DIÁRIO DA CHINA

Cidade Proibida: de residência de imperadores a museu aberto ao povo

Um patrimônio cultural e histórico que preserva os símbolos da era dinástica e ostenta o ícone da revolução comunista

Créditos: Pablo Coppari - Eu na Cidade Proibida
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Nesta quarta-feira (21) eu visitei a Cidade Proibida, um dos maiores, mais bem conservados e suntuosos complexos do mundo. Foi residência de 24 imperadores das dinastias Ming e Qing e constituiu o centro do poder imperial da China durante 491 anos. Localizado no centro de Beijing, o luxuoso local tem 720 mil metros quadrados de superfície e 960 metros de comprimento.

Uma das entradas para a Cidade Proibida é o Portão de Tiananmen, ou da Paz Celestial, o mais próximo da praça que leva o mesmo nome. Foi neste local que o líder da Revolução de 1949, Mao Zedong, proclamou a República Popular da China, que no próximo dia 1o de outubro celebra o aniversário de 73 anos.

Pixabay

A imagem de Mao está em destaque no Portão da Paz Celestial junto com as frases "Viva a República Popular da China" e "Viva a unidade dos povos do mundo". Mais do que a fotografia de um líder, o retrato simboliza a ruptura com o regime dinástico e a ascensão do poder popular na China. O lugar que foi fechado para o povo ao longo de cinco séculos hoje funciona como um museu que pode ser visitado por todos. 

A Cidade Proibida foi fundada pelo imperador Yongle (1402-1424), terceiro soberano da dinastia Ming, que ascendeu ao trono depois de vários anos de luta. Ele era um dos 42 filhos do fundador da dinastia Ming, Hongwu, que expulsou os mongóis da China. 

Depois de uma disputa violenta que perdurou anos, quando ordenou que os palácios da família real na então capital imperial, Nanjing, fossem incendiados com os outros herdeiros no interior, ele ascendeu ao trono e autoproclamou-se imperador. 

O imperador Yongle ordenou a construção da nova residência imperial, a Cidade Proibida, em Beijing. A obra levou apenas 14 anos, entre 1406 e 1420, mobilizou cerca de um milhão de trabalhadores e usou as melhores madeiras e mármores disponíveis na China. 

Em 28 de outubro de 1420, a cidade foi oficialmente designada capital da dinastia Ming no mesmo ano em que a Cidade Proibida foi concluída. Desde que foi inaugurada sofreu, junto com os moradores, impactos de guerras, como a Segunda Guerra do Ópio (1860), a Revolta dos Boxers (1900) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e saques de invasores ingleses, franceses e japoneses. 

Em 1908, o último herdeiro da dinastia Qing, Pu Yi, foi proclamado imperador Xuantong aos três anos de idade. Em 1911 ocorreu a Revolução Chinesa e, em 1912, ele foi forçado a abdicar. O tratado de abdicação permitiu que ele continuasse morando em uma parte da Cidade Proibida. Em 1924 ele foi definitivamente removido da residência dos últimos 24 imperadores da China.

Em 1949, com a vitória da Guerra Popular de Libertação pelo Partido Comunista da China (PCCh) uma nova era começou no país. Ao longo de duas décadas foram apresentadas várias propostas para transformar a Cidade Proibida, símbolo máximo do poder imperial, para criar um parque público, uma interface de transportes ou lugares de entretenimento. 

Apesar de danos durante este período, como o desmantelamento do trono na Galeria da Harmonia do Meio, a remoção das tabuletas de edifícios e jardins, e a demolição de alguns portões e estruturas de menor importância, a Cidade Proibida sobreviveu. 

Em 1987, a Cidade Proibida foi tombada como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco. Atualmente, o Palácio Museu é responsável pela preservação e restauro do complexo. Em 2005, teve início um projeto de restauração que levou 16 anos e foi concluído em 2021 que reparou e restaurou todos os edifícios do local para o que eram antes de 1912.

