Nas palavras do saudoso Chico Science, “enquanto o mundo explode” com a birra do presidente norte americano que não fez psicoteste, nem nunca fará, a reunião da cúpula do BRICS que acontecerá em julho desde ano no Rio de Janeiro bem que poderia marcar um momento histórico na economia global, né?
Era o que devia!
A iniciativa do pato Donald Trump em dificultar a vida dos países que buscam alternativas ao dólar impondo-lhes altas tarifas de importação pode surtir efeito inverso. Ele teme a criação da moeda BRICS, como disse em janeiro, e quer com o tarifaço impor aos países, aparentemente hostis nas palavras dele, o compromisso de negociar em dólar.
E por que o medo do BRICS?
O BRICS é um bloco politico e econômico, formado originalmente pelo Brasil, Rússia, Índia e China e que hoje aglutina 11 países membros, dentre eles a Arábia Saudita e o Irã, além de 9 parceiros que, juntos, representam 48,5% da população do planeta. O grupo responde por 43,6% da produção mundial de petróleo, 36% da produção de gás natural e 39% do PIB mundial.
Entre os países está a Rússia que sofre sanções comerciais dos EUA em resposta à sua posição sobre a Ucrânia e pode ter na moeda BRICS uma saída para as sanções. Só pra te lembrar o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, tem 2 razões: a expansão da OTAN com a adesão de países que circulam a Rússia e ameaçam as fronteiras de Putin. A Ucrânia vem tentando fazer parte da OTAN.
Outra razão é o interesse de Trump nos recursos minerais da Ucrânia, principalmente nos minerais críticos incluindo o chamados ETR – Elementos de terras raras, que eu vou explicar daqui a apouco. Os minerais críticos são essenciais para a tecnologia, defesa e transição energética, e a Ucrânia possui 22 dos 34 minerais considerados críticos pela UE.
Não é por outro motivo que, em meio a essa guerra, os EUA fecharam acordo com a Ucrânia para explorar seus recursos minerais, sob o argumento de a Ucrânia precisava compensar a ajuda financeira e militar que recebeu.
Outro país integrante do BRICS é a China que não se submeteu aos caprichos de Trump e impôs, como resposta a intimidação, tarifas de 125% aos produtos norte americanos e Trump já sentiu a pancada. Um estudo do Centro de Pesquisa Automotiva mostra que a tarifa de 25% para importações do setor pode custar às montadoras norte americanas US$ 108 bilhões até o final do ano. Analistas e executivos já falam em recessão e desemprego nos EUA. Não foi a toa que Trump mandou dizer nesta sexta, dia 11, que está otimista em um acordo com a China, enquanto ela, a China, ironiza dizendo que o tarifaço de Trump está prestes a se tornar “uma piada na história da economia mundial”.
Mas o que todo mundo esperava do plano caótico do trapo do Trump aconteceu e como canta Marisa Monte “aconteceu o que todo mundo via”, menos o rapaz do corte incrível fantasiado de dono do mundo. E quem bateu no ombro dele foi a Apple.
Na noite daquela mesma sexta-feira, o pato Donald mandou outro recado, pra dizer que smartphone, computadores e outros eletrônicos vindos da china não pagariam mais o tarifaço, POR ENQUANTO VIU?
Olhando assim fica parecendo que é pouca coisa, mas né não. Esses produtos chineses excluídos do tarifaço representam quase 25% do que os EUA importam da china e beneficiam americanas como a Apple, Dell e Nvidia.
E por que Donald recuou?
Minerais críticos.
Equipamentos eletrônicos, como celulares, precisam desses minerais incluindo os metais de terras raras que são 17 elementos químicos fundamentais em uma serie de produtos tecnológicos. 48% das reservas mundiais de terras raras estão na China, mas ela responde por 70 % da produção mundial desses elementos.
Em resumo, o BRICS tem 84% das reservas de terras raras e atualmente produz 72% da demanda mundial. O Brasil, apesar de produzir 0,03% da demanda mundial, tem a segunda maior reserva de terras raras, 23%, e a índia tem a terceira, com 7,5%.
Trump arregou porque nessa área os EUA não mandam nada.
É em meio a cenário geopolítico que a cúpula do BRICS se reúne nos dias 6 e 7 de julho no Rio, mas antes, uma outra reunião igualmente importante acontece em Brasília. É o 14º Fórum sindical BRICS, o encontro dos sindicatos nacionais dos países que compõem o BRICS que se organizam para integrar as decisões do bloco na disputa pela valorização do trabalho e a proteção dos trabalhadores.
Devemos ficar atentos às discussões, tanto no Fórum Sindical BRICS que acontece nos dias 23 e 24 de abril em Brasília quanto na reunião da cúpula que acontece em julho, porque as decisões tomadas nesses encontros afetará um importante membro do BRICS que é o Brasil no seu crescimento, no futuro da classe trabalhadora e no socioambiente brasileiro, mas também poderá ser o marco de uma nova era nas relações comerciais mundiais e de trabalho retirando os EUA, e o seu tio patinhas, do podium do poder, da soberba e da opressão.