ESPECTRO-POLÍTICO

Direita e esquerda: a história por trás dos conceitos e o que significam na política

Conceitos que designam posições ideológicas surgiram há mais de 300 anos e influenciam debates e visões em torno do neoliberalismo

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Graduanda em Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Alice é estagiária na Revista Fórum e responsável pelas coberturas Socioambiental, Política e Cultural. Em 2022, foi uma das lideranças da Acesso Júnior, empresa de comunicação da Faculdade de Comunicação (Facom), e em 2023, trabalhou com projetos de fomento à cultura brasileira na startup de Minas Gerais, É.Cultural. Também fez parte do projeto de extensão da UFJF, Linguagem, Interação e Conhecimento, voltado para a educação midiática em escolas e ambientes digitais. Atualmente é pesquisadora no grupo Assimetrias, núcleo que pesquisa as mediações simbólicas e materiais das tecnologias. Preza pela memória coletiva e acredita que a informação é chave para a transformação social e construção de uma cidadania plena.
Direita e esquerda: a história por trás dos conceitos e o que significam na política
Marcello Casal JrAgência Brasil

Direita e esquerda são termos que sempre aparecem nas discussões políticas, mas será que você sabe o que realmente significam e de onde vêm esses conceitos? É importante destacar que não há definições universais que delimitem com precisão o que é ser de esquerda ou de direita, mas há noções comuns que ajudam a diferenciar as posições políticas.

O espectro político-ideológico reflete diferentes formas de enxergar como a política deve funcionar e como a sociedade deve ser organizada. Do ponto de vista moral, há posições que vão do conservadorismo ao progressismo; do ponto de vista econômico, as ideias variam entre o socialismo e o liberalismo.

As definições não surgiram agora. Tudo começou na França ainda no século XVIII, em 1789, com a fervura revolucionária que pôs fim ao regime absolutista do Rei Luis 16 e abalou a burguesia na Europa. Na Assembleia Nacional Constituinte, onde se discutia o futuro do país após séculos de monarquia, os representantes da burguesia — então em ascensão como nova classe dominante — começaram a se dividir fisicamente no espaço.

De um lado, sentavam-se os Girondinos, defensores de reformas mais moderadas e de uma monarquia constitucional: eles ficavam à direita do presidente da Assembleia. Do outro, os Jacobinos, com propostas mais radicais, como a ampliação da participação política e o fim da monarquia, ocuparam os assentos à esquerda. Nascia ali, quase como uma casualidade espacial, a divisão simbólica que até hoje estrutura grande parte dos debates políticos ao redor do mundo: direita e esquerda.

Embora tanto Jacobinos quanto Girondinos fizessem parte da burguesia, que, na época, ainda buscava consolidar seu poder, suas visões sobre os rumos da Revolução Francesa eram profundamente distintas. Os Girondinos, representantes da alta burguesia, optavam por mudanças graduais. Defendiam uma transição segura para uma monarquia constitucional, que preservasse parte das estruturas do Antigo Regime.

Já os Jacobinos, ligados à baixa burguesia, propunham uma ruptura mais profunda. Para eles, a Revolução deveria abolir de vez o poder concentrado nas mãos de poucos e estabelecer uma república baseada no poder popular, com participação efetiva dos trabalhadores urbanos e camponeses.

Foi a partir desse embate político histórico e simbólico que os termos direita e esquerda passaram a identificar posições ideológicas opostas — um vocabulário que atravessou os séculos, foi reinterpretado ao longo da história e segue presente no debate político atual, inclusive no Brasil. Independentemente de o regime ser uma república ou monarquia, sob parlamentarismo, presidencialismo ou semipresidencialismo, a disputa e alternância de poder ocorreram dentro desses amplos espectros político-ideológicos. Entre 2019 e 2022, isso foi acentuado pela polarização política.

