Em meio ao "golpe dos ricaços", ofensiva do centrão e bolsonaristas no Congresso Nacional que visa sangrar o governo para favorecer a terceira via, que aposta na candidatura de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) para a presidência da República em 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu endurecer o tom e mandou um recado àqueles que apostam no caos político e social em prol de seus projetos de poder.
Durante cerimônia de entrega de títulos de regularização fundiária no Tocantins, na última sexta-feira (27), Lula reforçou que "tem lado", fazendo referência direta à batalha do governo para fazer com que os mais ricos paguem mais impostos, em detrimento da aliança do centrão e bolsonaristas que querem fazer ajuste fiscal às custas dos mais pobres.
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"Eu não sou o presidente dos pobres. Eu sou vocês na Presidência da República (...) Eu governo esse país para todo mundo, mas eu tenho um lado, e o meu lado é o do povo trabalhador desse país, o meu lado são os professores desse país, o meu lado é o povo, o meu lado é a classe média desse país que é quem paga Imposto de Renda. É por isso que eles não gostam", declarou o mandatário.
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Golpe dos ricaços e do centrão
Nas sessões das duas casas legislativas da última quarta-feira, que derrubou as mudanças no IOF e aumentou de 513 para 531 o número de deputados, Davi Alcolumbre (presidente do Senado) e Hugo Motta (presidente da Câmara) aderiram ao plano para "sangrar" Lula e impedir que o presidente avance em pautas sociais, que tem forte apelo ao eleitorado mais pobre, para favorecer Tarcísio de Freitas, cortejado pela chamada Terceira Via, que une o centrão à Faria Lima e à mídia neoliberal.
A sanha da Faria Lima, ecoada pela mídia liberal, encontrou no propalado discurso de falta de "austeridade" do governo um mote para iniciar o "sangramento" de Lula. Além disso, foi ao encontro da cobiça do Centrão pelas emendas parlamentares, usadas para abastecer os nichos em ano eleitoral.
A mudança no IOF, com elevação de cobrança de 3,5% em cartões de crédito internacionais - que era de 6,38% no governo Bolsonaro - gerou ainda mais insatisfação entre os ricaços, já insatisfeitos com o aumento do Imposto de Renda para aqueles que ganham acima de R$ 50 mil para compensar a isenção de quem ganha até R$ 5 mil.
Por meio da mídia liberal - até mesmo em editorial n'O Globo, da família Marinho -, os endinheirados cobram cortes de gastos para ajustar as contas públicas, pressionando Lula para desvincular recursos da saúde e da educação, além de cancelar aumentos reais no salário mínimo e aposentadores e reduzir o orçamento de programas sociais, como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida.
O discurso de austeridade - jogando a conta para os mais pobres - nos jornais foi o estopim para o centrão se unir à bancada bolsonarista e antecipar a disputa eleitoral com as pautas-bomba no Congresso.
Mesmo com o governo empenhando R$ 1,7 bilhão em emendas para 347 parlamentares, em um acordo para a aprovação do IOF, Motta e Alcolumbre conduziram sessões relâmpagos para derrubar a mudança no imposto, que recaía sobre os mais ricos, e atacar Lula.
"Esse decreto começou mal. O governo editou um decreto que foi rapidamente rechaçado pela sociedade brasileira", bradou Alcolumbre, colocando como "sociedade brasileira" os interesses de menos de 1% que estão sendo afetados pelas medidas econômicas do governo.
Presente na sessão, ao lado de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira, deu o tom para os ataques ao governo, fazendo eco à Faria Lima sobre o "aumento de impostos".
"Nós temos uma carga tributária de país de primeiro mundo com serviços de segundo e terceiro mundo. Não é possível que, num orçamento de mais de R$1 trilhão, não se encontre o que cortar. O povo não aguenta mais pagar imposto", disse Nogueira, que faz coro com os neoliberais e o lobby para cortes de recursos de programas sociais e dos aumentos reais do salário mínimo e da aposentadoria.