Perdido entre o Brasil e a África, no coração do Oceano Atlântico, está o território brasileiro mais distante do continente: o arquipélago de Trindade e Martim Vaz. Alcançá-lo exige quatro dias de navegação em mar aberto, partindo do litoral do Espírito Santo. Ao fim da jornada, surge um conjunto de ilhas rochosas que parecem ter parado no tempo, inacessíveis ao turismo, mas fundamentais para a ciência, a soberania e a história do país.
Distante cerca de 1.167 quilômetros de Vitória, capital capixaba, o arquipélago é guardado pela Marinha do Brasil e permanece fechado ao público. Apenas militares e pesquisadores com autorização especial desembarcam nesse pedaço de terra cercado por ondas e lendas. No alto dos penhascos e entre a vegetação resistente, cientistas monitoram a fauna endêmica e conduzem estudos oceanográficos estratégicos para o país.

A ilha principal abriga o Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT), base permanente da Marinha desde 1957. De lá, são feitas observações que ajudam a compreender os fenômenos climáticos do Atlântico Sul e reforçar a presença brasileira numa região remota, mas geopoliticamente crucial, em linha quase reta com a costa africana.
A rotina em alto-mar e a travessia rumo ao desconhecido
A travessia até Trindade não é feita por embarcações civis. A bordo de navios militares, a viagem se transforma numa pequena imersão naval: treinamentos de emergência, simulações de resgate e uma rotina marcada pelo ritmo do mar. O enjoo das primeiras horas dá lugar à adaptação, e até o pão servido no café da manhã, mais de mil unidades preparadas diariamente nas expedições, vira símbolo de conforto no isolamento.
Piratas, cometas e batalhas esquecidas
A história de Trindade é pontuada por episódios que caberiam em romances de aventura. No século XVIII, o astrônomo inglês Edmond Halley, o mesmo que batizou o famoso cometa, aportou na ilha em missão científica. Trouxe consigo animais como porcos e cabras, que, soltos no ambiente, acabaram por devastar parte da vegetação nativa.
Antes disso, a ilha já figurava nas rotas do tráfico de escravizados e foi disputada por potências europeias. Durante a Primeira Guerra Mundial, o mar ao redor de Trindade foi palco de um confronto naval entre embarcações da Alemanha e do Reino Unido, um lembrete de que, mesmo afastada do mundo, a ilha nunca foi irrelevante.
Um Brasil esquecido, mas essencial
Longe dos roteiros turísticos e ausente dos mapas mentais da maioria dos brasileiros, Trindade e Martim Vaz seguem como um dos últimos refúgios intocados do país. Um território ermo, onde o silêncio do oceano se mistura com o som do vento batendo nas rochas. Um pedaço do Brasil que, apesar de tão distante, cumpre papel vital na defesa do nosso espaço marítimo, na preservação ambiental e na afirmação da soberania nacional.
Confira algumas imagens do arquipélago: