BOLSONARISMO

Assassino nada intelectual – Por Normando Rodrigues

Saltam aos olhos as pegadas encontradas na festa de aniversário de Foz do Iguaçu, tornada em local de crime por um fascista. Pegadas que vão da tríplice fronteira com Argentina e Paraguai, em 10 de julho de 2022, à Zona Oeste do Rio, em 21 de outubro de 2018

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Assassino nada intelectual

Saltam aos olhos do Brasil as pegadas encontradas na festa de aniversário de Foz do Iguaçu, tornada em local de crime por um fascista. Pegadas que vão da tríplice fronteira com Argentina e Paraguai, no domingo, 10 de julho de 2022, à Zona Oeste do Rio, no domingo, 21 de outubro de 2018.

Entre os dois domingos, a trilha do real assassino passa pelo extermínio de militantes ambientais e de esquerda, de negros, de indígenas, de mulheres que recusam o papel de submissão, de LGBTQIA+ e, sobretudo, de pobres.

Em todas essas mortes, junto às de centenas de milhares de vítimas desnecessárias da pandemia de Covid-19, restaram vestígios dos cascos do responsável. Vestígios que levam até a rampa do Palácio do Planalto.

Cascos

No 2° ato do inesquecível “Rastros de Ódio”, de John Ford (“The Searchers”; EUA, 1956), os protagonistas seguem as pistas dos cavalos dos perseguidos e a tarefa demanda certa ciência da dissimulação adversária. Não é o caso das marcas dos cascos presidenciais, tão estupidamente óbvias quanto o próprio Lobisomem.

Lobisomem com cascos? Sim, pois o monstro impronunciável não é mais do que uma cavalgadura a incorporar o espírito do verdadeiro inimigo da humanidade, o fascismo.

No entanto, o testemunho de suas pisadas não é claro apenas em razão do teratológico licantropo-equino. Os rastros são também ululantes porque os cascos da besta-fera foram endurecidos na têmpera do mesmo ódio do bom título brasileiro do filme de Ford.

Cruel

O ódio se revela em cada detalhe onde o diabo mora. A 8 de julho, ao comentar a morte do premiê Shinzo Abe, o Licantropo tuitou que a execução fora mostra “de uma crueldade injustificável”.

Não se trata de mau uso da língua e sim de fiel retrato do sistema de valores do monstrengo, recheado por crueldades “justificáveis”, desde que praticadas contra o público alvo listado no 2° parágrafo.

A ideologia da “crueldade justificável”  foi sintetizada pelo príncipe fascista Eduardo, lobisomenzinho de pequeno calibre que a 9 de julho assim discursou a seus eleitores:

“A esquerdalha nunca imaginou que tantas pessoas pudessem vir às ruas falar que, sim, quero estar armado... Quanto tempo ficamos ouvindo esses caras... aprovando estatuto do desarmamento e a gente falando educado? A gente não tem que respeitar esses caras, não”

Trevas

“Respeito” é algo que só recebe quem já o tem, ensinou o imprescindível Dalton Trumbo em “O homem de Kiev” (“The Fixer”, de John Frankenheimer; Reino Unido, 1969). Isto, contudo, está além da compreensão do pequeno-grande lobisomenzinho.

O discurso do lobisomenzinho precedeu o do pai no mitificado 9 de julho paulista, dia em que as trevas saíram da Estação da Luz em ostensiva marcha rumo ao passado, custeada por 1,7 milhão de reais da prefeitura de São Paulo. E as falas de pai e filho precederam em poucas horas o assassinato político de Foz do Iguaçu, do qual o licantropo é autor remoto, embora em nenhum sentido intelectual.

O lobisomem assumiu previamente a autoria do homicídio no domingo anterior ao de sua eleição. Era 21 de outubro de 2018 e de sua casa, na Barra da Tijuca - vizinha à do matador de Marielle Franco – o quadrúpede foi filmado ao expor seu programa de governo, via celular, para a malta reunida na Av. Paulista:

- Matar, prender ou deportar, os opositores.

O assassino de Foz do Iguaçu puxou o gatilho, mas o mandante senta na cadeira presidencial.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.