Egito

O reino esquecido do país com mais pirâmides do que o Egito

Não, a maioria das pirâmides do mundo não está no Egito (só as mais altas); este país com um reino 'esquecido' pelas narrativas tradicionais guarda o maior número dessas construções, que ultrapassa 200

Escrito em História el
Mestranda em Ciência Política e bacharel em Relações Econômicas Internacionais pela UFMG, já foi treinee de Ciência e Saúde da Folha de S. Paulo e escreve sobre Ciência e Tecnologia para a Revista Fórum. Tem interesse por temas de geopolítica e economia internacional.
O reino esquecido do país com mais pirâmides do que o Egito
Sudaneses em frente às pirâmides de Meroë. Wikimedia commons

Embora o Egito seja mundialmente reconhecido por seus imponentes complexos de pirâmides, como as mais famosas Pirâmides de Gizé, é o Sudão — muitas vezes esquecido pelas narrativas tradicionais — que abriga o maior número de pirâmides do mundo. Com cerca de 255 pirâmides espalhadas por seu território, em especial nas regiões de Meroé, Napata, El-Kurru e Nuri, o país supera as 138 pirâmides conhecidas do Egito.

A construção das pirâmides do Sudão remonta ao esquecido Reino de Cuxe, uma civilização poderosa e sofisticada que floresceu entre 800 a.C. e 350 d.C. na região da Núbia, ao sul do Egito, que abrangia partes do atual norte do Sudão.

Profundamente influenciados pela cultura egípcia, com que mantinham relações de aliança política e intercâmbio social, os cuxitas adotaram (mas adaptaram) o modelo das pirâmides egípcias como forma de sepultamento real e símbolo de poder.

A primeira pirâmide cuxita conhecida foi construída por volta de 751 a.C., em El-Kurru, a antiga necrópole real. Ali estão sepultados os soberanos da 25ª dinastia egípcia, os chamados “Faraós Negros”, que governaram o Sudão e, inclusive, chegaram a controlar o Egito por quase um século.

Os reis cuxitas, como Piânqui, Taharqa e Shabaka, foram "coroados" em Tebas e são herdeiros legítimos da tradição faraônica.

Ambas civilizações profundamente dependentes do Nilo, o Sudão (ao sul do Egito, atravessado pelo Nilo de sul a norte) e a sociedade egípcia usavam as águas do rio para viabilizar seu cultivo agrícola em regiões áridas, e ergueram ao redor e às margens dele seus principais centros urbanos e comerciais. Cuxe se tornou um elo vital entre o Egito e a África subsaariana, servindo principalmente como ponto estratégico em rotas de comércio de ouro, marfim, ébano, incenso e até animais exóticos.

Pirâmides de Meroë, construídas pelo Reino de Cuxe no Sudão.
Créditos: Wikimedia Commons

Culturalmente, os cuxitas assimilaram aspectos do Egito antigo, como a escrita hieroglífica, os cultos aos deuses Amom, Ísis e Osíris, e os rituais funerários. Mas também desenvolveram características próprias, como uma língua escrita distinta (o meroítico), divindades locais e um estilo arquitetônico distinto, que pode ser visto na natureza da construção de suas pirâmides.

As pirâmides sudanesas são, em geral, mais compactas do que as egípcias, com alturas que variam de 6 a 30 metros (enquanto as pirâmides do Egito atingem até 146,7 metros), e ângulos mais de construção agudos, o que resulta em formas mais estreitas e íngremes.

Além disso, enquanto as pirâmides egípcias abrigam as câmaras funerárias no interior, as pirâmides cuxitas formam túmulos escavados abaixo do solo, com a pirâmide funcionando como um monumento simbólico que se estende acima da câmara sepulcral.

Entrada do monumento piramidal em Meroë. 
Créditos: Wikimedia commons

O apogeu das construções sudanesas ocorreu durante o período meroítico (aproximadamente entre 300 a.C. e 350 d.C.), quando a cidade de Meroé se consolidou como capital do reino e seu principal centro político, religioso e funerário.

Estima-se que mais de 200 pirâmides tenham sido erguidas nesse período, para servir como como túmulos de reis, rainhas e aristocratas do reinado. Algumas rainhas, conhecidas como “Cândaces”, governaram no Sudão com autonomia, e foram sepultadas nas pirâmides, que simbolizavam a autoridade divina dos monarcas e sua conexão espiritual com os ancestrais e deuses.

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