1 - A importantíssima derrota de Bolsonaro nas urnas não significou a derrota da extrema direita, que também sai deste pleito fortalecida. Mas a asfixia da nossa débil democracia foi contida e colocamos um freio no desmonte das políticas públicas.
2 - O quadro atual é de transição. Não revolucionária, do capitalismo para o socialismo, mas de um governo neofascista, com administração destruidora, para uma gestão de reabilitação democrática e republicana, ainda que sem um ascenso expressivo do movimento de massas.
3 - O governo Lula será amplíssimo, incorporando vários setores da burguesia, para além do arco que formou no segundo turno. Mesmo assim não deixará de ser fortemente acossado pela extrema direita.
4 - Lula foi nosso candidato desde o primeiro turno e o PSOL deve defender seu mandato com todo empenho, desde já. Inclusive a posse, que precisa ser demonstração unitária de grande força.
5 - A PEC da Transição - que apoiamos - viabiliza políticas assertivas no combate à fome, aumento real do salário-mínimo, manutenção ampliada do Bolsa Família, retomada do Minha Casa, Minha Vida, fortalecimento dos pequenos agricultores e de todas as “minorias” ameaçadas em seu direito à dignidade e à vida.
6 - Defender o governo Lula - que ajudamos a eleger e queremos exitoso - contra o golpismo e o boicote não significa chancela acrítica a todas as ações de governo, nem alinhamento automático às decisões de seu núcleo partidário de sustentação (como demonstrado desde agora, no caso de não adesão à reeleição de Lira e do repúdio ao Orçamento Secreto).
7 - A extrema direita, que se revelou forte e mobilizada, fará oposição ferrenha, inclusive fora das "quatro linhas": o PSOL deve estar na linha de frente do combate a tudo que o bolsonarismo representou nesses quatro anos, buscando justiça pelos mais de 690 mil mortos pela Covid, pelos indígenas, pelos quilombolas, pelos ambientalistas e por nossa companheira Marielle Franco.
8 - Prosseguiremos também nossa contestação ao “deus mercado” e ao grande capital de forma propositiva, com soluções econômicas concretas que viabilizem o retorno do investimento público em áreas estratégicas e a recuperação de um Orçamento voltado aos mais pobres.
9 - Nosso empenho junto ao novo governo será para contribuir na reconstrução do país, com implementação de propostas para as maiorias ameaçadas em seus direitos básicos. Os 12 pontos programáticos que entregamos a Lula em maio nortearão nossa atuação.
10 - Nunca colocamos a contrapartida de ter espaço no governo, como fazem todos os partidos tradicionais. Para o PSOL, é por propostas, não por cargos.
11 - Devemos disputar o governo puxando o pêndulo da frente ampla para a esquerda. Nossas eventuais críticas virão, construtivamente, quando esse pêndulo tender ao interesse do mercado, da grande finança, do privatismo. Sem jamais engrossar a grita da extrema direita.
12 - Em caso de convite para participar do governo, devemos considerar os casos em que o(a) indicado(a) seja respaldado por movimentos sociais, e dialogar com eles, sem vetos e sem comprometer a autonomia da bancada.
13 - Devemos ser, nas ruas e no Parlamento, em benefício do governo Lula, um polo de pressão e alerta à esquerda, para que não tenhamos mais uma transição... intransitiva.
14 - É nosso dever lutar para evitar uma frustração popular com o novo governo, pois ela abriria caminho para o desastre histórico do retorno da extrema direita ao poder.
15 - Continuaremos, como partido, participando e incentivando a organização da classe trabalhadora e da sociedade civil. Será isso que dará sustentação popular ao governo e o pressionará à esquerda. Manteremos acesas, nesse processo, nossas bandeiras históricas contra a lgbtfobia, o machismo, o racismo e toda forma de opressão, na perspectiva ecossocialista e de respeito aos povos originários e comunidades tradicionais.
Em frente!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.