UNIVERSO PARALELO

Fábio de Melo e a "adoção" de bebê reborn autista: a imbecilidade é instagramável

Com 26 milhões de seguidores no Instagram, Fábio de Melo retrata vale-tudo por likes que faz com que uma legião de seguidores se endivide por prestações de bonecas, jogos do tigrinho ou enviando pix para semideuses das redes sociais

Escrito em Opinião el
Jornalista, editor de Política da Fórum, especialista em comunicação e relações humanas.
Fábio de Melo e a "adoção" de bebê reborn autista: a imbecilidade é instagramável
Fabio de Melo com o "amigo" Richard, que lhe deu um bebê reborn autista, e celebrando o casamento de Sabrina Sato. Instagram / Reprodução de vídeo

Na biografia escrita pelo jornalista da Globo Rodrigo Alvarez, Fábio de Melo busca passar a imagem de "Humano Demais" - título do livro - para contar sobre a sua infância, de um "menino, oitavo de uma família muito pobre, que ia com a mãe numa empacotadeira de arroz comprar arroz de porcos para comer" em um tempo distante em Formiga, cidade de pouco mais de 60 mil habitantes no Sudeste de Minas Gerais, onde foi criado junto com os irmãos por Ana Maria de Melo, que morreu em 2021, aos 83 anos, na pandemia da Covid-19.

Anos depois, o hoje padre Fábio de Melo coleciona mais de 26 milhões de seguidores nas redes sociais onde mostra, bem longe do altar e das homilias, seu lado "humano demais" nesses tempos em que vale tudo para garantir likes e aumentar o engajamento, seja por mentiras, ódio, polêmicas ou entrando na melhor "trend" de todos os tempos da última semana - parafraseando o título do disco lançado em 2001 pelos Titãs, antevendo a sociedade do consumo imediato antes mesmo da criação do Orkut, o bebê das plataformas atuais.

Entre reflexões com a batina e a divulgação da agenda de shows, Fábio de Melo garante o like nosso de cada dia entrando nas trends que pululam nas redes. 

No início de abril, quando curtia uns dias de folga em Orlando, nos EUA - o paraíso da burguesia brasileira -, Fábio de Melo anunciou a "adoção" de uma boneca reborn com com síndrome de Down, em homenagem à sua mãe, a quem diz que presenteava com o tipo de brinquedo.

“A Daniela é a responsável pelos vistos e passaportes. Já está pronto o visto dela, já pode viajar para o Brasil, mesmo a mãe tentando impedir. Ela tem visto americano e tem até visto para entrar no Brasil, mas ela é americana”, anunciou nas redes sociais sobre a bebê "adotada", ganhando destaque em sites, como o da Globo.

Diante da repercussão - negativa, obviamente -, o padre divulgou um vídeo nas redes indignado para explicar a "brincadeira" e fazendo chacota com repórteres que o teriam procurado para que explicasse "como é adotar uma bebê reborn".

"Meu Jesus, Maria José eu não adotei nada", blasfemou - segundo a crença católica - o padre dizendo ter "respeito por quem tem essa fixação por bonecos". O religioso explicou aos seguidores, em vídeo replicado no TikTok, que tem "uma vida agitada" demais para adoção. "Meu pai, minhas únicas crianças são meus cachorros e olha lá, nem para eles estou tendo tempo".

Fábio de Melo, então, revela que "não sabe por que o mundo está assim que as pessoas gostam de criar assuntos" e explica que, na verdade, a "adoção" da boneca tratou-se de uma ação de marketing para um amigo.

"Objetos a gente compra! Eu não comprei boneca nenhuma. Eu ganhei do meu amigo Richard, que é dono da MacroBaby que vende esses bebês lá, e como vi que era um presente caro, num gesto de gratidão, quis retribuir fazendo uma propaganda da loja dele", se explicou o padre, em nova peça publicitária.

Além de Fábio de Melo, o empresário brasileiro Richard Harary tem na sua lista de "amigos" nomes como Virginia Fonseca, Alok, Claudia Leitte, Sabrina Sato, Deborah Secco, Xuxa e Ivete Sangalo, que são usados pelo empresário brasileiro que fez fortuna com a loja que vende enxovais - além de bebês reborn - à burguesia do país que faz compras em Miami.

Além do merchan positivo, Fábio de Melo usa as redes para reclamar aos 26 milhões de seguidores quando não é tratado "educadamente" em estabelecimentos comerciais onde não é reconhecido pela fama. 

Recentemente, o religioso provocou a demissão de Jair José Aguiar da Rosa que teria sido "extremamente deselegante" quando reclamou de uma divergência no preço do "doce de leite zero", que custa R$ 69, em uma franquia da cafeteria de luxo Havanna, em Joinville, Santa Catarina.

Dias depois de reclamar do trabalhador na rede social, o padre aparece em vídeo vazado da câmera de segurança que mostra que foi o homem que o acompanhava quem reclamou, como havia alegado o gerente demitido da loja, que em nenhum momento mostra-se deselegante com o padre influenciador que não reconhecera.

Além de inaugurar a era do desejo imediato, as redes sociais criaram um mundo imbecilizante, no sentido psiquiátrico do termo, que já foi usado para denotar uma categoria de pessoas com deficiência intelectual moderada a grave, bem como um tipo de criminoso.

Nesse universo imbecillus - palavra latina que significa pessoa de mente fraca e que dá origem a imbecil - influenciadores acreditam que a busca desenfreada por likes está acima do bem e do mal.

Em sua realidade paralela, gostam de ser tratados como sobre-humanos, semideuses, que são cultuados por legiões de imbecilizados que, muitas vezes sem instrução adequada, são tragados por prestações de bonecas que chegam a custar mais de 10 salários mínimos, pela ilusão de que se tornarão milionários como seus ídolos em jogos do Tigrinho, ou que farão parte de um levante para livrar o país do "comunismo", enviando pix para políticos que representam interesses dos endinheirados.

Na era do consumo imediato, Fábio de Mello se mostra "humano demais" e se alia a Virginia Fonseca, Jair Bolsonaro e outros tantos que colecionam likes, seguidores e fazem fortuna nas redes sociais como provas vivas de que a imbecilidade é instagramável.
 

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