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A crise climática empobrece a população mundial – Por Tainá de Paula

É urgente reconsiderar mudanças nos modelos econômicos vigentes, adotando medidas eficazes na redução de emissões de gases do efeito estufa

Créditos: Paulo Pinto/Agencia Brasil
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A emergência climática provoca, diretamente, grandes prejuízos, como as fortes chuvas que atingiram o Estado do Rio de Janeiro nos últimos dias, nas cidades de Petrópolis e Angra dos Reis, na Serra e na região dos Lagos, respectivamente, que fizeram os dois municípios decretarem situação de emergência, com prejuízos à população e também para as cidades em si.

A médio e longo prazos, os prejuízos podem se tornar perenes, é o que revela um estudo recente de pesquisadores australianos, que enfatiza a emergência em se combater o aquecimento global. Segundo o estudo, os modelos econômicos, principalmente no norte global, subestimam eventos como o El Niño e seus impactos na economia mundial. 

A pesquisa mostra que um aumento de 4°C na temperatura média mundial, em relação à média pré-industrial, pode reduzir a riqueza da população mundial em 40%, muito acima do das estimativas anteriores. Veja bem, se a temperatura de uma cidade ou país aumenta, pode-se incorrer em secas, afetando diretamente as plantações, elevando os preços dos alimentos e quem mais sofre com essa alta é a população vulnerável, que ficará ainda mais empobrecida. 

Além disso, outra implicação do aquecimento global é a desertificação de determinadas regiões, tornando os solos inférteis, com perda de recursos naturais, dificultando a agricultura e a geração de graves problemas socioambientais e econômicos para essas populações.

Porém, os modelos econômicos tradicionais, baseados no capitalismo, desconsideram que eventos climáticos extremos, como secas, elevação do nível do mar e grandes enchentes, podem desencadear uma crise global em cascata. 

É urgente reconsiderar mudanças nos modelos econômicos vigentes, adotando medidas eficazes na redução de emissões de gases do efeito estufa. Dentre essas mudanças podemos citar algumas que são de fácil assimilação como investimento em fontes de energias renováveis, como a solar, eólica e hidráulica, utilizar biocombustíveis e adotar tecnologias no transporte de cargas. 

No âmbito institucional, é preciso que os governos estimulem o uso do transporte público coletivo, reduzindo a frota de veículos nas ruas, destinação adequada de resíduos sólidos para reciclagem, criação de políticas públicas que incentivem a transição energética para as sustentáveis e limpas e a redução do desmatamento.

 A crise climática é uma situação internacional e que passa, necessariamente, pelas emissões do hemisfério Norte, com grandes poluentes e cabe ao Sul global apresentar soluções viáveis e o Brasil tem a oportunidade de se colocar como protagonista desse novo cenário. 

A COP30, que será realizada em Belém (PA) este ano, direciona os holofotes do mundo para o Brasil, nos colocando em situação privilegiada no que diz respeito às proposições de combate às emergências climáticas. Então, agora é o momento de o Brasil se postar como liderança mundial pelo enfrentamento às mudanças climáticas e na luta contra o empobrecimento da população mundial em decorrência da crise climática. 

Desde o discurso de posse de Lula, em 1º de janeiro de 2023, o Brasil usa de seu capital político para associar a crise climática às desigualdades e para enfrentar esses problemas em conjunto, especialmente quando centralizou o enfrentamento à fome e às mudanças climáticas em seu novo governo, passando pela Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, criada pela Presidência brasileira no G20, em 2024, e chegando na liderança do Brasil global para alterações profundas na arquitetura do sistema internacional, priorizando uma distribuição mais equânime dos recursos financeiros e, consequentemente, a redução das desigualdades globais.

*Tainá de Paula é arquiteta, urbanista e ativista das lutas urbanas. É especialista em Patrimônio Cultural pela Fundação Oswaldo Cruz e Mestre em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente é vereadora licenciada e Secretária Municipal de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de Janeiro.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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