Uma notificação extrajudicial da Prefeitura de São Paulo informou na manhã de quarta-feira (28), aos artistas e integrantes do Teatro de Contêiner Mungunzá que eles têm 15 dias para desocuparem a área municipal onde estão instalados, na Santa Ifigênia, região da Luz, no centro de São Paulo.
A sede do grupo, montado com 11 contêineres marítimos, funciona no local desde o fim de 2016. Além da atividade teatral, o grupo também mantém em sua sede um ateliê e escola gráfica com bolsas de estudo para a população vulnerável do entorno. A região é conhecida por abrigar a Cracolândia.
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O vereador, arquiteto e urbanista Nabil Bonduki (PT) esteve no local, mostrou suas dependências e falou sobre a importância de sua atuação para a região e também para São Paulo.
Ao longo dos últimos dez anos, o Teatro de Contêiner Mungunzá foi palco de mais de 4.000 atividades, foi indicado e venceu prêmios nacionais e internacionais por sua inovação.
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Desocupação necessária
A Subprefeitura da Sé afirmou à coluna de Mônica Bergamo, por meio de nota, que a desocupação é necessária porque o terreno será destinado à "implantação de um hub de moradia social". "Ciente da relevância cultural e do impacto social do trabalho desenvolvido pelo grupo, a Prefeitura de São Paulo está comprometida em oferecer alternativas de endereços para que a companhia possa se restabelecer e dar continuidade às atividades", diz a administração de Ricardo Nunes.
Rolo Compressor
Bonduki afirma que "o rolo compressor de Ricardo Nunes ataca novamente a cultura de São Paulo. Como se não bastasse a violência com o Teatro Ventoforte no início do ano, o alvo da vez é o Teatro de Contêiner Mungunzá, que desde 2016 ocupa um espaço público na região da Luz, conhecida como Cracolândia".
"Não é possível que a Prefeitura, ao invés de regularizar o Teatro de Contêiner, escolha destruí-lo. Está fora de qualquer razoabilidade remover um equipamento com impacto social e cultural com tamanha potência e que funciona tão bem", prossegue o vereador.
"Vamos batalhar junto com outros vereadores para reconhecer a posse do Teatro de Contêiner, para que ele continue exercendo sua função social", encerra.
Veja abaixo:
Mobilização
Uma postagem no perfil do Instagram do Teatro de Contêiner Mungunzá com a cena da entrega da ordem de despejo provocou uma grande mobilização por parte de artistas, políticos e personalidades.
O próprio grupo lembrou em seu perfil que São Paulo é “a cidade que mais destrói teatro no sul global”. A deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL) afirmou: “Absurdo! Contem comigo!”
O grupo Oficina Uzyna Uzona, que foi liderada pelo diretor José Celso de Martinez Corrêa, uma das mais longevas companhias de teatro em atividade permanente no Brasil, afirmou: “todos os teatros são meus teatros” Cacilda Becker! tamo junto! o que está acontecendo em SP com os grupos de teatro é hediondo! cinismo político e especulação imobiliária, uma bomba relógio!”
O cantor e compositor Chico César lembrou que “a cidade se entregou aos reaças, o estado também. Dá nisso”.
Veja abaixo a postagem do Teatro de Contêiner Mungunzá:
Teatro VentoForte
Em fevereiro deste ano, a administração de Ricardo Nunes demoliu os prédios onde funcionavam o Teatro VentoForte e a Escola de Capoeira Angola Cruzeiro do Sul, no Parque do Povo, Zona Oeste da cidade. A ação, registrada em vídeo, mostra uma retroescavadeira derrubando as estruturas.
Os artistas afirmaram na ocasião que não foram avisados da operação e que ainda havia materiais no local. Um protesto realizado sobre os escombros do teatro reuniu artistas e políticos com cartazes com as frases "não à demolição da cultura" e "a arte resistirá sempre". Estavam presentes, entre outros, o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) e o cantor Chico César.