TRÈS ENFANTIN

Marcelle Decothé não conhece o Brasil e sabota trabalho da Igualdade Racial

Assessora de Anielle Franco se comporta como torcedora do Flamengo e com postagens típicas de adolescente deslumbrada joga água no moinho da direita e compromete trabalho sério contra o racismo

Marcelle Decothé fez postagens contra a torcida do São Paulo.Créditos: reprodução/Linkedin
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O Brasil venceu a extrema direita nas últimas eleições. Aí está uma frase exagerada. Não foi o Brasil, foi uma parte do Brasil, apenas 51 por cento dos votantes. E a extrema direita continua viva, se articulando para voltar. Todo cuidado é pouco. E neste cenário, de país dividido é extremamente importante a criação do Ministério da Igualdade Racial. E mais, dirigido por uma mulher preta. E mais ainda, irmã de uma parlamentar assassinada, logicamente por pessoa de extrema direita.

Anielle Franco, a ministra, está sob a mira da direita. Todo erro que cometer será criticado e aumentado. Todo pingo será letra. Mesmo quando o erro não for erro. Ela tomou um avião da FAB para ira até São Paulo, na final da Copa do Brasil, assinar protocolos de combate ao racismo, juntamente com André Fufuca, ministro dos Esportes, Sílvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos, e Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.

Tudo correto, tudo dentro da Lei. Mas a direita não aceita uma ministra preta. Não aceita uma ministra preta usando avião oficial. Aliás, não aceita uma pessoa preta dentro do avião. A não ser para fazer a limpeza. André Fufuca, branco de bochechas rosadas, não foi criticado. Anielle, sim.

Em um quadro assim, de tanto preconceito envolvido, é preciso estar atento e forte. Não dar motivo a críticas, mesmo porque elas virão mesmo sem existir motivo. É uma luta diária contra a direita, não se pode dar armas a quem está sedento de vingança.

Marcelle Decothé, preta de nome francês, não parece pensar assim. É impossível que não tenha percebido que suas postagens nos stories não fossem usadas como arma de desestabilização do Ministério. E, se o uso do avião é perfeitamente normal, o uso de metáforas bobinhas e de preconceitos enraizados, não deveriam ser.

Ela disse que a torcida do São Paulo é "branca, tudo descendente de europeu safade. Tudo pauliste." Tanto desconhecimento. Colocar a torcida do São Paulo como um bastião de branquitude é tão imbecil e tão desconectado da realidade que assusta. Talvez ela tenha visto muitos e muitos brancos no Morumbi. Com certeza, a mesma proporção que havia no Maracanã na semana passada. Não é uma questão de não haver pretos torcendo para o São Paulo ou para o Flamengo. É apenas o reflexo de uma situação social e de concentração de renda que não permite aos pretos terem o mesmo poder aquisitivo. Afinal, a escravidão acabou há apenas 135 anos, um sopro na História.

Nossa, que blogueiro esperto, falou o que todo mundo sabe. Todo mundo, menos a Decothé, parece. Ah, e o que tem demais em ser pauliste? O Ministério da Igualdade Racial é de todos, dos paulistes também. Mas a Decothé deve saber de tudo isso. Ou deveria saber. Se não sabe, não deveria ocupar o cargo que ocupa. Se sabe, e mesmo assim se comporta como uma criança, precisa entender que está fazendo muito mal ao trabalho do Ministério e à luta contra a desigualdade no Brasil.

Tudo por uma boutade?
Très idiot.

 

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.