NOVA ORDEM MUNDIAL

A diplomacia de redes sociais de Trump e o papel das Big Techs

Como o presidente dos EUA e líderes de extrema direita mundo afora têm moldado a política global utilizando as mídias sociais, com o apoio e cumplicidade das grandes empresas de tecnologia

Como o presidente dos EUA e líderes de extrema direita mundo afora têm moldado a política global utilizando as mídias sociais, com o apoio e cumplicidade das grandes empresas de tecnologia
A diplomacia de redes sociais de Trump e o papel das Big Techs.Como o presidente dos EUA e líderes de extrema direita mundo afora têm moldado a política global utilizando as mídias sociais, com o apoio e cumplicidade das grandes empresas de tecnologiaCréditos: Fotomontagem Trump Media e Truth Social
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Donald Trump alterou profundamente a comunicação diplomática dos Estados Unidos ao romper com métodos tradicionais e adotar uma abordagem direta, impulsiva e pessoal.

Utilizando plataformas como o Truth Social, da qual é o dono, ele transformou as mídias sociais em uma ferramenta central para a diplomacia, virando de cabeça para baixo a maneira como Washington se posiciona no cenário global. Essa mudança abrupta tem desafiado protocolos diplomáticos estabelecidos, gerando avanços e crises, além de semear desconfiança nas relações internacionais.

Em tempos convencionais, por exemplo, jornalistas que cobrem a geopolítica global acessam registros de mídia, relatórios de organismos internacionais e entrevistam analistas para embasar suas reportagens. Com Trump, a fonte mais relevante e imediata de informações são suas próprias postagens nas redes sociais, que frequentemente moldam e direcionam a narrativa política mundial.

Diplomacia pelas redes sociais

Durante a recente crise entre Israel e Irã, Trump demonstrou sua abordagem não convencional, utilizando canais informais e ações diretas. Ele confirmou publicamente os ataques aéreos dos EUA a instalações nucleares iranianas, como Fordow e Natanz, antes de qualquer pronunciamento oficial, afirmando que as instalações haviam sido "totalmente obliteradas", apesar dos relatórios de inteligência sugerirem o contrário. Esse anúncio direto, sem formalidades, contrastou com a diplomacia tradicional.

Após os ataques, Trump usou novamente as redes sociais para comentar sobre a situação, reafirmando a disposição dos EUA em tomar novas ações, desafiando a diplomacia convencional. 

Ele também se envolveu em negociações bilaterais com líderes como o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, frequentemente sem a intermediação de diplomatas ou organizações multilaterais. Em um momento crítico, sugeriu publicamente que uma mudança de regime no Irã poderia ser considerada, pressionando o governo iraniano. 

Para completar, anunciou um cessar-fogo entre Irã e Israel mediado diretamente pelos EUA, sem a participação de aliados tradicionais ou da ONU, ilustrando sua abordagem pragmática e unilateral.

Esses exemplos destacam como Trump tem usado canais informais e diretos para conduzir a diplomacia dos EUA, enfatizando sua liderança improvisada e polarizadora, com forte dependência das redes sociais.

Extrema direita e as redes sociais

Alan Santos (PR) - Dois líderes de extrema direita que usam redes sociais: Jair Bolsonaro  e Viktor Orbán 

O uso das mídias sociais como ferramenta política não é exclusivo de Trump, embora ele seja um dos exemplos mais marcantes de como líderes de extrema direita têm aproveitado essas plataformas para consolidar suas bases de apoio e desafiar instituições tradicionais. 

Ao adotar uma comunicação direta e sem filtros, figuras como Trump, Jair Bolsonaro (Brasil) e Viktor Orbán (Hungria) transformaram as redes sociais em canais centrais para suas agendas políticas, intensificando a polarização social e política em seus respectivos países.

Essas plataformas proporcionam uma comunicação imediata, sem a mediação da imprensa tradicional, permitindo que líderes de extrema direita se conectem diretamente com seus seguidores, muitas vezes sem o filtro de jornalistas ou especialistas.

Esse estilo de comunicação, muitas vezes agressivo e informal, ressoa poderosamente entre seus eleitores, criando um senso de pertencimento e exclusividade, o que facilita tanto a mobilização quanto a radicalização.

O uso de hashtags, movimentos virais e memes é uma estratégia comum, criando uma dinâmica de mobilização rápida e descentralizada. Esses movimentos permitem que grupos de extrema direita organizem protestos e campanhas políticas de forma eficaz, sem a necessidade de grandes estruturas partidárias. 

A retórica anti-establishment se torna uma característica central, com ataques diretos à imprensa e às instituições tradicionais, criando uma narrativa alternativa onde esses líderes se posicionam como combatentes de uma elite corrupta.

Além disso, as redes sociais se tornaram um terreno fértil para a disseminação de fake news e teorias da conspiração, como a da "Grande Substituição", que afirma que a imigração em massa está substituindo as populações originais. 

Esses discursos reforçam medos coletivos e ressentimentos, mobilizando seguidores com mensagens que exploram a “ameaça” de uma perda de identidade e a destruição de valores culturais e econômicos.

Os líderes de extrema direita mostram como as mídias sociais têm sido uma ferramenta crucial para a consolidação de uma base de apoio fervorosa, ao mesmo tempo em que ampliam a fragmentação política e social. 

Ao explorar a polarização, criar comunidades fechadas e disseminar desinformação, a extrema direita tem conseguido desafiar a ordem política estabelecida, alterando as dinâmicas tradicionais de comunicação e mobilização política.

O papel das Big Techs

Reprodução X

As big techs — grandes empresas de tecnologia como Facebook (Meta), Twitter (agora X), Google, YouTube, Instagram, entre outras — desempenham um papel crucial no avanço da extrema direita ao redor do mundo. 

Quando durante a cerimônia de posse de Trump, em 20 de janeiro deste ano, vários bilionários do Vale do Silício marcaram presença, ficou claro um alinhamento estratégico entre a extrema direita e o setor tecnológico. Entre os destaques estavam Elon Musk (Tesla e SpaceX), Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Meta), Tim Cook (Apple), Sundar Pichai (Alphabet/Google) e Shou Zi Chew (TikTok).

Esse apoio não se limitou à presença na cerimônia. Musk, por exemplo, doou quase US$ 300 milhões para a campanha de reeleição de Trump e assumiu a liderança do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), uma pasta sem autoridade formal, mas com influência significativa. Zuckerberg, por sua vez, flexibilizou as políticas de moderação de conteúdo da Meta, facilitando a comunicação de Trump nas plataformas da empresa.

Esse alinhamento entre bilionários do Vale do Silício e a extrema direita de Trump representa uma convergência de interesses entre o setor tecnológico e a agenda populista de direita, com implicações significativas para a política e a sociedade dos EUA. 

Embora as plataformas insistam que não têm envolvimento direto com essas ideologias, a falta de moderação eficaz e os algoritmos que amplificam conteúdos de ódio e polarização têm contribuído para o crescimento de movimentos extremistas.

Esses exemplos mostram como as big techs não apenas facilitam a disseminação de ideologias de extrema direita, mas também desempenham um papel ativo na amplificação de fake news, teorias conspiratórias e discursos polarizadores, tornando-se, direta ou indiretamente, cúmplices no fortalecimento desses movimentos.

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