Arquitetura

O desenho da Grande Residência Imperial responde a antigos princípios religiosos e mágicos: orientada de sul para norte e organizada em forma de quadrícula, a sua ordem pretendia refletir a harmonia do universo. No centro, encontrava-se o trono do imperador, intermediário entre o Céu e a Terra e destinatário da estrela Polar, em redor da qual giram todas as demais estrelas do firmamento. 

A Cidade Proibida está estruturada em volta do espaço central ocupado por três salas: a Sala da Preservação da Harmonia, a Sala da Harmonia Perfeita e a Sala da Harmonia Suprema, onde se encontra o trono imperial. Um rigoroso protocolo regulava o acesso aos diferentes espaços do recinto amuralhado, que estava vedado às pessoas comuns.

Segundo a tradição, a Cidade Proibida é formada por 9.999 casas, um número alegórico, já que o número 9 simboliza o supremo e a longevidade e o número 10 mil representa a totalidade.

Reprodução internet - Mapa da Cidade Proibida
  1. Porta do Meio-Dia. A Cidade Proibida tem quatro portas que se abrem aos quatro pontos cardeais. Esta tem uma altura de 35 metros.
  2. Muralha e fosso. O complexo imperial está rodeado por uma muralha de 12 metros de altura e por um fosso de 50 metros de largura.
  3. Aposentos dos eunucos. Com os Ming, os eunucos adquiriram uma influência crescente nos assuntos do Estado.
  4. Rio das Águas de Ouro. Segundo o seu estatuto ou função, os servos do imperador atravessavam-no por uma das suas cinco pontes.
  5. Porta da Harmonia Suprema. Dá acesso a um pátio de 30 mil m2, rodeado de duas galerias destinadas aos armazéns imperiais.
  6. Sala da Harmonia Suprema. O soberano presidia aqui às grandes festividades: o seu aniversário, a chegada do Ano Novo…
  7. Sala da Harmonia Perfeita. O imperador preparava aqui as orações rituais antes de realizar os sacrifícios anuais.
  8. Sala da Preservação da Harmonia. Acolhia actos como os exames de altos funcionários e os banquetes para dignitários estrangeiros.
  9. Porta da Paz Celestial. Dava acesso ao Palácio Exterior e ao Palácio Interior, residência oficial da família imperial.
  10. Palácio da Pureza Celestial. Albergava os quartos do imperador. No século xVIII, atribuiu-se-lhe um fim administrativo.
  11. Sala da União Celestial e Terrestre. Era o salão do trono da imperatriz, onde esta recebia as concubinas nas grandes celebrações anuais.
  12. Palácio da Tranquilidade Terrestre. Aqui encontravam-se os aposentos da imperatriz. Ela e o soberano passavam aqui a noite de núpcias.
  13. Jardim imperial. Com uma área de 7 mil m2, aqui erguem-se pavilhões, reservatórios, colinas artificiais, árvores exóticas…
  14. 14 Sala da Paz Imperial. Neste templo taoista, os últimos imperadores Ming exercitavam-se em artes como a alquimia ou a adivinhação.
  15. Porta do Poder Divino. Em frente dela, fora do recinto, está a Colina do Carvão, onde foi enforcado o último imperador Ming.
  16. Sala do Culto Mental. Os soberanos retiravam-se para aqui para se dedicarem ao estudo ou praticar a caligrafia e pintura.
  17. Seis Palácios Ocidentais e Seis Orientais. Nestes complexos, restaurados no século xIx, residiam as concubinas imperiais.
  18. Muralha dos Nove Dragões. Com 4 por 30m, está decorada com azulejos que representam nove dragões entre as ondas do mar.
  19. Palácio da Longevidade Serena. Construído no século XVIII, um muro preservava a intimidade dos soberanos.
  20. Palácio da Abstinência. Os soberanos refugiavam-se neste recinto para jejuar antes de celebrarem diversos ritos anuais.