A 6ª edição do Índice de Transparência da Moda Brasil (ITMB) revelou um progresso lento nas 60 maiores marcas de moda do Brasil, especialmente em áreas críticas como desmatamento, descarbonização e diversidade.
Em um ano marcado por desafios socioambientais significativos, como desastres climáticos extremos e avanço do desmatamento no Cerrado, a indústria da moda brasileira, considerada uma das mais completas do Ocidente, está sob escrutínio quanto à sua transparência em ações e impactos socioambientais.
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O ITMB, iniciativa do Instituto Fashion Revolution Brasil, avaliou as principais marcas e varejistas do mercado brasileiro com base em mais de 250 indicadores relacionados a direitos humanos, igualdade de gênero e racial, e descarbonização.
Isabella Luglio, coordenadora educacional do Instituto e do ITMB, enfatiza que os dados do Índice podem atuar como catalisadores para soluções sustentáveis, incentivando uma transformação sistêmica no setor.
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Para além da prestação de contas para a sociedade, os dados obtidos por meio do Índice de Transparência têm o potencial de atuar como um catalisador para promover soluções em direção à sustentabilidade e à moda justa e circular, desencadeando uma transformação sistêmica no setor da moda.
Ela comenta ainda que essa iniciativa é uma maneira de responsabilizar e também de inspirar ações concretas em direção a uma moda social e ecologicamente responsável por parte da indústria.
O ITMB 2023 revela que, apesar de algumas marcas mostrarem avanços significativos em transparência, a maioria ainda permanece pouco transparente sobre seus impactos socioambientais.
Pela primeira vez, desde 2018, seis marcas ultrapassaram 60% na pontuação, lideradas pela C&A com 70%. A média geral atingiu um recorde de 22%.
No entanto, quase metade das marcas avaliadas obteve menos de 10% dos pontos totais, com 16 delas zerando a pontuação. A falta de progresso dessas marcas impacta negativamente a média geral, desacelerando o avanço do setor em transparência.
Falta diversidade na moda
O setor de moda no Brasil continua a enfrentar desafios significativos em relação à diversidade de gênero e etnia, especialmente entre os fornecedores, de acordo com o documento.
O relatório mostra que apenas 12% das marcas divulgam a distribuição racial de trabalhadores em suas cadeias de fornecimento, e 97% não publicam ações focadas na promoção da igualdade racial e étnica.
A transparência sobre equidade de gênero também é limitada, com menos de um terço das marcas (30%) divulgando a distribuição por gênero dos trabalhadores em fornecedores diretos.
A falta de dados claros levanta preocupações sobre a inclusão de profissionais racializados e grupos minorizados no setor.
Ausência de metas para enfrentar a crise climática
Em um ano marcado por eventos climáticos extremos no Brasil, a indústria da moda mostra deficiências significativas em sua transparência sobre as metas de descarbonização e ações contra a crise climática.
Apesar de um aumento na divulgação da pegada de carbono por parte das marcas, com 45% divulgando emissões de suas instalações e 40% de suas cadeias produtivas, 98% das marcas não estabelecem metas científicas de descarbonização a curto ou longo prazo.
Fernanda Simon, diretora do Fashion Revolution Brasil, destaca a importância de as marcas divulgarem ações concretas de descarbonização e de enfrentamento à emergência climática e assegurarem os direitos dos trabalhadores mais vulneráveis ao longo de toda a cadeia de produção.
A transparência é o primeiro passo para que a moda possa efetivamente contribuir para a justiça climática.
Omissão quanto à proteção da biodiversidade
Apesar da crescente preocupação com a perda da biodiversidade brasileira, especialmente em biomas como a Amazônia e o Cerrado, a transparência das marcas de moda em relação ao desmatamento zero e práticas de agricultura regenerativa ainda é insuficiente.
Enquanto 43% das marcas divulgam políticas de biodiversidade e conservação, apenas 8% implementam práticas de agricultura regenerativa e 10% têm compromissos mensuráveis para desmatamento zero.
Embora haja um avanço em relação ao ano anterior, as taxas atuais são baixas diante da urgência na preservação da biodiversidade.
Destaques do Índice de Transparência da Moda Brasil 2023
- Avaliação de Marcas: O índice avaliou 60 marcas de diferentes segmentos, com cinco delas pontuando acima de 60%: C&A (70%), Malwee (68%), Dafiti (67%), Renner e Youcom (65%) e Havaianas (62%). Este resultado mostra um avanço em relação às edições anteriores, onde apenas uma ou duas marcas alcançavam essa pontuação.
- Transparência: Apesar de alguns progressos, quase metade das marcas ainda é pouco ou nada transparente. No ITMB 2023, 16 marcas tiveram zero na pontuação, indicando que não divulgam publicamente os cinco indicadores sociais e ambientais analisados.
- Decrescimento: Um novo indicador adicionado neste ano é o decrescimento, que critica os atuais modos de produção e consumo baseados no crescimento infinito e propõe um novo paradigma socioeconômico focado no bem-estar e equilíbrio ambiental e social.
- Pegada de Carbono: Cerca de 45% das marcas divulgaram as emissões de gases de efeito estufa de suas instalações, e 40% publicaram emissões relacionadas à sua cadeia produtiva. Entretanto, apenas 15% das marcas divulgaram um compromisso mensurável e com prazo determinado para a descarbonização.
- Soluções Circulares e Direitos Humanos: Outros destaques incluem 25% das marcas divulgando investimentos em soluções circulares para reciclagem de peças, 38% divulgando pelo menos 60% de seus fornecedores de nível 1, 55% divulgando políticas contra o trabalho escravo contemporâneo, e 27% informando como identificam e impedem violações de direitos humanos em suas cadeias de fornecimento. Além disso, 18% das marcas divulgaram informações sobre a divisão por cor ou raça de seus funcionários, e 30% divulgaram a distribuição por gênero dos trabalhadores em cada instalação de fornecedores diretos.