Em 1913, Sarah Rector, uma menina de apenas 11 anos, se tornou, “acidentalmente”, a menina negra mais rica dos Estados Unidos.
Nascida em 1902, em Twine (hoje Taft), no território que viria a se tornar o Oklahoma, Sarah fazia parte de uma comunidade originária — a Nação Muscogee. E, como todos os membros da Nação, inclusive os descendentes de pessoas escravizadas, ela recebeu um lote de terra no ano de 1907, quando o território foi oficialmente incorporado aos EUA.
O terreno de Sarah, na época avaliado em apenas US$ 556, era considerado infértil e improdutivo, e sua família ainda precisava arcar com um imposto anual de US$ 30 para o estado — que tinha dificuldade em pagar.
Desesperado, o pai de Sarah, Joseph, tentou vender a terra, mas a lei proibia a venda de propriedades em nome de menores de idade.
A impossibilidade da venda acabou sendo a sorte da família. Sem outra opção, Joseph decidiu, então, arrendar o lote de terra para uma empresa petrolífera de Pittsburgh. Na virada do século XX, aquela era uma das regiões conhecidas nos EUA por sua intensa produção de petróleo, que fora intensificada após a entrada de Oklahoma na União, em 1907.
Foi exatamente essa “sorte” que acometeu o terreno de Sarah: em 1913, um perfurador independente descobriu petróleo na sua propriedade, e a extração começou a render a Sarah e sua família o montante de US$ 300 por dia — o equivalente a cerca de US$ 8 mil na cotação atual.
Conforme sua riqueza crescia de maneira acelerada, Sarah virou manchete nos jornais locais, os responsáveis por apelidá-la de “a menina negra mais rica do mundo”. Alguns cálculos estimavam sua fortuna em até US$ 1 milhão — o que ultrapassaria US$ 28 milhões em valores atuais.
Com o crescimento repentino da fortuna da filha, os pais de Sarah se viram diante de mais um obstáculo legal. Na época, pais negros não recebiam automaticamente a tutela legal de seus filhos, mesmo sendo seus responsáveis naturais. Era preciso entrar com um pedido formal na Justiça ou, muitas vezes, indicar um tutor branco.
Para fugir do impasse, a família teve que escolher Thomas Jefferson Porter, um homem branco que, segundo a historiadora Tonya Bolden, já ajudava os Rectors havia anos, bem antes da descoberta do petróleo na sua propriedade.
No entanto, começaram a surgir, algum tempo depois, acusações na imprensa de que Porter estaria explorando a fortuna de Sarah, enquanto sua família continuava a viver na pobreza. A repercussão foi tão grande que a Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP), uma organização de direitos civis dos Estados Unidos, resolveu investigar o caso e o levou à Justiça.
Quem julgou a ação foi um juiz local, que também era parte da Nação Muscogee — ele afirmou que Porter recebia menos de 2% da renda total de Sarah e notou que sua família vivia numa “casa nova e confortável, com cinco cômodos mobiliados”.
A imprensa negra local reconheceu a postura ética do juiz, e o caso foi deixado de lado.
Sarah cresceu e terminou seus estudos em Kansas City, para onde se mudou em 1917, e permaneceu na cidade durante toda a vida.
Lá, ela se casou com um ex-jogador de futebol americano, e o casal passou a morar na “Rector Mansion”, uma mansão “feita de pedra” em que recebia convidados de status.
Com a chegada da Grande Depressão, a maior crise financeira da história dos EUA, Sarah, entretanto, assim como outros desafortunados, perdeu boa parte de seus investimentos e de sua fortuna. Não se sabe o valor exato de sua herança no momento de sua morte (ela faleceu em 1967, aos 65 anos).
Hoje, a casa onde ela viveu em Kansas City ainda existe, e seus descendentes esperam poder, um dia, transformá-la em um museu que conte sua história.