CYNARA MENEZES
No Brasil para o lançamento do documentário Ithaka: A Luta de Assange, de Ben Lawrence, que estreia nos cinemas no próximo dia 31 de agosto, o pai de Julian Assange, o aposentado australiano John Shipton, de 76 anos, disse que o governo brasileiro irá negociar com o Reino Unido uma oferta de asilo para o ativista, preso desde 2019 em Londres. A promessa teria sido feita a ele por Nilmário Miranda, assessor especial do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
Se a promessa se concretizar, o governo Lula estará atendendo assim ao pedido feito por 3200 cientistas, jornalistas, professores, sindicalistas e lideranças da sociedade civil em carta que foi entregue ao presidente em julho pelo presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Renato Janine Ribeiro. Nela, as personalidades solicitavam a Lula seu apoio, providências legais e diplomáticas no sentido do Brasil conceder, da forma mais ágil possível, asilo político a Assange.
O pai do jornalista também esteve com o ministro da Secom, Paulo Pimenta, onde declarou que atualmente Lula "é o maior defensor de Assange no mundo". Na rede social X (ex-twitter), Pimenta comentou: "Reafirmamos o compromisso do nosso governo com a sua luta, a do Assange, e o nosso compromisso com a liberdade de expressão. Defendemos quem tem coragem de buscar um mundo melhor". Ao blog, John Shipton comentou que achou o ministro "extremamente afável".
John Shipton também tem esperanças de que o presidente dos EUA, Joe Biden, se comova com seus apelos para que o país desista do pedido de extradição de Assange. "O presidente Biden tem um filho às voltas com problemas neste momento. Acho que ele é capaz de entender o drama de outro pai com um filho com problemas. É o que eu peço a ele, de um pai para outro", disse.
Ele contou que, embora em situação melhor do que na época da pandemia, Assange continua com a saúde frágil após quatro anos encarcerado. Shipton acha que o documentário pode ajudar as pessoas a entenderem melhor a situação do jornalista e ativista, apesar de a equipe não ter sido autorizada a filmar dentro do presídio. Quando ele visita o filho, é colocado numa sala junto com outros presos recebendo visita, com muito barulho ao redor.
Pergunto para o pai de Assange se ele se sente triste em ver o filho há tanto tempo longe das ruas –antes de ser preso, o jornalista passou sete anos na embaixada do Equador em Londres. "Não faz sentido ficar triste", ele responde. "Você apenas luta." Quero saber o que os dois vão fazer quando o filho for libertado. "Vamos tomar uma taça de vinho, comer um churrasco com amigos, ouvir música e bater papo."
Mas John Shipton também está curioso em saber o que aconteceu com o ex-presidente Jair Bolsonaro. "Ele fugiu?" Eu conto para ele as últimas denúncias, que Shipton desconhecia completamente, sobre as vendas de joias e relógios que Bolsonaro recebeu de autoridades da Arábia Saudita, inclusive com a participação de um general. O pai de Julian Assange parece perplexo, sem conseguir acreditar.
E solta essa: "Ah, então ele pode abrir uma loja de penhores!"
Shipton, que já foi comunista e hoje se define como socialista, demonstra desprezo por bens materiais. "Tem gente que gosta de relógio caro, né?" Eu falo que para mim joias e relógios não dizem nada, e mostro a ele a pulseira indígena no meu punho. Ele puxa a manga do terno e exibe a sua, uma pulseirinha com âmbar que ganhou dos zapatistas em Chiapas. "Me disseram que daria sorte, e eu já estou com ela há dois anos e estou vivo! Então funcionou, né?"
O pai de Julian Assange tem muito claro o porquê da perseguição ao jornalista, ironicamente acusado de espionagem quando seu "crime" foi revelar ao mundo a espionagem criminosa dos EUA sobre outros países, inclusive o Brasil. "Julian está nesta situação porque os EUA não cumpriram a lei, eles desobedeceram suas próprias leis. E a Inglaterra e a Suécia também. Se eles seguissem suas próprias leis, Julian não estaria na prisão."