A vida na “nova” Ponta da Praia – Por Cidinha Santos
Como é (sobre)viver na “nova” Ponta da Praia; ou o “progresso” que não respeita a cidadania e sem planejamento que leve em consideração as pessoas. Em cinco atos:
1. Conviver com trânsito cada vez mais intenso, principalmente com o ir e vir de caminhões de concretagem que aguardam a vez de despejarem seu material nos diversos prédios de luxo, em construção.
2. Preparar os ouvidos e a vida cotidiana para iniciar o dia com barulho intenso de britadeiras e outros equipamentos no pátio de edificações das diversas torres que sobem a cada dia, agredindo os olhos de quem olha - dos nossos apartamentos avistamos trabalhadores que parecem formigas ao longe - e saber que esses espigões de 34 a 45 andares farão sombra onde você reside.
3. Agradecer à chegada do final de semana (após o meio dia de sábado) para ter o prazer de se satisfazer com o barulho “normal” da cidade. E ainda: torcer para que a vizinhança não ultrapasse os limites de decibéis no aparelho de som, que os eventos nos clubes próximos lembrem que existem pessoas que moram, trabalham e precisam descansar - muitas adoecidas.
4. Ter de aceitar o desembarcar dos veículos de aplicativos no lado oposto da travessia de pedestres (barca e lancha). Por isso, voltar e andar uma quadra, atravessar três vias, uma delas com a calçada tão estreita que parece que seremos levadas pelo movimento do ar do carro que passa. Foram privilegiados os veículos da travessia de balsa para Guarujá, e não as pessoas. Não pensaram num recuo de duas vagas, para embarque e desembarque, em frente ao embarque de passageiros, a exemplo do que fizeram próximo à Ponte Edgar Perdigão, ao Clube de Pesca para a Ilha das Palmas (para público restrito).
5. Precisar desviar das diversas canoas havaianas “estacionadas” na calçada com diferentes pisos – o que causa insegurança ao caminhar, sem qualquer sinalização tátil, desde o canal 6 até em frente aos clubes. As pouquíssimas árvores para nos brindar com o conforto térmico da sua sombra também é um exercício de paciência e privilégio para quem mora ou precisa estar na “nova” Ponta da Praia.
O progresso e a modernidade precisam estar aliados ao bem-estar e ao bem-viver. Afinal, o que pensamos sobre mobilidade?
*Cidinha Santos é jornalista e assessora de comunicação de movimentos sociais.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum.