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Israel tem armas nucleares? Entenda a história do programa atômico israelense

Como Israel usa seu programa nuclear para preservar sua hegemonia no Oriente Médio

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Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Israel tem armas nucleares? Entenda a história do programa atômico israelense
Réplica de ogiva nuclear 'Fat Man' lançada em Nagasaki. Wikimedia Communs

A diferença no tratamento dado aos programas nucleares de Israel e do Irã levanta um debate sobre justiça internacional, equilíbrio de poder e interesses geopolíticos. Por que a comunidade internacional tolera que Israel possua armas nucleares enquanto tenta impedir que o Irã desenvolva tecnologia similar? Para compreender essa aparente contradição, é essencial entender a origem, o sigilo e os desdobramentos do programa nuclear israelense.

Israel tem armas nucleares?

Apesar de nunca ter confirmado oficialmente, Israel é amplamente reconhecido como uma potência nuclear de fato. Estima-se que o país possua entre 80 e 90 ogivas nucleares, embora algumas estimativas mais altas indiquem até 200. O arsenal foi desenvolvido de forma secreta, fora dos tratados internacionais de controle de armas, e Israel mantém até hoje uma política de "ambiguidade estratégica" — ou seja, nem confirma nem nega possuir armamento nuclear.

O programa nuclear israelense teve início nos anos 1950 e 1960, com apoio discreto, mas decisivo, da França. A construção do reator nuclear de Dimona, no deserto de Negev, foi um marco. Oficialmente declarado como um centro de "pesquisa", o local era, na verdade, parte central de um projeto para desenvolver armas nucleares, como mais tarde revelado por fontes internas.

Um dos episódios mais notórios ocorreu em 1986, quando Mordechai Vanunu, ex-técnico do reator de Dimona, vazou informações e fotos secretas para a imprensa britânica. Ele revelou ao mundo detalhes sobre o arsenal atômico de Israel — e acabou sequestrado pelo serviço secreto israelense (Mossad), julgado e preso.

Imagem vista de cima de reator nuclear em Dimona
(foto: wikipédia)

Israel e o tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP)

Um dos principais fatores que explicam o "silêncio oficial" sobre o arsenal israelense é o fato de que Israel nunca assinou o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), criado em 1968. O TNP reconhece apenas cinco países como potências nucleares legítimas: EUA, Rússia, Reino Unido, França e China.

Ao não assinar o tratado, Israel evita a obrigação legal de abrir suas instalações nucleares à inspeção internacional. Esse status lhe garante liberdade para manter seu arsenal em segredo, sem enfrentar as pressões políticas e sanções aplicadas a países como o Irã.

O caso do Irã: um tratamento diferente

Diferentemente de Israel, o Irã assinou o TNP em 1968, comprometendo-se a não desenvolver armas nucleares em troca do direito de acessar tecnologia nuclear para fins pacíficos. No entanto, o programa nuclear iraniano sempre foi cercado de desconfiança, principalmente por parte de países ocidentais e Israel, que alegam que o Irã busca desenvolver armas nucleares secretamente.

Em 2015, foi assinado o acordo nuclear conhecido como JCPOA, em que o Irã aceitou limitar seu programa em troca da suspensão de sanções econômicas. No entanto, os EUA se retiraram do acordo em 2018, sob o governo Trump, reacendendo as tensões e o avanço do programa iraniano.

Por que a comunidade internacional age de forma diferente?

Existem vários fatores que explicam essa disparidade:

  1. Alianças estratégicas:Israel é um aliado próximo dos Estados Unidos, que garantem sua segurança e frequentemente o protegem de críticas internacionais, inclusive com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU.
  2. Poder geopolítico: O arsenal nuclear de Israel é visto por seus defensores como uma forma de dissuasão frente aos seus vizinhos historicamente hostis.
     
  3. Controle narrativo: A ausência de uma confirmação oficial e a política de ambiguidade estratégica permitem a Israel manter seu programa nuclear fora dos holofotes diplomáticos.
     
  4. Medo de proliferação: A comunidade internacional teme que, se o Irã desenvolver armas nucleares, outros países da região — como Arábia Saudita, Egito ou Turquia — também busquem fazer o mesmo, gerando uma corrida armamentista no Oriente Médio.
     

Dois pesos duas medidas

O caso do programa nuclear de Israel, comparado ao do Irã, expõe a existência de dois pesos e duas medidas na política internacional. Enquanto um país mantém armas nucleares secretamente, fora de tratados e inspeções, o outro é constantemente vigiado e sancionado por suspeitas de desenvolvê-las.

As consequências dessa disparidade estão cada vez mais evidentes. Israel ataca países de forma "preventiva" para se manter como o único país no Oriente Médio com poderio nuclear, enquanto o resto do mundo ignora a tirania israelense e sua devastação.

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