CHINA EM FOCO

China enquadra Macron por comparar Taiwan à Ucrânia

Pequim rebate o presidente da França ao reafirmar que as duas questões não são compatíveis e reforça oposição à expansão da OTAN para a região Ásia-Pacífico

Pequim rebate o presidente da França ao reafirmar que as duas questões não são compatíveis e reforça oposição à expansão da OTAN para a região Ásia-Pacífico
China enquadra Macron por comparar Taiwan à Ucrânia.Pequim rebate o presidente da França ao reafirmar que as duas questões não são compatíveis e reforça oposição à expansão da OTAN para a região Ásia-PacíficoCréditos: IISS Shangri-La Dialogue
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A China enquadrou o presidente francês Emmanuel Macron por distorcer a natureza da questão de Taiwan ao compará-la à crise da Ucrânia. As declarações do líder da França foram feitas durante o Diálogo de Shangri-La, realizado em Singapura entre os dias 30 de maio e 1º de junho. 

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Em seu discurso, feito na última sexta-feira, 30 de maio, Macron comparou a questão de Taiwan à crise da Ucrânia, sugerindo que, se a Rússia pudesse anexar partes do território ucraniano sem repercussões, isso poderia incentivar a China a agir na Ásia em relação a Taiwan. 

"Se considerarmos que a Rússia poderia tomar parte do território da Ucrânia sem restrições, o que poderia acontecer em Taiwan?", questionou Macron.

Em coletiva de imprensa do Ministério das Relações Exteriores chinês nesta quarta-feira (4), o porta-voz Lin Jian refutou veementemente essa comparação. Ele destacou que Taiwan é uma parte inalienável da China e que essa questão é estritamente um assunto interno do país. 

"A questão de Taiwan e a crise da Ucrânia não são comparáveis em absoluto. A China se opõe firmemente a quaisquer declarações ou ações que distorçam a natureza da questão de Taiwan e insta as partes relevantes a aderirem ao princípio de uma só China, respeitando a soberania e a integridade territorial da China", disse o porta-voz.

Lin também abordou a situação no Mar do Sul da China, destacando que ela está, em geral, estável, e que a liberdade de navegação e sobrevoo na região, em conformidade com a lei, não é questionada. 

"Os países fora da região precisam respeitar os esforços dos países locais para manter a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China, em vez de incitar tensões e criar disputas", disse.

O diplomata chinês reforçou a oposição da China à expansão da OTAN para o leste, especialmente para a região Ásia-Pacífico. Ele afirmou que, como uma organização defensiva regional, a OTAN não tem direito de ultrapassar seu escopo geográfico e mandato.

 "A China se opõe firmemente à tentativa da OTAN de avançar para o leste, incitar tensões e criar confrontos, o que prejudicaria a paz e a estabilidade regionais e globais. A região Ásia-Pacífico não precisa de uma OTAN", afirmou.

Lin reiterou o compromisso da China com a diplomacia de vizinhança, baseada em amizade, sinceridade, benefícios mútuos e inclusão. Ele concluiu afirmando que Pequim se opõe à confrontação entre blocos e nunca busca impor uma esfera de influência, e que as partes relevantes devem contribuir para a paz, estabilidade e prosperidade na região Ásia-Pacífico, em vez de semear discórdia com base em mentalidade de Guerra Fria.

Reação da Embaixada da China em Singapura

A primeira reação do governo chinês à fala de Macron foi feita no sábado, dia 1º de junho, por meio de uma postagem na conta oficial da Embaixada da República Popular da China no Facebook.

A mensagem afirma que comparar a questão de Taiwan com a questão da Ucrânia é inaceitável. Ressalta que os dois são de natureza diferente, e nada comparáveis.

"A questão de Taiwan é inteiramente um assunto interno da China. Existe apenas uma China no mundo, e Taiwan é uma parte inalienável do território da China. Se alguém tentar denunciar 'duplo padrão' através da lente de duplo padrão, o único resultado que podemos obter é ainda duplo padrão".

O discurso de Macron em Singapura

No discurso proferido no Diálogo de Shangri-La, em 30 de maio de 2025, Macron destacou a importância da autonomia estratégica da Europa e da Ásia.

Em meio a um cenário global de múltiplas crises, ele alertou sobre a necessidade de se evitar padrões duplos nas relações internacionais e enfatizou que os países devem agir de forma consistente, mantendo sua independência e cooperando para preservar a paz, segurança e prosperidade.

Macron também abordou a competição geopolítica e o risco de proliferação nuclear, especialmente com relação à Rússia e à Coreia do Norte.

Ao falar sobre a guerra na Ucrânia, o presidente francês defendeu a manutenção da integridade territorial e da soberania dos países, fazendo um paralelo com a situação de Taiwan, o que foi veementemente refutado por Pequim. Para ele, a falha em conter a Rússia poderia ter repercussões em Taiwan, assim como nas relações entre outras potências globais.

O discurso também enfatizou o desejo de França e Europa de aprofundar parcerias com países da região Ásia-Pacífico, com base em um novo modelo de cooperação que respeite a soberania e as normas internacionais, além de promover o comércio e a defesa mútua. Macron concluiu com um apelo por uma coalizão de países independentes que rejeitem padrões duplos e busquem soluções pacíficas para os problemas globais.

Leia aqui o discurso de Emmanuel Macron na íntegra, em inglês.

 

 

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