Nos dias 5 e 6 de outubro de 2012, o Datafolha foi às ruas de São Paulo para fazer sua última pesquisa no primeiro turno das eleições municipais daquele ano. E o resultado não deixou nenhuma das principais campanhas tranquilas.
O candidato do PSDB, José Serra, tinha 27% dos votos válidos, empatado com Celso Russomanno, então no PRB, com o mesmo percentual. Fernando Haddad (PT) chegava a 22% e Gabriel Chalita aparecia com 13%.
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Impossível não fazer um paralelo com a atual situação da disputa na capital paulista. Afinal, eram também dois candidatos disputando o eleitorado da direita (Serra e Russomanno), empatados com um adversário representando a esquerda/centro-esquerda (Haddad). Na quarta colocação, alguém que oscilava entre a centro-esquerda, mas com um perfil mais centrista como figurino (Chalita).
Aqui, um parêntese sobre Serra. Nos primórdios do PSDB, ele representava uma ala mais alinhada ao que seria de fato um desenho de social-democracia, tanto que no governo FHC fazia parte de uma ala tida como desenvolvimentista, quando ocupou a pasta do Planejamento. Mas adernou à direita, com o tucanato paulista, para cativar o eleitorado malufista, que aos poucos foi abandonando seu líder em trajetória decadente a partir do final dos anos 1990.
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Quando as urnas foram abertas, Serra havia sido o mais votado no primeiro turno, com 30,75%, mas muito próximo de Haddad, com 28,98%, que se elegeria prefeito. Russomanno ficou distante dos dois, com 21,60%, e Chalita teve uma votação similar ao que o instituto projetava, 13,6%.
No Datafolha, havia dois sinais de que o candidato do PRB poderia ficar no meio do caminho. Primeiro, na véspera do pleito, apenas 56% de seus eleitores citavam de forma correta o seu número, percentual que chegava a 77% para Haddad e 75% para Serra. Obviamente, já era (e hoje é ainda mais) fácil saber o número no dia, até porque a informação é fixada nos locais de votação, mas isso demonstrava de certa forma o ânimo ou até a disposição para sair de casa e votar daqueles que escolhiam Russomanno. E a abstenção é um dos elementos que passou a ser considerado definidor por cientistas políticos nos últimos anos, até por conta dos elevados índices nas eleições brasileiras, mesmo com o voto sendo obrigatório.
E havia a curva dos candidatos. De 26 de setembro até 6 de outubro, Russomanno vinha na descendente, enquanto Haddad subia de forma mais expressiva e Serra tinha um crescimento menos robusto, mas consistente.
E em 2024?
Estamos perto do primeiro turno, mas ainda não na véspera da votação. No entanto, em relação a 2012, não há curvas expressivas dos principais candidatos. A maioria dos institutos apontou em dado momento da campanha uma subida de Marçal que coincidiu com uma queda de Nunes, sugerindo que possa ter havido mudança de votos entre um e outro. O candidato do PRTB também se nutriu do derretimento da candidatura de Datena (PSDB).
A subida do ex-coach foi estancada, não virou uma "onda". E Ricardo Nunes se recuperou, mas também não conseguiu estabelecer uma curva ascendente mais longa, ainda que conte com 65% do tempo de propaganda de rádio e TV. As últimas sondagens sugerem que Marçal se recuperou dentro da margem de erro, o que preocupa a campanha do atual prefeito.
E, como já dito aqui, Nunes tem outros motivos para se preocupar. Um deles é a pouca convicção do seu eleitor, segundo o Datafolha mais recente: quando perguntados se votam em determinado candidato porque ele é o ideal ou se é por se tratar do menos pior, 61% dos eleitores de Boulos acreditam que ele é a escolha ideal, índice que chega a 52% daqueles que optam por Marçal. Só 40% de quem escolhe Nunes acredita nele como o candidato ideal. O prefeito também tem o voto menos consolidado, o que pode apontar para uma espécie de "efeito Russomanno" nos dias finais.
Existe ainda outro elemento que pode desfavorecer Nunes. Na quinta-feira (3), termina o horário eleitoral e a propaganda em rádio e TV, fatores que garantiram a recuperação do prefeito nas sondagens. Nos dias finais, as redes sociais devem imperar. Em 2012 elas já eram importante e tanto Serra quanto Haddad tinham uma presença muito maior que Russomanno. Difícil dizer que isso não tenha feito a diferença em favor dos dois.
Agora, a influência é ainda maior. E o principal adversário do emedebista é dominante no campo. Algo que poderia compensar seria a campanha de rua, mas, nesta reta final, parte significativa desta força vem dos candidatos a vereador e alguns dos seus pretensos aliados já abandonaram a campanha, o que gerou uma queixa pública por parte do candidato à reeleição.
Jornalistas da mídia corporativa já começam a atacar mais frontalmente Marçal, cobrando até mesmo as "elites". Não é um bom sinal para Nunes.