A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (26) traz o atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) numericamente à frente, mas empatado tecnicamente com Guilherme Boulos (PSOL). Ambos têm respectivamente 27% e 25% de intenções de votos.
O emedebista está a seis pontos do ex-coach Pablo Marçal (PRTB). Um cenário bem distinto de pouco mais de um mês atrás, quando o mesmo Datafolha, na pesquisa realizada em 20 e 21 de agosto, mostrava Nunes com 19%, Marçal com 21% e Boulos com 23%.
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Com 65% do tempo de propaganda na TV e no rádio, o prefeito conseguiu estancar sua tendência de queda, ao mesmo tempo que brecou a subida de Marçal, que passou a ser exposto por outros candidatos. Isso também tirou a gestão de Nunes do centro do debate político, descaracterizando o caráter plebiscitário que toda eleição que conta com um candidato à reeleição tem.
O cenário era muito favorável ao prefeito, mas, mesmo assim, há duas semanas tanto o emedebista como o ex-coach, que disputam em boa parte o mesmo segmento do eleitorado, não se movimentaram além da margem de erro na série do instituto.
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E o Datafolha de hoje traz três dados que devem preocupar a campanha de Nunes.
O calcanhar de Aquiles do prefeito
Primeiro, uma notícia que poderia ser boa para o prefeito: ele é o candidato que lidera como segunda opção de voto, chegando a 24%, contra 16% de Boulos, 14% de Tabata Amaral (PSB) e 12% de Marçal.
No entanto, quando vemos como ele alcança esse índice, percebe-se que significa pouco. São 36% dos eleitores de Boulos e o mesmo percentual de quem escolheu Marçal que apontam o prefeito como segunda opção. O problema para ele é que os dois são os que têm o voto mais consolidado. Ou seja, é pouco provável que eleitores de um e de outro votem em Nunes no primeiro turno.
E esta é a primeira má notícia para o candidato do MDB: 79% dos eleitores de Boulos dizem que não mudarão de voto, índice que chega a 72% entre eleitores de Marçal e a 68% dos entrevistados que optam pelo prefeito.
Além de terem mais eleitores consolidados, os candidatos do PSOL e do PRTB levam vantagem em outro quesito. Quando os entrevistados são perguntados se votam em determinado candidato porque ele é o ideal ou se a opção é por se tratar do menos pior, 61% dos eleitores de Boulos acreditam que ele é a escolha ideal, percentual que chega a 52% daqueles que optam por Marçal. Somente 40% de quem escolhe Nunes acredita que ele é o candidato ideal. Isso não só aumenta a possibilidade de um voto mais volúvel, como também pode afetar o próprio comparecimento às urnas no dia da eleição, algo determinante em uma disputa acirrada.
E o terceiro fator que deve preocupar a campanha do MDB é o voto espontâneo. Ele é sempre um dos indicadores de um voto convicto e, neste quesito, o candidato à reeleição está atrás do deputado federal do PSOL, que tem 21%, e empatado com o ex-coach, ambos com 16%.
Voto envergonhado
O chamado "voto envergonhado", um dos fatores que muitos cientistas políticos adotam para justificar a votação de candidatos extremistas acima daquilo que dizem as pesquisas de véspera, é um dado que não pode ser mensurado nos levantamentos, mas também é uma outra ameaça para o emedebista.
Em uma eleição surpreendente e repleta de lances inesperados, nem Marçal está fora do jogo e nem Nunes está no segundo turno. Diante do cenário de divisão do setor de direita e extrema direita, Boulos pode, em tese, respirar mais tranquilo. Somente uma desidratação acentuada de outros candidatos poderia colocar seu lugar no turno final em risco.
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