS, crianças amorosas, educadas, que respeitem as diferenças e sejam ao menos tolerantes com os outros. Estamos à mercê da poesia/profecia da Legião Urbana. Mas... da mesma Legião e do mesmo Renato Russo (musicando um poema bíblico em conjunto com Camões) acreditamos que “é só o amor que conhece o que é verdade...” e o amor pode mudar tudo. Sempre haverá esperança.

Esperancemos!