Da direita à extrema direita

A direita é associada a à defesa do mercado como principal organizador da vida social, acreditando que a liberdade econômica gera "oportunidades iguais" para todos. Nesse campo ideológico, a ideia de igualdade se fundamenta no mito da meritocracia — a noção de que as diferenças sociais decorrem das capacidades, talentos e esforços individuais. Em geral, partidos e movimentos de direita advogam por um Estado mínimo, que interfira pouco na economia ou na redistribuição de renda. Valorizam a manutenção da ordem e a liberdade como realização individual.

Assim, a desigualdade não apenas é tolerada, mas vista como natural: já que os indivíduos são diferentes, é esperado que ocupem posições distintas na hierarquia social e econômica. já os partidos, líderes e movimentos de extrema direita geralmente se distinguem por um falso patriotismo, valores morais ultraconservadores e apego a tradições sociais, além de discursos que promovem a superioridade racial, étnica ou cultural de determinados grupos.

Diferente da direita liberal que ainda preza por instituições democráticas, a extrema direita tende a rejeitar direitos universais, especialmente os que protegem minorias. Em muitos casos, atua contra princípios democráticos, mesmo que formalmente participe das eleições.

A partir dos anos 2000, esse campo político se fortaleceu com o uso massivo das redes sociais, por meio das quais dissemina fake news e teorias da conspiração para mobilizar seus seguidores e enfraquecer adversários.

No discurso, adota uma retórica "antisistema", frequentemente direcionada contra artistas, professores, jornalistas, instituições acadêmicas e políticas — retratadas como uma “elite corrompida”. Essa narrativa foi central nas campanhas de nomes como Trump, Bolsonaro e Milei, que se apresentaram como "de fora" da política tradicional.

Mas a extrema direita não é homogênea. Sua atuação varia conforme o contexto geopolítico. Na Europa, por exemplo, há forte foco anti-imigração e defesa de protecionismo econômico, enquanto no Brasil ela se volta contra direitos das populações indígenas, negras, LGBTQIA+ e das mulheres, com ênfase no liberalismo econômico, mesmo mantendo um discurso nacionalista.

Centrão 

O termo Centrão no Brasil começou a ser usado durante os debates da Assembleia Nacional Constituinte, entre 1987 e 1988, para se referir a um grupo suprapartidário de parlamentares que se opôs à forma como a Comissão de Sistematização estava conduzindo os trabalhos da nova Constituição.

Esse grupo atuou e segue atuando para barrar propostas progressistas e, por isso, é visto por estudiosos muitas vezes como conservadores na política, podendo atuar de forma próxima à direita para manter interesses econômicos. No entanto, cientistas políticos apontam que o Centrão é um grupo político que embora tenha uma orientação conservadora demonstra flexibilidade ideológica quando necessário, especialmente para preservar sua influência política e garantir espaços no Executivo.

Esquerdas 

A esquerda, de modo geral, é associada à crença na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, com o Estado assumindo um papel ativo na promoção da equidade. Essa visão se contrapõe à perspectiva da direita.

No contexto brasileiro, costuma-se distinguir entre a esquerda moderada e a esquerda radical. A primeira busca transformar a sociedade por meio das instituições já existentes, aceitando os marcos do sistema capitalista e atuando principalmente pela via eleitoral. Já a esquerda radical adota uma postura crítica mais profunda ao capitalismo, engajando-se na organização popular e no trabalho de base como estratégias de transformação estrutural.

As duas atuam sob a lente do modelo marxista da luta de classes e da revolução marxista. A Revolução Russa de 1917 teve grande impacto na formação da esquerda no Brasil e influenciou profundamente a organização política de trabalhadores, inspirando movimentos sociais e partidos no mundo todo.

A divisão entre direita e esquerda ganhou contornos mais evidentes no Brasil durante a Ditadura Militar, quando se estabeleceu uma grande polarização política no Brasil de forma semelhante com a ocorrida entre 2019 e 2022 no país. Na época, quem apoiava o regime instaurado pelos militares era identificado com a direita, enquanto aqueles que se opunham e defendiam um projeto socialista, inspirado nas ideias de Karl Marx, eram associados à esquerda. Ao longo das décadas, essa polarização se fragmentou em novos grupos e correntes dentro de cada campo ideológico.

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